sábado, 28 de abril de 2018

Acordar é ir além da programação e da crença de ser uma pessoa

Satsang é algo acontecendo dentro de você. Você não pode ler sobre Isso nas Escrituras, nem mesmo perguntar sobre Isso a alguém que realizou essa Coisa; a única forma é ver Isso diretamente.
A Verdade é uma coisa assim, não é algo que se descreve. Essa é a beleza da Verdade: ninguém pode descrevê-La para você! Esse encontro é algo muito precioso, porque não se trata de uma fala que se escuta ou palavras das Escrituras sendo repetidas, ou sendo lidas ‒ não é isso; é “a Experiência” do final de todas as experiências que a mente conhece. Então, Isso é algo que acontece dentro de você.
Não há como se aproximar Disso, de uma forma direta, através de um professor, de um ensino, de uma fala, ou de estudos de livros. Você tem que ir até Isso diretamente! Essa é a única forma. Você tem que permitir que Isso aconteça. Esse é o sentido da Meditação. Você vai direto a Isso, entra direto na experiência, mas, na verdade, ela é algo que acontece a você. Não dá para saber o que é Isso estudando livros, ouvindo professores. Isso é uma visitação do Desconhecido, e a única forma é permitir que Isso aconteça.
Eu estou sempre falando sobre a Verdade, mas nunca estou realmente falando sobre Ela. A palavra é essa, mas a palavra “verdade” não é a Verdade; é como as palavras Deus, meditação, iluminação, não-dualidade. Cada dia essas palavras se tornam mais e mais conhecidas. Todo dia surge um professor novo, porém, ele não vai poder lhe dar Isso, porque ele está somente repetindo palavras que já leu em algum lugar. Você só tem acesso a Isso de uma forma direta; essa é a única maneira Disso acontecer.
A palavra "Buda" significa "acordado" e, na Ásia, se usa muito essa palavra, mas sempre se referindo a uma figura histórica; no Oriente, é assim que acontece. No Ocidente, a palavra é "Cristo", também sempre se referindo a uma figura histórica. A palavra "Cristo" significa "ungido" ou "agraciado", "o bem-aventurado", o que, também, significa "acordado". Então, as palavras "Buda" e "Cristo" significam “Aquele que está Acordado”, e não se referem a essas figuras históricas, que viveram há dois mil e quinhentos anos e há dois mil anos, respectivamente. Isso é muito significante, carrega um significado; aqui a palavra é muito significativa.
Quando você se torna um Cristo, um Buda, Algo está presente, porém, não é um conhecimento novo, nem mesmo uma experiência nova. Quando a Verdade está presente, Isso está presente ‒ o Buda está presente, o Cristo está presente ‒, mas não a palavra. O que significa Acordar? Quando existe o Acordar, a Verdade está presente; não existe outra forma. Isso é algo que indica a direta presença da Verdade, e é o que eu chamei de “a Experiência”, que termina com todas as experiências. Você pode viver Isso agora, porque é algo dentro de você, como a Verdade oculta no seu Coração. Isso é bastante significativo, de grande significado, de grande relevância.
O homem vive sem consciência da Verdade, literalmente dormindo, então, não há o Acordar. A resposta está em Acordar! A resposta é Cristo, é Buda, é Ser. Se você viver neste momento, puder estar aqui neste momento… Aqui está a Verdade! A resposta tem estado sempre aqui, em seu Coração. Você me pergunta e eu digo para você: aqui está a Verdade!
Os homens vivem “dormindo”, em sono: vivem, trabalham, se movem; nascem e morrem. Não há Verdade em suas vidas, porque não há Vida quando se está “dormindo”. Por isso Cristo disse: “Eu Sou a ressurreição e a Vida”! A Verdade encontra você “dormindo”, “morto”. Quando não há Consciência, você está “morto”. Então, Cristo disse: “Eu ressuscito e dou Vida a você”! Em outras palavras: “Eu acabo com a sua inconsciência e o trago para a Verdade. Assim, eu o acordo, tiro você do sono, que é a morte”. É assim!
Você funciona como um robô, e um robô não está vivo; pode até parecer que sim, mas não está. A mente funciona aí como um robô. Você parece estar vivo, mas não está; não tem consciência, mas parece que tem, pois se movimenta, trabalha, fala. Você acha difícil programar um robô para fazer sexo? Se eles podem falar, trabalhar, por que não podem, também, transar? Nenhum problema. Eles podem ir ao banheiro, também. Qual o problema? A inteligência artificial é a expressão da mente, em sua inteligência limitada pelo conhecimento, que não é Inteligência, é apenas algo mecânico. Inteligência é algo novo, fresco, desconhecido. Não é algo mecânico, repetitivo, lógico. Soa muito estranho ouvir isso tudo?
Assim é a mente: mecânica, repetitiva, lógica, trabalhando dentro do conhecido. Não há Inteligência na mente. Nós chamamos a “pessoa” de um ser inteligente. Um Buda é Inteligente, mas não é uma “pessoa”. Um Cristo é Inteligente, mas não é uma “pessoa”. Se você é uma “pessoa”, não pode ser Inteligente, pois você funciona como uma máquina, todo programado; é um computador biológico. No computador, há uma energia elétrica, magnética, circulando, e no “computador biológico”, humano, tem o sangue circulando (é uma energia biológica, mas dá no mesmo), e você está muito apegado a esse medíocre e estúpido instrumento chamado corpo.
A mente é cega, como um morcego durante o dia. Vivemos entre “morcegos”! Você acredita que precisa de muita inteligência para pilotar um avião, mas é um ato mecânico, de pura programação cerebral e mecânica da estrutura corporal. Você pilota um carro e não é inteligente. O piloto de avião, também, não é inteligente porque pilota um avião; isso é uma coisa mecânica. Tem “morcegos” que pilotam carros de passeio, aviões, e, também, os que fazem cirurgias, mas todos estão “cegos”.
Não importa a capacidade que você tenha para uma função mecânica, ou que exija muito de sua capacidade cerebral, isso não é inteligência. Um piloto de uma grande companhia aérea esteve em alguns de nossos encontros, várias vezes, e ele estava infeliz, em tratamento, porque a namorada o tinha abandonado. Então, dentro de Satsang, ele era apenas mais um “morcego”, mais uma mente. Você tem alguma dúvida sobre isso?
Então, se você não realizou o seu Ser, está preso nos limites do pensamento, identificado com a mente e com esse personagem; você está “cego”. Você pode até voar, mas, como aqueles morcegos, está voando “cego”. Os morcegos, também, conseguem voar – eles são uma espécie de ratos com asas. A mente dá a você um tipo de “sono”, que é cegueira, que é inconsciência. Tudo o que você faz, faz com uma grande habilidade aparente, mas, na verdade, você é um “sonâmbulo” – um “sonâmbulo” casando, tendo filhos, exercendo uma profissão…
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 14 de Fevereiro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

A ilusão de uma identidade presente agora

A Consciência não está no tempo; a mente está. Tempo é sinônimo de mente, que são pensamentos. A Consciência é seu Estado Natural – na Índia, eles chamam isso de Liberação, Moksha, que é o Estado de Consciência autofulgente, resplandecente. É como quando você olha para o céu e vê a lua entre as nuvens… É ainda um amanhecer e o sol está começando a apontar, a brilhar no horizonte. A lua está lá, entre as nuvens, e o sol começa a brilhar, a se espalhar pela Terra. O sol vai subindo e a lua, que antes estava tão brilhante, vai empalidecendo… Você olha e se pergunta: “Onde está a lua?”. O brilho do sol é tão grande que a lua desaparece. Ela está lá, mas não faz mais nenhuma frente.
O Estado Natural é algo semelhante a isso. A mente está presente, com todas suas funções naturais: sentir, pensar, emocionar-se, raciocinar, deduzir, concluir, falar… No Estado Natural, a mente está presente com todas essas funções. Mas, como o “sol” está brilhando, a mente já não tem importância. O sol é a Consciência e a mente é a lua. Uma vez estabelecida essa Consciência, uma vez que o sol esteja em pleno meio-dia, a lua faz o trabalho dela sem tirar o brilho do sol. Então, a mente opera em suas funções naturais, mas não toma o lugar da Consciência. O Estado Natural é assim!
No estado não natural, que é o estado do homem comum, a lua está tentando tomar o lugar do sol, tentando fazer o trabalho dele. Então, a “lua”, quando tenta fazer isso, mistura suas funções naturais, que é raciocinar, concluir, deduzir, explicar, conhecer, experimentar… Ela pega isso e cria a ilusão de um experimentador controlando essas funções. Ela passa a assumir um controle que não é dela.
A mente tenta assumir o lugar da Consciência, “a lua tenta roubar o brilho do sol”. Ela não se contenta em apenas refletir o brilho do sol, ela quer roubá-lo totalmente. Ela quer ser um sol à parte, e esse é o sentido de separatividade; é isso que as escrituras chamam de queda de Satanás. Na Bíblia, no livro de Isaías, tem algumas palavras assim: “Subirei acima das mais altas nuvens e me tornarei semelhante ao Altíssimo!”. É toda uma linguagem figurada desse sentido de identidade no controle, sendo senhora de tudo. Isso produz a ilusão do espaço e do tempo para essa suposta entidade presente.
Então, a mente, que tem suas funções naturais (pensar, sentir, deduzir, concluir), em razão dessa ilusão da separatividade, cria o sentido de um “eu” na experiência “corpo-mente-mundo”. Aí, surge a ilusão do ego. A mente, em si, não é má. Pensar, sentir, concluir, deduzir, aprender, lembrar, esquecer, isso tudo é bem natural. Porém, quando está a serviço de uma suposta entidade presente nisso, a serviço de um “eu” separado, complica tudo! É aí que surge o Satã – Satan, em Hebraico, e Diabolus, no Grego!
A noção de tempo e espaço surge para essa “identidade”, não para a mente. Colocando de uma forma didática, nós chamamos isso de “mente egoica”, mas, a mente, em si, é somente a lua em um céu, onde o rei é o sol; a lua apenas reflete o brilho do sol, sem problemas. Ficou claro isso? Por isso que você me vê usar, às vezes, a expressão “mente”, referindo-me a essa mente egoica. Contudo, outras vezes, estou falando somente da mente e de suas funções naturais, não da mente egoica. Ou seja, você pode observar, nas falas, que eu faço esse intercâmbio entre mente e mente egoica. Assim como o corpo tem funções naturais, a mente também tem. O que chamo de mente, nessa “máquina” [corpo-mente], é essa operação inseparável do próprio corpo (fala-se “mente”, mas, na verdade, corpo é mente e mente é corpo). Aqui, estou me referindo às funções não-físicas da “máquina”, mais sutis, como o “sentir”, o “perceber”, o movimento do pensamento, a razão e assim por diante.
Agora, é espaço para o atemporal. Esse espaço para o atemporal é o “sol” em sua fulgência, em sua glória. Uma vez que essa Consciência esteja estabelecida nesse mecanismo, nesse organismo, a mente assume as funções naturais dela. O Agora, que não é o “agora-tempo”, mas o Agora atemporal, que é Consciência, assume o lugar Dele. Então, fica irrelevante o passado ou o futuro, já que essa suposta entidade não está mais presente. É possível lembrar-se do passado, como se lembra de um filme, mas sem aquelas antigas sensações do momento em que ele foi assistido.
Repare que, no momento em que está assistindo ao filme, você passa por várias sensações e sentimentos; as imagens e os sons causam impressões. Porém, depois, quando você se lembra do filme, você ri, porque é um filme que não causa mais nenhum impacto; não é mais “o filme”, é somente uma lembrança sem importância. Então, o passado é essa lembrança sem importância, que, na verdade, está acontecendo agora apenas como parte, também, de uma imaginação, porque não tem nada, de fato, acontecendo. Agora não!
Quando isso está resolvido, é visto assim. Porém, quando não está resolvido, o “filme” volta – que é o passado – ainda com toda aquela carga de impressões imaginárias, que são sentidas agora, aqui. Então, os traumas são assim. Não apenas eles, mas toda e qualquer lembrança egoica opera dessa mesma forma: é apenas uma imaginação aparecendo nesse momento e tomando uma impressão de realidade, porque ainda encontra uma reverberação nessa ilusão de uma “identidade” presente, ainda carregando o passado – que é somente memória, imaginação.
O ego é isso: a ilusão de uma identidade presente agora, aqui, sentindo um trauma, uma culpa, um remorso, um arrependimento (o que chamam de depressão). Ou, ele joga com a memória imaginativa de um futuro (o que chamam de ansiedade), mas é o mesmo processo. É sempre a imaginação de uma “identidade” agora, aqui, sentindo. Não tem nada aqui para sentir isso; há somente a ilusão de que você é real dentro do corpo, e que essa imaginação é sua, desse “alguém” que você acredita ser.
O Estado Natural é a Consciência deste instante, mas é uma Consciência Real. Não é a visão do momento presente; é a Consciência deste instante. Na Consciência deste instante, pode aparecer a memória de um passado, a imaginação de um futuro, mas isso é somente um acontecimento neste instante, como um pensamento, sem nenhuma validação, verdade – não altera em nada O que É.
Se aparece uma lembrança, ou uma imaginação, isso não tem importância. O pensamento nesse Estado Natural é como o feno no fogo forte, que, enquanto cai, já desaparece na chama. A mente do Sábio funciona assim: quando o pensamento aparece, ele já é consumido nessa Consciência. Então, não se estabelece o tempo, o passado ou o futuro. A Consciência é essa Presença agora!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em Setembro de 2016. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

A Verdade sobre quem você é

O que nós temos de singular nesta Realização é o fato de que não estamos diante de algo que possamos descrever de uma forma positiva. Nós podemos apontar para você aquilo que Isto não é, não aquilo que Isto é. Não é como apontar para um objeto e dizer: "Autorrealização é semelhante a isto". Autorrealização é sempre além daquilo que a mente pode descrever, explicar ou traduzir.
O foco de sua atenção está sempre direcionado a coisas, ideias, situações e pessoas, então, você nunca se encontra com você mesmo, você não traz este foco para si mesmo. Seu foco está sempre em ideias, que são pensamentos, objetos, experiências e percepções. Quando se está trabalhando esta Realização, é preciso se tornar consciente de sua própria existência, da importância de sua existência, trazer o seu foco para si mesmo. Todo o seu hábito, cultura e vício é de se voltar sempre para o exterior, para aquilo que é externo a você. Você está trabalhando para obter uma realização externa, para conseguir aquilo que está do lado de fora. Então, você não tem um foco em si mesmo, em seu próprio ser, em sua própria existência. É necessário ver como você funciona, observar os motivos e resultados de suas ações. Dessa forma, você pode ir além dessa prisão que você criou para si mesmo por pura inconsciência, por não saber quem você é.
Agora, observe como isso é interessante: sabendo o que você não é, você pode reconhecer a sua Real Natureza, a Verdade sobre si mesmo. Então, se você sabe, por essa investigação, que você não é os pensamentos, as experiências, as sensações e as realizações externas, você pode reconhecer sua Verdadeira Natureza. Essa é a forma dessa prisão — que você construiu em volta de si próprio de uma forma inadvertida, de uma forma inconsciente — desaparecer.
Você carrega sempre esse sentido de “Eu Sou”, mas ele está mergulhado nas experiências externas, nas experiências da mente, então, você perde a real pureza desse sentido. Assim, esse “Eu Sou” é apenas algo perdido dentro dessa prisão do experimentador, do pensador, do fazedor, o que é uma ilusão. Não existe nenhum experimentador, nem um “fazedor”, nem um pensador; aí está a ilusão! Então, quando você descobre que você não é isso, você está em contato direto com a verdade sobre a sua Natureza Real.
Não basta dizer: “Eu sou Consciência”, “Eu sou Deus”, “Eu sou a Presença Divina”. Isso também é mais um pensamento do pensador. Nós não estamos interessados nisso aqui, porque isso é mais uma ilusão, mais uma crença, mais uma ideia. Uma coisa é certa: o Real não é uma imaginação, não é uma crença, não é uma conclusão, não é uma ideia. Estamos vivendo um momento em que há muitas ideias sobre a Verdade sendo propagadas, o que é mais uma ilusão; isso ainda está dentro da prisão. Aqui, você não pode estar interessado em ideias! Se você está interessado em conhecimento, está no lugar errado.
O Real está além do conhecimento e da ignorância. É somente o intelecto que se interessa pelo conhecimento. O seu Ser não precisa saber, não precisa conhecer, não precisa aprender. Uma vez que você esteja claramente ciente disso, de que nenhum ensinamento pode lhe dizer algo sobre a Verdade, sobre o seu Ser, então você está pronto para ir além da prisão das teorias e crenças do conhecimento.
Isso o assusta de alguma forma? Tudo que você precisa é se livrar dessa tendência de buscar definições sobre quem você é; de tentar, ouvindo falas e lendo livros, ter uma ideia sobre Isso, o que seria só mais uma imaginação.
Uma peça de ouro coberta de poeira continua tendo o mesmo valor. A poeira, nessa peça de ouro, não ameaça em nada o seu valor e beleza. O que eu quero dizer com isso é que toda essa ilusão que você tem sobre si mesmo não diminui em nada a Verdade sobre quem você é. Toda essa ilusão, medo, miséria e sofrimento não diminuem a Verdade de Deus presente. Quando essa sua obsessão pela mente e pelo corpo desaparece, aí está você em sua Natureza Real, em seu Ser. Tudo que você precisa é se livrar dessas tendências de se confundir com uma mente e um corpo, de estar com o seu foco direcionado para o lado de fora, para as exterioridades. A diferença entre você e o sábio, é que este está ciente de seu Natural Estado, do seu Ser Natural, enquanto que você está se confundindo com a ilusão de um fazedor, de um pensador, de um experimentador.
Participante: Como tomar ciência Disso? Como que o ouro se livra de toda essa poeira?
Mestre Gualberto: Você descobre Isso estando determinado, sendo persistente, questionando diariamente, a toda hora. Este deve ser seu único propósito.
Você é como uma folha descendo o rio. Se você perde o propósito, essa folha se agarra a uma das margens e fica parada ali por algum tempo. Quando você se volta de novo para o propósito, a folha se solta da margem e continua descendo.
Em Satsang, diante de um Mestre vivo, você é como uma folha descendo rio abaixo. Esta folha até tenta parar em uma das margens, mas aí um volume maior de água vem e termina arrastando essa folha mais uma vez, soltando-a de novo da margem. Todas as vezes em que você tenta se manter no antigo modelo da mente egoica, vem um volume novo de água desse rio, que é o Guru, a Vida, a Presença Divina, e o arrasta de novo para dentro d’água. Todas as vezes em que você tenta se agarrar aos seus antigos medos, desejos, propósitos e realizações externas, um volume de água novamente solta você de uma dessas margens… Você tem que descer mais um pouco.
Esse fluir com o rio, com a Vida, com o Guru, significa aceitação, não resistência, rendição. Você descobre que não pode se agarrar a absolutamente nada, pois as coisas, as pessoas e os relacionamentos vêm e vão; as experiências vêm e vão. Se você ficar agarrado a uma dessas coisas, você ficará estancado, parado na margem do rio. Você descobre, diante da presença da Graça, que tudo isso são apenas nuvens: experiências, sensações, pensamentos, emoções, sentimentos, objetos, pessoas, lugares, realizações… Qualquer uma dessas coisas pode lhe prender! Esse é o antigo e velho pó; a antiga e velha poeira sobre a peça de ouro.
Assim, essa prisão que você construiu à sua própria volta, só pode ser destruída por uma profunda, honesta e determinada investigação dessa ilusão.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 14 de Março de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Um Grande Milagre

Satsang é um grande milagre! Ter o coração voltado para este encontro, para este momento, é um grande milagre! Na mente, você está sempre inquieto e infeliz, portanto, a oportunidade de investigar a natureza da Verdade sobre si mesmo é um grande milagre!
Você nunca tem dado atenção para si mesmo e, agora, tem essa oportunidade. Sua mente está sempre ligada a pessoas, ideias, coisas, imagens… Assim, essa oportunidade de dar atenção a si mesmo e abandonar a mente é um milagre! Observe como você funciona, quais são as suas reações, motivos, intenções, lembranças, memórias, imagens… Tudo isso está atrelado a situações externas, imaginárias, ligadas ao pensamento. É assim que a mente funciona. Esse não é o seu Estado Natural, Real; essa não é a Verdade sobre você. Na Índia, eles tem um nome para essa Verdade sobre você: Samadhi. Isso não é especificamente um estado, mas é o seu Ser, Aquilo que está fora de todos os estados conhecidos da mente. Nessas falas, eu chamo Isso de Meditação. Meditação é o seu Estado Natural.
A mente, que é aquilo que se ocupa com ideias, pessoas, coisas e imagens, é uma imaginária e fictícia prisão, a qual você construiu em volta de si mesmo. Enquanto você estiver preso nessa prisão imaginária, não estará em seu Ser, em seu Estado Natural. Uma coisa é certa: o Real não é imaginário, mas tudo que você pode viver na mente é. Então, essas coisas, pessoas, ideias, imagens e ocupações na mente são todas imaginárias. O que você precisa é ir além das tendências desse falso “eu”, que é a mente no movimento dela. Assim, é um verdadeiro milagre você estar aqui podendo investigar, inquirir, observar, duvidar desse movimento, que é o velho e conhecido movimento da mente.
Não existe nada peculiar nesse momento presente, pois ele não é, basicamente, diferente do passado ou do que o futuro irá apresentar. Entretanto, existe “algo” presente que está além desse presente momento, além do passado e do futuro. Essa é a Beleza, o Milagre, a Graça de Satsang! Estamos falando dessa Presença! Eu Sou sempre agora! Não se trata do que acontece. Coisas aconteceram no passado, estão acontecendo no presente e acontecerão no futuro, mas o que faz toda a diferença é que Eu Sou! Esse “Eu Sou” é essa Presença imutável, que não está ligada ao corpo, à mente, e nem aos acontecimentos no tempo. Então, o que faz este presente momento ser tão diferente? Obviamente, minha Presença, meu Ser, minha Natureza Verdadeira. Você precisa tomar ciência Disso, ou continuará no tempo, no presente, no passado, caminhando para o futuro, preso às situações, circunstâncias e acontecimentos, confundindo-se com o corpo e com a mente. Quando isso acontece, você fica preso nessa prisão imaginária da mente. O passado está nas recordações, memórias; o futuro, nas imaginações, desejos e sonhos; e, entre o passado e o futuro, está o medo presente, a ansiedade presente.
Portanto, esse presente momento fica assim, carregado com o passado (remorso, culpa arrependimento…) e com o futuro (desejo, sonho, imaginação…). Essa é a prisão desse personagem imaginário, desse falso “eu”. Então, você termina dando realidade a situações transitórias, como sentimentos, pensamentos, emoções, sensações e percepções. Tudo isso está atrelado ao corpo e às experiências da mente, não é Você, não é a Verdade sobre Você! Quanto mais você faz isso, mais fortalece a ilusão de ser uma entidade separada no tempo e no espaço, vivendo uma história humana. Dessa forma, você fica sempre preso a essa limitação de tempo e espaço — um tempo criado pela mente e um espaço criado pelas sensações e percepções dos sentidos; pela ideia de um corpo presente. Tudo isso é resultado da ignorância acerca da Verdade sobre si mesmo.
Não existe uma causa particular para os acontecimentos, tudo está apenas acontecendo. O particular é imaginário. A mente cria uma relação de causa e efeito na tentativa de explicar o que acontece para uma suposta entidade particular presente no tempo e no espaço. Na verdade, o tempo é irreal, o espaço é irreal, o particular é irreal e os acontecimentos também.
Então, nosso convite, em Satsang, é para que você vá além do que a mente está produzindo. Ela tem produzido isso tudo, toda essa noção de realidade, corpo, mente, mundo, tempo, espaço, pessoa, história… Essa é a ilusão dessa identidade separada. Assim, permaneça nessa gratidão interna por esse milagre chamado Satsang, pela oportunidade de estar presente nessa investigação.
Namastê.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 19 de Março de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Assim é a sua Natureza Real

Há um real e definitivo Estado Natural de Ser. Você não pode permanecer na ilusão quanto a isso, mesmo porque você nasceu para essa Realização. A Vida tem uma representação impessoal, ou seja, Ela não se importa com as ideias que você tem. A mente egoica, por natureza, vive se importando com todo e qualquer pensamento sobre o mundo externo ou o mundo interno. Dentro de sua busca de satisfação e preenchimento, ela faz isso, e é algo constante em todos.
A ilusão da impermanência de seu Estado Natural faz com que você se confunda, permanentemente, com aquilo que não é real, porque você não sabe nada a respeito de “quem você é”. Você tem uma ilusão sobre si mesmo muito ampla e forte: você se vê como um ser impermanente e completamente identificado com o que acontece externamente ou internamente. Estar confundido com isso é o que eu chamo de “identificação com a mente egoica”. Sim, há algo impermanente, mas isso não é real, não é Você em seu Ser, em sua Natureza Verdadeira.
Durante longos e longos anos, você tem se confundido com a mente egoica e, assim, tem se confundido com estados que vêm e vão; são assim seus estados internos e a sua representação externa desses estados. Então, você tem se confundido com emoções, pensamentos, sensações físicas e percepções sensoriais. Você acredita que isso é você, e, por já ter observado que isso é impermanente, que vem e vai, acha que este é o seu estado real.
Quando você vem a Satsang, eu o convido a ver que isso tudo é uma ilusão. Você está se confundindo com ilusórios estados que vêm e vão e, assim, está dando identidade ao que não tem ‒ esse é o sentido de dualidade, o tão badalado sentido de separação.
As sensações vêm e vão, assim como os pensamentos, as emoções, o corpo… É apenas nesse sentido que não há nada permanente nesse mundo. A impermanência é o sinal daquilo que aparece e desaparece; esse é o selo que marca todas as aparições. Enquanto você se mantém dessa forma, tomando isso como algo real para si mesmo, como sendo “você”, permanece na ilusão da dualidade, não importa o quanto você saiba falar e ensinar sobre isso, nem o quanto você fale sobre amor, paz, liberdade, felicidade e consciência.
A Autorrealização tem uma marca infalível, assim como a ilusão tem um selo que facilmente se pode identificar. Quando falamos de Autorrealização, estamos falando de Realização de Deus, de Consciência de Deus, de Consciência não dual, e Isso não é o que vem e vai. Assim, não podemos falar de Iluminação, ou Autorrealização, se essa “marca” (do aparecer e desaparecer) ainda está presente, e se você se identifica com estados que vêm e vão, ainda.
Como a mente é muito hábil em racionalizar, ela vai fazer isso. Se ela for uma mente educada, treinada, que estudou bastante tempo essa questão da Iluminação, que já assistiu a muitas falas, visitou muitos gurus, estudou muitos livros, assistiu a muitos vídeos, ela vai, infalivelmente, racionalizar, e, nesse momento, você poderá cair em uma armadilha ‒ a armadilha de estar “iluminado”, sem estar nada iluminado; de estar “realizado”, sem estar nada realizado.
Seu Estado Natural é imutável. Você é Consciência; essa é sua Natureza Verdadeira. Então, se você está entrando em estados que trazem esta “marca” de aparecer e desaparecer, é sinal de que você, ainda, está se confundindo com a mente egoica; nesse ou naquele aspecto, você está preso à ilusão, ainda. Então, é fundamental se investigar isso, e isso é algo que não pode ser feito intelectualmente. É necessária a rendição desse falso “eu”; é preciso soltar essa marca de identidade pessoal, que faz com que você esteja em um momento de uma forma e no momento seguinte de outra.
A diferença entre uma tela de cinema e os filmes que ali aparecem, é que esses vêm e vão, mas a tela continua a mesma; uma mesma tela para muitos filmes. Alguns filmes tratam de romantismo, outros de terror, suspense e assim por diante, mas a tela permanece a mesma. Assim é o seu Estado Natural, diferente dessas imagens que vêm e vão, porque seu Ser permanece imutável, intocável por qualquer experiência, sensação, emoção, pensamento.
Porém, se você está vivendo a experiência do pensamento, da sensação, da emoção, da percepção e está se embolando com isso, não adianta racionalizar, dizendo que “isso não é real, vem e vai”, embora seja um fato. Realmente, isso vem e vai, mas você, também, está indo e vindo com isso ‒ essa é a ilusão de “ser alguém” ‒, e é assim para todos. Então, se você se sente iluminado, esse é o teste de qualidade, é a prova de fogo. Se você é Real, então você é Isso o tempo todo ‒ é um Jivamukti, um Ser liberto em Vida (liberto dessas identificações, da ilusão do “experimentador”). Compreendem isso?
Eu comecei falando que a Vida não se importa com você, porque ela carrega a “marca” da impessoalidade, da naturalidade, da realidade, da imutabilidade. Tudo que aparece na Vida muda, mas a Vida, em Si, é O que É. Ela pode se expressar mudando, mas é, em Si mesma, imutável. Assim é a sua Natureza Real, a sua Identidade Real. É disso que tratamos, quando você vem a Satsang (que não é o que estão chamando de satsang por aí).
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em dezembro de 2017. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Enquanto você não descobrir o amor em si mesmo...

Viver é uma arte! Assumir responsabilidade sobre si mesmo e ser feliz é uma arte. Quando você é verdadeiramente feliz, não está preocupado com o mundo, com ninguém! Na verdade, ninguém quer compartilhar dessa sua Felicidade. Então, você assume Isso e Deus se encarrega de trazer para sua proximidade somente aqueles que estão dispostos a viver essa Felicidade, a descobrir o “perfume” que Você tem. Você tem que ser livre, independente! Você não pode ser carente, necessitado, ficar buscando apreciação, reconhecimento, amor, amizade, companheirismo, cumplicidade… Estar só é Felicidade!
Eu vejo pessoas sofrendo de solidão, mas elas não estão sós, pois estão acompanhadas internamente de carências, de desejo de apreciação, de pessoas… Elas não estão, definitivamente, sozinhas. Eu estou só! Somente estando só, você descobre o Amor em si mesmo, e o Amor é uma doação. Eu sou Amor e estou doando Amor. Quem está perto de mim não está me dando nada; não tem ninguém me dando nada! Eu estou só, já “morri”, já perdi tudo! Como vou sofrer de solidão? Entenda o que é estar só: estar só é Amor!
Então, quando você vê as pessoas sofrendo de solidão, elas estão sofrendo de imaginação, do desejo de serem alguém para alguém, de terem outros para si mesmas. Elas são carentes, estão buscando coisas para preenchê-las e fazem algo para serem preenchidas: assistem a filmes, vão a parques, a baladas, ao teatro, associam-se a clubes… tudo para não ficarem sós. Mesmo assim, elas estão sós, no meio da multidão, mas é um “só” cheio de gente, profundamente povoado de carências e necessidades psicológicas.
Você está só, de fato, quando está livre do ego, deste falso “eu”; livre do mundo, de coisas, pessoas e da necessidade de estar em lugares. Aí, sim, você está só, então a Existência inteira se derrama e diz: “Eu estou com Você”. Assim, Você está entre as plantas, entre os animais e as pessoas… Você está cercado do Universo inteiro e ele está dentro de Você. No ego, este “estar só” é estar isolado, cheio de preferências e escolhas, de imaginações, de supostas necessidades e de carências psicológicas.
Os nossos pais e avós morreram em solidão. O Sábio não morre em solidão; Ele morre só, não em solidão. Eu não vivo em solidão, mas estou só. Estar só é ver a Verdade na ilusão. Eu estou sempre falando de você. Você tem que descobrir Isso, a beleza que é estar só. Por que as pessoas se casam, têm filhos? Por que, depois dos filhos, elas começam a desejar netos, e, depois que tem netos, começam a desejar bisnetos? Por que isso? Porque elas querem estar preenchidas, continuar se preenchendo em suas imagens prediletas. Tem imagem mais predileta do que um filho, depois um neto e depois um bisneto? Tudo para não ficarem sós. Então, as pessoas se casam, buscam companhia… mas elas têm companhia, mesmo? Você acha que têm? Observe: quando você está acompanhado, está realmente acompanhado? O outro sabe o que se passa aí dentro e realmente se importa com você? O outro sente a sua dor de “ser alguém”? Assim, você está só, mas é um “só” em solidão, na multidão; é um “só” desejando muito, muitos. Então, não há Liberdade. Enquanto você não descobrir o Amor em si mesmo, jamais vai receber Isso do mundo externo, jamais vai descobrir Isso na multidão.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em novembro de 2017. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Conflito é sinal de resistência à Vida!

Todos os conflitos são sinais de resistência à Vida! Conflito na vida é resistência à Vida! A vida em conflito é sinal do “sentido de alguém” presente nesse experimentar. A vida, em si, não carrega conflito; a pessoa, em si, não vive sem conflito; a pessoa é esse “alguém” no experimentar.
Se não houver resistência, todas as vezes que você se deparar com a vida, não terá conflito. Quando não há resistência, não há conflito e, assim, Você é a Vida! Mas, todas as vezes que você se deparar com a vida e houver conflito, “você” será o conflito, nessa “vida pessoal”. Ou seja, o conflito é o sinal da presença da “pessoa”. Esse sentido de ser e ter, que é o que cria essa “minha mente”, esse “meu eu”, esse “mim mesmo”, é o sentido da vida que jamais deixa de carregar o conflito, porque “você” está lá, sempre resistindo ao que É, àquilo que acontece.
Nada está acontecendo pelo fato de você estar presente. O que parece estar acontecendo é a Vida se expressando, e Ela não é pessoal, não é a presença deste “você” que determina, controla ou muda as coisas que acontecem. A presença desse “você” é a resistência; é a ilusão de uma “vida pessoal” na Vida única, na única Realidade, que é a Vida como Ela É. A ciência ou a arte da Felicidade, que é viver sem conflito, é viver a Vida como Ela É. Isso significa uma profunda confiança naquilo que acontece, como sendo Deus acontecendo, a Verdade acontecendo. Isso significa não ser importante, não resistir, não ser pessoal, ou seja, não ser o “experimentador” nessa experiência que é a Vida.
Todas as vezes que você estiver sofrendo, será a ilusão de alguém presente batendo de frente ou confrontando com aquilo que a Vida manifesta, com aquilo que Ela É! Não há nenhum sofrimento, conflito e problema, quando não há resistência, que é quando não há o “eu”, essa mente egoica, esse movimento separatista que cria essa dualidade “eu e a vida”, “eu e aquilo que acontece". Nessa separação, você tem o conflito, porque tem a resistência. O que eu estou dizendo é que viver sem ego é muito simples! Viver no ego é que é complicado, porque viver dessa forma requer muita coisa.
Para ser feliz, basta Ser! Para ser infeliz, basta ter qualquer coisa: ideias, crenças, conclusões, opiniões, julgamentos, comparações, objetos, pessoas, resistência. Você não precisa de nada para ser feliz, porque essa é a sua Natureza como Ser. Agora, você precisa de qualquer coisa para ser infeliz, porque essa não é a sua Natureza como Ser. Ser infeliz é a natureza da mente dualista, ilusória, do “sentido de alguém” presente, sempre tentando ajustar, reformar, consertar, controlar, determinar.
Não é simples isso? Estar nessa separação entre “você” e o que vai acontecer é conflito. Isso é ser uma “pessoa”, o que é uma ilusão, porque não há “pessoa”; há somente um movimento de pensamentos, crenças, opiniões, julgamentos e desejos, com os quais você se confunde, se identifica. Assim, você passa a existir separadamente, para “ser alguém”, e, é claro, para sofrer ‒ o ego não pode viver sem isso.
É por isso que eu encontro poucos interessados no que tenho para compartilhar. Todos querem ser alguém, ter, alcançar ou realizar algo; todos querem resistir! É como se estivesse faltando alguma coisa, agora, para serem felizes! A mente egoica cria isso, essa ilusão dessa “pessoa” que precisa de algo.
No dia em que não houver mais aí essa imaturidade, esse posicionamento, que é baseado nesse desejo de ser, ter, fazer, poder realizar algo ou chegar a algum lugar, a Existência toda se derramará! Quando você não mais deseja, nada mais lhe falta. A Verdade é a única forma de você ser, verdadeiramente, milionário, multimilionário; você não deseja nada, porque nada lhe falta. A maneira de ser pobre e profundamente miserável é tendo desejo. Os pobres querem ser ricos, os ricos querem ser milionários, os milionários querem ser multimilionários. Todos são pobres!
Nessa resistência, a pobreza se mantém. A pobreza é essa miséria, essa alienação de sua Verdadeira Natureza, que é Riqueza, Plenitude, Completude, Felicidade. Essa alienação é a verdadeira pobreza, a qual está em cima da resistência. O que está faltando? Qualquer coisa que esteja faltando torna você miserável… qualquer coisa! Não importa o quanto você é milionário ou bilionário, se tem algo faltando, você continua pobre, um pedinte. Porém, se você não tem desejo, você é um Príncipe, um Rei!
Depois que Buda deixou os seus três palácios e toda a sua riqueza, que o tornava miserável, ele passou a andar como um Rei. Depois que ele abriu mão de tudo e não era mais rei, não tinha mais os palácios, nem o reconhecimento público, tornou-se um verdadeiro Rei. Quando Acordou, foi além do desejo, e, então, passou a andar e viver como Rei. Ramana Maharshi também viveu como um Rei!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Fortaleza, em Setembro de 2016. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

O Conhecimento Real é vivencial

Estamos diante de algo do qual nada pode ser falado. Satsang é algo surpreendentemente inexplicável. A Verdade É ‒ é simplesmente assim. Nada pode ser dito sobre Isso. Então, esse encontro é um momento sem explicações; é um momento de revelação da Verdade, do Silêncio. Essa é a grandeza, a simplicidade e a singularidade de Satsang. Pode parecer muito estranho o que você escuta aqui, mas posso lhe garantir que, quanto mais você tenta conhecer sobre a Verdade, mais se distancia Dela, mais você fica dentro desse “sono”.
Esse é o momento de viver essa Presença, senti-La, ter a Sua revelação, e não a explicação sobre Ela. Eu não sou um filósofo, um professor ou um pregador que você está ouvindo. Não existe nenhum caminho, nenhuma fórmula, nenhum método ou sistema para você conhecer Isso, para que Isso se revele a você. É possível você desaparecer Nisso, mas não “você” compreender Isso. Em outras palavras, Isso não é algo objetivo, que “você”, como um sujeito, pode conhecer. Você não pode segurar Isso em suas mãos e dizer: “Eu apanhei isso! Tenho isso aqui comigo, agora é meu!” ‒ isso não é possível!
Se você for a um professor de Advaita-Vedanta, ele lhe dará explicações, falará da natureza não dual da Existência, da natureza da Verdade… Então, ele lhe dirá que tudo já é o que é, que a Verdade é algo que está presente e que a sua verdadeira natureza é essa Verdade. Enfim, ele vai lhe dizer bastante coisa, dará a você muitas explicações, e, dessa forma, você terminará aprendendo sobre isso.
Aqui, nesses encontros, o que você faz é investigar a natureza da Verdade sobre si mesmo; não se trata de ter um conhecimento sobre Isso. Esse tipo de conhecimento é, também, parte da ignorância, porque é algo meramente teórico; são apenas palavras acumuladas, com as quais você cria um novo conhecimento. Na realidade, Consciência é Conhecimento, mas é um outro tipo de conhecimento. Não é o conhecimento de palavras, é o Conhecimento de Ser. Esse é o real Conhecimento da Verdade, o puro Conhecimento, que é Ser, Consciência, o qual não se trata de um conhecimento verbal, intelectual. Assim, você pode conhecer palavras, como: amor, verdade ou liberdade. Contudo, conhecer a palavra amor não significa conhecer o Amor; conhecer a palavra verdade não significa conhecer a Verdade; conhecer a palavra liberdade não significa conhecer a Liberdade, assim como conhecer a palavra Deus não significa conhecer Deus. Portanto, a palavra não é a coisa em si.
A Verdade é existencial, enquanto que o conhecimento da mente é não existencial, é verbal, teórico, conceitual. Então, aquilo que a mente conhece como verdade, liberdade, Deus e amor são somente palavras. Assim, ou você é Isso ou você fala sobre Isso. Percebem a diferença? Se você é Isso, então não é um professor, não é alguém que está falando sobre isso ‒ você está vivendo Isso! Se você é um professor, está apenas falando sobre Isso. Então, essa é a diferença clara entre o Sábio e o filósofo; entre Ser e meramente conhecer.
Quando há Amor, não há necessidade de palavras, como: “Eu amo você”. Quando há Verdade, não existe necessidade de explicações longas, lógicas, conceituais sobre Isso. A Verdade pode ser sentida, vivenciada; não pode ser conhecida, nem explicada. Na verdade, é possível se explicar a Verdade, mas assim Ela é destruída, já não está lá, porque Ela não está nas explicações, na fala. Quando eu digo que você pode sentir Isso, viver Isso, quero dizer que você pode estar presente Nisso, que Isso está presente em você, sendo Você! O que temos nesses encontros, como nos retiros, é a oportunidade de estar nesse direto “sentir”, de puramente Ser ‒ Isso é a Verdade, é o Amor, é a Liberdade! Isso é Deus!
Esse é o verdadeiro trabalho da Realização. Você não pode examinar Isso como algo que está do lado de fora. Esse “sentir” é o único Conhecimento possível, pois você não pode examinar Isso, que está somente dentro, como se fosse algo externo, do lado de fora. Esse “sentir”, esse Ser, é o único Conhecimento possível, o qual chamo de Conhecimento Real, que é Consciência. Então, esse Conhecimento Real, que é Ser, é a Sabedoria! O conhecimento que é entendimento e compreensão de palavras é pura ignorância, mas não é a bela Ignorância do Sábio; isso é mero intelectualismo e entendimento verbal, teórico. Então, esse conhecimento é verdadeira ignorância, e isso não representa Realização, porque não representa Consciência.
Quando há Consciência, o verdadeiro Conhecimento está presente, e, então, a Verdade não pode ser ignorada. Nesse sentido, conhecer Deus é Ser Deus, pois não se trata de aprender sobre Deus. Também, não se trata de aprender sobre o Amor, a Verdade, a Liberdade, mas, sim, de ser esse Amor, essa Liberdade, essa Verdade. A Verdade está nesse Silêncio, nessa Consciência, nesse Amor, nessa Liberdade; não está nessas palavras.
Então, essa vivência é Consciência, algo que acontece dentro de você. Você não vai ouvir, ler, nem aprender sobre Isso. Há somente uma forma direta de vivenciar Isso, que é através da devoção e pelo Despertar na autoinvestigação — a autoinvestigação traz o Despertar dessa vivência direta e a devoção é aquilo que torna isso possível. Você não pode ler Isso nas escrituras, nem pode ouvir de alguém.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 5 de Fevereiro de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Você não sabe nada sobre quem você é

Você não sabe nada sobre quem você é. O que você tem sobre si são crenças e elas não ajudam em nada, pelo contrário, só fortalecem o sentido de “alguém”. Por isso que não dá certo trabalhar esse Despertar sozinho; não tem nenhum trabalho sozinho! Você pode ler sobre Isso, ouvir um professor e até aprender essa coisa toda, mas isso não constitui um trabalho. O trabalho, sempre, é da Graça, desse Amor de Deus.
O que dissolve isso que aí está, é a verdade de que isso não está aí. Você se vê como uma egoidentidade, mas Deus não o vê assim. Você se vê como um pecador, um sofredor, uma “pessoa”, “alguém”, porém, a Consciência, a Graça, o Guru, não vê você assim.
Quando as pessoas iam até Cristo, ao Mestre, e apresentavam-lhe uma enfermidade, Ele as curava e lhes dizia: “Vá em paz e não se equivoque mais. Não peque novamente. Não se confunda mais com o corpo”. Ou seja, não se confunda com o experimentador na experiência do pecado. Ele não estava dando realidade ao pecado ou ao pecador; estava dizendo: não se confunda mais com isso.
Então, o que eu tenho a dizer a vocês todos é: relaxem… As coisas acontecem, mas, também, deixam de acontecer. O que não está sempre aí não pode aterrorizar você, não pode assustá-lo. Aquilo que é real está sempre aí e mantém-se como a Verdade, não é atingido jamais por qualquer coisa, porque não tem outra coisa a não ser a Verdade presente! Percebem a beleza da Realização de Deus, da Iluminação, do Despertar, ou como você queira chamar Isso.
Dá para acompanhar o que estou dizendo?
Eu não estou negando o que você sente aí. Não estou negando a sua experiência; estou dizendo: entre fundo nela! Descubra o que é que está por trás dessa, assim chamada, “experiência”. Assim, você vai descobrir que o fundo, o cerne, o coração dessa experiência é sem essa “pessoa” aí, sem um experimentador. Então, o fundo da experiência da dor é Amor. Por trás da mais profunda dor, decepção, frustração, não existe nenhuma dor, decepção ou frustração. Não tem “alguém” lá; não há experimentação na experiência. Isso quebra esse modelo de repetição, porque não há mais a crença na continuidade de uma falsa identidade no prazer — que, na verdade, é dor — de viver e repetir, vez após vez, o mesmo problema. Então, há um rompimento, uma quebra, uma solução de continuidade, um fim para isso, e isso não é trabalho seu.
Eu não estou lhes trazendo informações que vocês já adquiriram lendo livros advaitas, neoadvaitas, o Curso em Milagres, ou outras coisas. Ao me ouvir no coração, vocês verão que estou apontando para algo fora do conceito, da teoria. Portanto, basta ouvir; não capture e transforme isso em mais uma informação, em um conhecimento, porque, dessa forma, você ainda estaria dentro da dualidade, mas agora acreditando numa nova coisa.
O seu real escutar também está dentro do desconhecido. É somente o conhecido que reconhece palavras. Sempre que abro a boca é para dizer algo que está fora das palavras. Nesse momento, se você desiste, você se permite a cura. Contudo, o ego é muito ansioso, é parte do jogo dele querer a “Coisa”, e é por isso que ele se torna um especialista.
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro presencial na cidade de Fortaleza, em Dezembro de 2017. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Eu não consigo parar de pensar, então, como posso ir além da mente?

A proposta, nesse trabalho, é ir além da mente, embora haja uma grande confusão sobre o que isso significa realmente. Existe, por exemplo, a preocupação com a necessidade de parar de pensar, porque, para muitos, ir além da mente é isso. Então, existe sempre aquela pergunta: “Eu não consigo parar de pensar, então, como posso ir além da mente?” Essa é uma dúvida muito comum. Na realidade, esse pensar não pode ser parado. Compreendam: não é que esse movimento não possa parar, ele não pode “ser parado”. Percebam a diferença.
Então, essa preocupação de fazer parar o pensamento, é uma preocupação do próprio pensamento; percebam a clara diferença disso. Realização é o seu Estado Natural, além da mente, portanto, além do pensamento, mas você não pode parar o pensamento ‒ isso é algo que precisa ficar muito claro para você, dentro desse trabalho. Você pode tocar em algo bastante importante, estando nesse trabalho, se compreender que a mente pode parar, mas você não pode pará-la; que o pensamento pode parar, mas você não pode pará-lo. Ou seja, é possível estar além da mente, nesta não-mente, e isso acontece quando não há mais esse movimento do pensamento; é muito sutil essa diferença. Quando não há mais o pensar, a não-mente está. Porém, você não chega a essa não-mente parando de pensar, pois não é um trabalho da mente acabar com a própria mente, destruí-la.
Muitos estão tentando isso, por exemplo, em todo tipo de prática de meditação, mas, na verdade, por detrás dessa prática está a mente tentando destruir a “mente”. Ramana chamava isso de “o ladrão, vestido de policial, tentando capturar o ladrão”. Então, eu quero tranquilizar você sobre essa questão de tentar parar a mente: não faça qualquer esforço para parar o pensamento, pois isso é um esforço da própria mente, do próprio ego. Não é necessário praticar nenhuma ação contra a mente, porque isso seria a mente lutando contra ela mesma; você dividindo a mente em duas (uma é o “policial” e a outra é o “ladrão”).
Não tente parar a mente! A única coisa que você pode fazer é ficar quieto e observar! Isso não requer nenhum esforço e é algo muito simples: você apenas para e observa, e deixa a mente maluca solta; não faça nada contra a mente, nem faça nada a favor dela. Não fique a favor nem contra a maluquice que se passar na sua cabeça, pois tudo são pensamentos, e eles não são seus; nem a cabeça é sua, ela é do corpo. A cabeça pertence ao corpo e os pensamentos pertencem à mente, porém, você é essa Consciência, onde surgem o corpo, com a cabeça, e a mente, com os pensamentos.
Eu sei muito bem qual é o problema que acontece com você e vou lhe contar agora. Você já decidiu que existe algo errado com a mente e, então, ficou contra ela, tornou-se inimigo dela. Entretanto, foi aí que você foi capturado pela própria mente. Então, às vezes você diz “Eu não suporto mais esses pensamentos”, como se esse estado não fosse o próprio pensamento “nervoso” dizendo isso. Mas, quem está dizendo isso? Assim, a mente se separa e ela, agora, quer matar a “mente”, e você fica nesse jogo ‒ essa é a dualidade, em que há uma separação: um pensamento querendo matar outro; um sentimento querendo destruir outro.
Realização é fruto da Consciência! Na Consciência não há separação, dualidade, nem há mente. Então, nesse Estado, você apenas assiste à mente, e não há nada errado com ela. Às vezes, pela manhã, você olha para o céu, o vê cheio de nuvens, mas não diz que tem alguma coisa errada com ele; não reclama do céu porque ele está cheio de nuvens. Você não diz: “Eu quero que essas nuvens todas desapareçam, para ficar somente o céu azul”. Os pensamentos são como as nuvens que, às vezes, aparecem no céu, nesse “céu” que é a Consciência, e, quando você apenas fica quieto e observa, essa observação é como um vento suave, que começa a varrer o céu e as nuvens começam a se dissipar.
Então, reparem no que eu disse: o pensamento pode desaparecer, parar, mas você não pode fazê-lo desaparecer, parar. Não é o seu esforço que vai fazer isso, porque esse esforço ainda é o pensamento “nervoso”, é o movimento do próprio pensamento. Estou lhe falando sobre a arte de permanecer desidentificado da mente, deixar a mente e sua maluquice desaparecerem naturalmente, sem esforço. Olhe com profunda reverência, não seja um lutador. Apenas assista! Permaneça destacado, desidentificado, distante, apenas observando. A boa notícia é que, quanto mais profundamente você observa, mais profunda é a sua Consciência; o “céu” fica limpo e o “sol” brilhando, maravilhoso! Essa é a forma de lidar com a mente e, então, toda a Vida se torna transparente, sendo Ela a própria Consciência!
*Transcrito a partir de uma fala em um encontro online na noite de 07 de Março de 2018 – Encontros online todas as segundas, quartas e sextas às 22h (exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app Paltalk e instruções de como participar, clique aqui.

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