domingo, 7 de janeiro de 2018

O que a honesta investigação lhe revela sobre o corpo?

A Verdade está nesta base: toda a noção de tempo aparece na mente. Quando não há mente, não há tempo. Abandone toda noção do “eu” e, então, não haverá mais tempo. Quando não há tempo, não há problema.
Por que você precisa do tempo? Eu não preciso do tempo porque ele não é importante para mim. Que dia é hoje? Não sei... Todos os dias são iguais para mim – domingo, sábado, etc.
Para você, qual a diferença entre as letras do alfabeto? Qual a diferença entre a, b, c...? Isso faz alguma diferença para você, na sua vida? Em uma palavra você usa a letra “a” e numa outra você usa a letra “z”. Mas que diferença isso faz? Isso muda alguma coisa para você? Existe alguma diferença emocional ou psicológica para você? Isso provoca alguma dor em você? Ou você se sente especial quando a palavra pede a letra “a” e você coloca a letra “a”? Aí você se sente especial. É assim? Não!
É assim que o sábio lida com o que acontece: não faz a menor diferença para ele! Isso não o torna importante, não o torna inteligente, também não o torna estúpido, nem infeliz... Tudo só acontece, e não tem nada a ver com ele. Tudo só acontece, e não tem nada a ver com Você em seu Estado Natural!
No entanto, você tem que buscar no pensamento a informação do tempo. O tempo é só uma convenção que o intelecto criou. Ele dá nome aos dias, às horas... bobagem. É só uma convenção, não é uma realidade empírica que se pode tocar e provar.
Tempo e espaço são uma prisão. Repare que você está preso quando carrega a noção de que tem hora para pegar o voo porque o avião pode sair sem você, hora de atender o paciente porque ele vai ficar sem a consulta dele e você vai ficar sem o seu dinheiro. Sempre quando entra o tempo, entra a prisão. Sim ou não? Pense em algum momento em que o tempo está presente sem prisão. Não existe. Até mesmo para chegar nesse salão tem hora. Você está tão bem em ser o que é, mas tem que subir estas escadas na hora marcada... Para que tudo isso?
Tudo o que a mente produziu é um misto de conforto e desconforto para ela. Você está sentando agora; sentar-se é algo muito confortável, num sofá, numa cadeira, num banco. Mas é confortável por quanto tempo? A mesma cadeira que o faz se sentir confortável, daí a pouco começa a dar-lhe dor nas costas. O tempo cria o conforto e o desconforto. Os objetos que a mente produz criam conforto e desconforto. Tudo isso é prisão.
Olhe para o seu corpo: é delicioso tomar um sorvete, comer um pedaço de bolo... é delicioso na boca, mas quando chega no estômago, aquele bolo produz gases que ficam presos e, então, você sente dor. Oh! O bolo estava tão bom mas o efeito do bolo não está nada bom! O corpo é assim, na boca o prazer, no estômago... (risos) O corpo é uma prisão, é uma construção do pensamento também. Há um intervalo entre o prazer do bolo na boca e o efeito dele no estômago. Há um intervalo, olhe o tempo... O que você vai fazer com isso? Você tem que ir além do corpo, você tem que ir além do tempo, além dos objetos que estão lhe dando prazer e dor.
Não existe nada na sua vida, tanto externa quanto internamente ao corpo, que seja Felicidade. Tudo é tão efêmero, tão passageiro e tão miserável enquanto dura, que no fundo, no fundo, investigando matematicamente, há mais dor do que prazer. O marido, por exemplo, dá prazer mas dá infelicidade também. Os filhos dão alegria e tristeza ao mesmo tempo. Uma namorada, um namorado... Estou certo ou estou errado?
Enquanto a mente se mantém presente, mesmo o momento de prazer está cheio de dor. Se você for honesto nesta investigação, perceberá o quanto de miséria, medo, dependência, posse, desejo, existe no prazer. Não existe nada que o torne mais miserável do que necessitar de algo ou de alguém para sentir prazer, para encontrar prazer...
Agora vocês sabem porque pessoas não querem me ouvir! (risos)
*Transcrito a partir de uma fala em um retiro de 15 dias na cidade de Campos do Jordão, no Ramanashram Gualberto, em Outubro de 2017. Acesse a nossa agenda e se programa para estar conosco: http://mestregualberto.com/agenda/agenda-satsang.

2 comentários:

  1. Nem é tão difícil assim perceber essa nossa condição miserável.Só o fato dessa percepção de que nada permanece, o que realmente temos que possamos ter a garantia de que isso vá se manter? Isso por si só é muito constrangedor.
    Por isso mesmo, temos que nos agarrar a lembranças,para que possamos repetir aquilo que foi tão bom, mas que agora já se foi.
    Existe inteligência nisso? Tentar repetir um sorvete, movido pela lembrança do que foi aquilo, já não será a mesma coisa.
    O sorvete era uma experiência divina, mas agora... Com o sexo é assim, e com tudo aquilo onde o experimentador esteve presente.
    Não é por acaso que a vida acaba se tornando tão chata e entediante, a ponto de você não querer correr mais atrás de novas experiências. Melhor deixar tudo como está.
    Nos foi passado que a vida pode ser um grande oba,oba, mas não é bem assim. Aliás, não é nada disso que idealizamos.

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  2. Quanto maior for o prazer de uma experiência,o contraste miserável que virá à seguir. O desejo pela repetição causará isso, e ficaremos a ver navios. Nunca mais! Isso é sentir na pele, a miséria do descontentamento.
    A pergunta que fica é: existe seres humanos realizados?

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