terça-feira, 8 de agosto de 2017

A ilusão do controle

A mente tem a ilusão de que pode controlar as coisas. Um dia, Ramana Maharshi fez uma observação para Annamalai Swami. Ele disse: “As pessoas vêm aqui, fazem a sua saudação e ficam aqui por um tempo. Mas, no tempo que passam aqui, elas agem como se estivessem dentro de um reino, no qual elas se sentem reis. Elas esquecem por que motivo estão aqui e querem agir como se fossem verdadeiros reis, como se tudo aqui existisse para servi-las. Elas querem mandar, então dizem: ‘Vamos fazer assim… Vamos resolver isso, fazer aquilo’. Depois, olham para mim e dizem: ‘Bem que o Mestre poderia fazer isso ou aquilo; poderia sair pelo mundo levando a sua mensagem’. As pessoas esquecem por que estão aqui; elas querem reformar o Ashram e querem que eu mude!”.
Uma coisa que eu acho interessante, para você observar, é a necessidade ilusória que a mente tem de que as coisas aconteçam do jeito que ela quer. Você carrega essa ilusão na mente, mas precisa observar isso. Para você, a felicidade virá quando as coisas acontecerem como você espera que elas aconteçam. Quer seja aqui dentro ou lá fora, você sempre vai querer alguma coisa da vida.
O que os Sábios sabem, que é tão simples? É que a vida se move do jeito dela. Em alguns momentos, ela vai lhe oferecer sofrimento, o que, na verdade, é só um movimento dela. A vida não se importa com você! Você não é importante para ela! Ela acontece como tem de acontecer, mas você interpreta isso como sofrimento. Em alguns momentos, você percebe que a vida lhe oferta sofrimento, mas essa é a sua falsa interpretação do que acontece. Em outros momentos, ela oferece satisfação, prazer e preenchimento, o que, também, é uma falsa interpretação daquilo que acontece – é um modo particular, pessoal, de ver o que acontece.
Enquanto estiver esperando da vida alguma coisa, você jamais será feliz, jamais conhecerá a Felicidade, porque o conceito de felicidade que se tem é o de satisfação e prazer, que se realiza e conquista naquilo que acontece, naquilo que se apresenta. Mas, nem sempre é assim, porque nem sempre a vida corresponde às suas expectativas. Boa parte das vezes (para não dizer na maioria das vezes), exatamente porque você não existe – embora se sinta tão importante nessa crença – a vida vai surpreender você negativamente.
Por mais que alguém diga que o Universo está conspirando a seu favor – o que soa muito bonito e romântico – isso é somente uma ficção; é uma dessas frases que a imaginação criou e por detrás dela, você se esconde, ouvindo falas sobre positivismo, adquirindo essa coisa tão infantil que são os ensinamentos sobre autoajuda. É próprio da mente, em sua ingenuidade, buscar ser ensinada, e ela busca isso nos ensinos de como ajudar a si mesma para ter sucesso, realizar-se, concretizar algum objetivo, alvo, para sentir-se bem com ela mesma e, depois, jamais chamar isso de felicidade.
Você nunca tem um lado da moeda sem ter o outro. A natureza da mente é dual – nunca haverá o bem sem o mal, o certo sem o errado, a felicidade sem a infelicidade, o prazer sem a dor. Então, você não pode esperar do mundo externo alguma coisa, ou pode esperar qualquer coisa, mas não uma coisa positiva e definitiva, como a felicidade permanente, o sucesso permanente… O sucesso de hoje é o fracasso de amanhã; o prazer de hoje é a dor de amanhã; a felicidade de hoje é a infelicidade de amanhã.
A Felicidade Real não vem da vida, não é uma coisa chegando até você. A Felicidade Real é um transbordamento do seu Ser! Não é algo que chega, é algo que sai; não é algo que vem, é algo que vai daqui para lá… Não vem de lá para cá. A mente quer fazer a coisa certa, mas quer a “sua” coisa certa, que não é tão certa, porque ela está tremendamente equivocada na própria raiz. Se o equívoco está na raiz, no tronco, no caule, nos galhos, nas folhas, então você vai encontrar o mesmo engano nos frutos. O fruto do equívoco é o equívoco; da confusão, a confusão; da ilusão, a ilusão.
Tudo que vocês receberam da cultura, receberam da mente. A cultura é a mente e está dentro dessa dualidade, dessa experiência dual. Essa experiência dual da mente é verdade e falsidade, prazer e dor, certo e errado, bem e mal… O que nasce da mente é parte dela mesma. Não há Sabedoria na mente – há muito conhecimento, mas não Sabedoria. Conhecimento e Sabedoria são coisas diferentes: o conhecimento é cultural; a Sabedoria é existencial. Tem que ir além da mente! O conhecimento é dual e a Sabedoria é não dual, porque Nela não há opostos. No conhecimento, na cultura, na mente, você encontra sempre os opostos, com as suas contradições.
A minha recomendação a você é: vá além da cultura, do conhecimento e do que você chama de “vida”, a qual tem ofertas para você. Assim, a Felicidade é possível, porque a Felicidade não é cultural e ela não nasce, não é fruto do conhecimento, nem descansa nele. Ela é algo além do conhecido, não faz parte da mente… Ela está além da mente e, assim sendo, está além destes opostos, da dualidade. Então, ela não vem de fora; vem de dentro.
Quando eu falo “dentro”, eu falo da Natureza do Ser, da Natureza da Realidade última, da Absoluta Realidade, Daquilo que é indefinível, indescritível, inominável. Assim sendo, além da mente é a Meditação, que está além dos opostos. A Meditação é o acesso a essa interioridade e está além dessa, assim chamada, “vida” que faz ofertas. Talvez, Ela seja a própria Vida que está além dos opostos, mas não aquilo que você chama de “vida”, porque você chama de “vida” aquilo que acontece do lado de fora. O que acontece do lado de fora, somente acontece, sem a preocupação de “alguém” interpretando isso. Assim, estamos diante da Vida Real e, nesse sentido, Ela é a Felicidade. Mas, se o que encaramos como vida é aquilo que acontece, porque temos expectativas com relação a isso, aí já estamos numa falsa interpretação do que de fato é a Vida, como Ela acontece, como Ela é.
A Sabedoria não dual, além da mente, além dos opostos, que é Meditação, é a Felicidade. Ela não é circunstancial, aparente, não depende do que acontece, ou que parece acontecer, externamente. Isso significa que você não procura nada, nem espera nada de nada, de ninguém, de coisa alguma. Você fica com o que é, sem julgamento, sem comparação, sem rejeição e sem aceitação. Então, você está além da mente, e isso é estar além dessa “vida” que a mente conhece. Traga Meditação para essa “vida” que você conhece (que é a vida que a mente conhece), que, então, ela se dissolve, desaparece, e a Felicidade se faz presente. Ela não virá; ela brotará… Ela surgirá de dentro da própria Vida Real.
*Transcrito de uma fala ocorrida em Julho de 2017, num encontro presencial, na cidade de João Pessoa/PB. Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

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