sexta-feira, 30 de junho de 2017

Qual é a pior de todas as ilusões?

Nesses encontros, estamos tratando do véu que está, aparentemente, ocultando a Verdade, a Paz, essa Felicidade inerente a nós mesmos, compreendendo aquilo que poderíamos chamar de “aparente entidade separada”, que está na constante busca da paz e do fim do sofrimento. Mas, é exatamente essa busca da paz e do fim do sofrimento que mantém a existência dessa suposta entidade, dessa ilusória identidade.
Não podemos fazer como muitos, que estão simplesmente tentando ignorar essa ilusão. Você não fica livre da ilusão fechando os olhos para ela ou dizendo que ela é somente uma ilusão. Esse “falar” ou essa crença não são suficientes. Se, como uma "pessoa", nós sentimos que não temos nada para fazer, estamos apenas iludindo a nós mesmos com uma teoria Advaita. Se nos sentimos como "pessoas" e dizemos que não há nada que possa ser feito, estamos apenas enganando a nós mesmos. Não há nada que possa ser feito, que precise ser feito, quando estamos livres dessa ilusão. Entretanto, se ainda estamos presos a essa ilusão, ela ainda é bem significativa; é, ainda, bem real. Então, a pior de todas as ilusões é, estando na ilusão, acreditar estar livre da ilusão; ou seja, como "pessoas", acreditarmos que estamos iluminados.
Hoje em dia, há muitas pessoas que, por conhecerem esse assunto teoricamente, intelectualmente, por terem passado por algumas experiências de meditação, falam do fim da ilusão, como se não houvesse mais ilusão para elas. Continuam se sentindo pessoas, mas falam do fim da pessoa. Hoje em dia, temos muitos “acordados” ou “iluminados” no mundo… São "pessoas acordadas", "pessoas iluminadas". Eu tenho algo para lhe dizer: enquanto houver o sentido de "pessoa", não há real Iluminação, Despertar, Realização. Essa é a pior de todas as ilusões: estar na ilusão e não ver a ilusão – esse é o próprio trabalho da mente egoica, da mente ilusória. Estou dizendo que "pessoas" não se iluminam. Quando há Iluminação, não há "pessoa". Se, como "pessoas", nós sentimos que não há nada a fazer, estamos, de fato, em pior posição do que aquele que nunca ouviu esse ensinamento, porque estamos negando a nós mesmos e o meio real pelo qual podemos ver a maneira de nos livrarmos do nosso sofrimento.
É um belo jogo divino! Precisamos compreender – não intelectualmente, mas experimentalmente. Precisamos ver, claramente, a ignorância. Somente, então, essa sombra pode se desvanecer sob a luz da Consciência. Esse é um trabalho de entrega e queima do ego, de dissolução dessa ego-identidade, dissolução real dessa ilusão. Sem isso, ficamos apenas no terreno da crença, dos conceitos, das ideias, das palavras, o que não serve para nada, o que torna, na verdade, o ego mais orgulhoso, vaidoso, presunçoso, poderoso, porque agora ele tem um conhecimento, uma certeza intelectual, que outros não têm.
Não existe nada para ser feito e ninguém para fazer. Isso deve ser resultado desta Realização e não uma crença; deve ser uma compreensão inabalável, vivencial e não pode vir de uma confirmação externa, como uma frase lida ou uma palavra escutada de outro. Tem que ser algo direto, verdadeiro! É algo muito simples, mas não tão simples como a mente egoica tenta fazer ser, pois, dessa forma, ela é o ladrão se vestindo de policial, disfarçado de policial. A autoinvestigação, a devoção e a entrega são necessárias.
Participante: Aqueles que se enganam, pensam estar vivendo Isso. Como saber se há essa vivência ou se é um engano?
Mestre Gualberto: Você não pode saber isso no outro, mas, sim, em si mesmo. Jamais se preocupe se você pode ou não descobrir isso no outro. Repito: você tem que descobrir Isso em si mesmo. Até porque, se alguém está vivendo isso e é verdade para ele, não significa que isso seja verdade para você; e, se alguém não está vivendo isso e apenas diz que está, mas não é verdade para ele, também não altera, em nada, para você. Aqui, a questão é descobrir, por você mesmo, se Isso é real e em que nível é real aí, em você mesmo. Isso é uma honestidade de foro íntimo. Somente essa sua intimidade com a Realidade é real para você.
Todos podem dizer qualquer coisa ou podem acreditar que estão vivendo qualquer coisa. Mas, a questão é: e você? Está numa vivência real ou num engano? Se você for profundamente honesto quanto a isso, a Graça o conduzirá para aquilo que é verdadeiro. Quando você estiver diante de um Mestre verdadeiro, você saberá, pelo próprio fato de você ser verdadeiro. Se você não é suficientemente verdadeiro, ainda pode "bater cabeça" por algum tempo.
A experiência vivencial direta tem a prova da Realidade. Se alguma coisa não é experiencial e direta, é algo meramente intelectual, e isso se mostra com o tempo, porque não há legitimidade, não há verdade. Quando o fogo é real, ele queima, mas, quando não é real, é uma questão de tempo para você descobrir que ele não tem calor nem poder algum para queimar qualquer coisa. É como uma joia que parece de ouro, mas, quando chega à mão do especialista, fica claro que não é ouro. Então, torne-se especialista, aumente seu "faro". Eu chamo isso de honestidade. Assim, quando você aumenta seu “faro”, torna-se especialista e, somente em olhar para o fogo, você vê se é real ou não, se ele tem poder de queimar ou não.
Eu quero dizer que você tem, em si mesmo, esse poder de não se identificar com a mente e com o que ela cria. Então, seu "faro" fica apurado. Explore qualquer experiência, pensamento, imagem, sensação ou percepção, dessa forma. Quando nós exploramos nossas experiências assim, torna-se mais claro, mais óbvio, que essa Consciência é aquela que testemunha a experiência. Como Ela não se confunde com essa experiência, não pode ser enganada por palavras, ensinamentos, conceitos, teorias e crenças. Isso não é um assunto que se aprende com um professor. Essa não é uma matéria de intelectual compreensão.
Aqui, somente a experiência direta, não a compreensão intelectual, irá satisfazer. Quando não estamos suficientemente maduros, ficamos nessa brincadeira de palavras e na procura de conhecimento sobre Isso. Porém, quando a maturidade chega, já não nos satisfazemos com palavras, com conhecimento e com intelectualidade. Conhecimento, palavra e intelecto estão, ainda, nessa dimensão da mente egoica. A Realidade está além da mente. Assim, não há como você se perder e deixar-se enganar facilmente por conhecimento, intelectualidade e experiência emprestada. Precisamos de uma experencial compreensão, uma não intelectual compreensão.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 28 de Março de 2017, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Qual é a origem de todo conflito e sofrimento humano?

Neste momento, você está tendo a clara sensação da audição desta fala. O que você não questiona é se o escutar dessa fala está acontecendo, de fato, para alguém. Então, a crença comum é a de que há uma entidade presente nessa experiência do ouvir. Esse fenômeno do ouvir não é nada além de um fenômeno físico. As ondas sonoras atingem o tímpano e produzem uma informação ao cérebro, uma mensagem, a qual é interpretada no formato de palavras ou pensamentos. Contudo, esse fenômeno do escutar é apenas um fenômeno da Consciência, e isso não torna real a existência de alguém presente nesse escutar. É somente um fenômeno físico.
Contudo, a ideia central é: “eu estou presente”, “eu escuto”, “eu concordo” ou “eu discordo disso que estou escutando”, “ele está certo” ou “ele está errado”... Outro pensamento também surge, dizendo: “essa fala está bem interessante”. Porém, a ideia central é a de que tudo isso parte de você, de que tem alguém presente nessa experiência do ouvir, do escutar. Ou seja, o que você está fazendo neste encontro, nesta noite, não é questionando a verdade da experiência, mas a verdade da existência de alguém presente nela. Todo conflito, todo sofrimento humano, está centrado, basicamente, na ilusão de haver uma entidade presente na experiência, seja na experiência do falar, do ouvir, do pensar, do sentir, do não fazer ou do fazer.
Essa ideia de estar presente, essa ideia do "eu", do "mim", dessa ego-consciência, é um condicionamento que você recebeu desde a infância, mas isso não existe. A “sua” consciência não é particular a esse organismo, a esse corpo. Portanto, esse fenômeno do ouvir não é um fenômeno particular, mas um fenômeno da Consciência, na Consciência, pela Consciência e para a Consciência. O que estou dizendo, em outras palavras, é que não tem um “eu” aqui falando e um “você” aí ouvindo; é um único movimento, um único fenômeno. Há uma única Presença tornando possível essa aparição.
É como uma onda no oceano… Esse oceano é a Consciência e essa pequena onda é esse fenômeno. Não há separação entre a onda e o oceano, entre o fenômeno e onde ele acontece, aparece, ou – indo um pouco mais longe – parece aparecer, parece acontecer, porque, na realidade, a sua mente é esse fenômeno, é essa aparição.
Então, Satsang é apenas um convite para a investigação da realidade desse “você” na vida, na existência. A sua Natureza Verdadeira é Consciência, não é algo pessoal. Não tem uma “pessoa” presente, tem apenas a aparição desse fenômeno corpo-mente (sensações, pensamentos, emoções, percepções). A “pessoa” é uma ilusão, ou seja, a identidade pessoal, com um nome, uma forma e uma história, é uma ilusão. Essa é a beleza de Satsang (palavra sânscrita que significa “encontro com O que é”, “encontro com a Realidade, com a Verdade”). Essa desconstrução, ou o colapso dessa ilusão do “eu”, é algo possível dentro de um trabalho real, verdadeiro.
A sua única Liberdade real, como Consciência, é Ser, e Ser é Felicidade! Consciência é essa Inteligência absoluta, não verbal, não intelectual, não conceitual. Essa Consciência, essa Inteligência absoluta, está além da dualidade, além desse sentido do bem e do mal, da causa e efeito, bondade e maldade… A Consciência está além dessa dualidade “eu e o mundo”, de um experimentador presente na experiência do mundo, como se o mundo fosse a experiência de "alguém", desse "mim", desse "eu", dessa “pessoa”. Portanto, uma aproximação verdadeira, que é essa aproximação presencial em Satsang, traz esse Despertar, revelando-se, então, esse profundo Silêncio, essa profunda Consciência, essa profunda Realidade.
Então, Ser é Consciência, que é Felicidade! Essa é a natureza da Realização! Para o Jnani, aquele que despertou, que está em seu Ser, como Consciência, Felicidade, não há conflito, medo e sofrimento. Você nasceu para Isso – para a Felicidade, para a Consciência, para Ser! Porém, assim que esse corpo-mente aparece nesse cenário [nascimento], você é logo engolido por esse condicionamento, por essa crença, essa ilusão, por esse modelo, esse padrão de pensar, sentir. É preciso ir além desse condicionamento, além dessa dualidade. É preciso assumir a Verdade sobre si mesmo.
Essa constante busca de paz, amor, felicidade e liberdade do lado de fora, em coisas, pessoas, lugares, é a ilusão que termina, que é quando a ilusão da identificação com o corpo termina – a identificação com essa ideia de ser um menino ou uma menina, um homem ou uma mulher, um jovem ou uma jovem, um velho ou uma velha… Então, quando isso termina, a Verdade se revela. A Verdade é essa Suprema Liberdade, esse Amor, essa Suprema Felicidade, possível nessa Consciência, que é Inteligência absoluta, que é Ser! Assim, a Verdade se revela nesse Ser, que é a Consciência, a Felicidade, a Liberdade, o Amor… Revela-se nessa Felicidade, que é Consciência, Liberdade. Observe que estamos falando de Ser-Consciência-Felicidade, uma única Presença, a Presença de seu Ser, de sua Natureza Verdadeira, que é esse Silêncio, essa Graça, que é uma outra palavra para Beleza, Amor, Verdade.
Afinal, quem é que sofre? Uma vez que você se identifica com a mente, o sofrimento está presente. Em Satsang, você está sendo convidado a ir além da ilusão do “eu”, da separatividade, da dualidade, do sofrimento. Não é exatamente o corpo que sofre; o corpo tem dores. O sofrimento é algo psicológico, algo para esse sentido do “eu”, para a mente. Você tem se confundido com o corpo, e é na mente que você se confunde com ele.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 15 de Março de 2017, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Como os sábios vivem no mundo

Bem-vindos a Satsang. Estarmos juntos é sempre uma bela oportunidade de olharmos para essa experiência de vida.
É importante saber que você não está diante de um professor nesse encontro. Aqui, não há nenhum ensinamento. Eu não tenho nada para lhe ensinar. O que nós temos nesses encontros é um momento de investigação, que acompanha, também, esse Silêncio. Então, nós temos esse instante, que é Meditação e, naturalmente, um instante de devoção à Verdade. Portanto, não se trata de um ensinamento. Não tenho nada novo para dizer a você. Não sou um pregador, um orador ou um filósofo. Estou apenas investigando com você a sua própria Realidade. Então, não é bem um ensinamento, é uma declaração sobre a sua Realidade, sobre a Vida.
Estou falando de Você – que sou Eu mesmo – da Natureza da Consciência, da Verdade da Vida. Você é essa Consciência, Presença e Felicidade. Você não é o corpo, não é a mente, não é uma “pessoa” vivendo no mundo. Isso, que parece ser assim, não é a Verdade. Parece que você é alguém dentro do corpo, vivendo no mundo, mas isso não é Verdade. Isso é algo que está sempre mudando. O mundo, o corpo, a mente, a experiência da vida e a história mudam. Isso não é você, é somente uma aparição temporária, momentânea, não é a Realidade, a Verdade. Você precisa descobrir Aquilo que, de fato, em Verdade, Você é, e é disso que estamos tratando aqui, em Satsang.
Você deve constatar isso por si mesmo, por meio de sua própria experiência da realidade sobre si. Não se trata de ouvir a minha fala e, teoricamente, concordar ou achá-la completamente absurda. Você é puro Ser, pura Consciência, pura Felicidade, mas não se trata de ouvir, acreditar e repetir isso, teoricamente. É necessário realizar este seu Estado Real, seu Estado Natural, e é por isso que eu convido você a estar em Satsang.
Afinal, o que é a vida, o que é esse mundo? O seu senso de realidade nesse mundo é o mesmo senso de realidade no sonho. Mas qual é, de fato, real: o seu sonho ou esse mundo? Você se agarra a esse mundo pensando que nele está a sua vida real. Da mesma forma, quando sonha, você se agarra à experiência do sonho, pensando ser uma experiência real, quando, na verdade, é só a experiência de um personagem, de uma suposta entidade presente. Isso acontece tanto no sonho como nesse estado de vigília. Portanto, aqui é só um sonho também. Nada pode acontecer a você, no sonho ou aqui.
Vocês estão vivendo uma complicação muito grande, que é a crença de ser alguém nessa experiência chamada “vida humana”, “vida pessoal”. É necessário Despertar, sair dessa ilusão, soltar isso. Portanto, é sobre isso que tratamos em Satsang: o fim da ilusão do “eu”. Tudo o mais é somente uma experiência na mente, uma aparição. Essas aparições na mente, essas aparências, são como hipnose: um mundo que parece real, mas é somente uma imaginação, um sonho. Enquanto estiver se confundindo com uma entidade presente nessa experiência chamada “vida humana”, você vai estar sobrecarregado de aflições, de problemas. Isso estará sempre acontecendo somente para essa ego-consciência, para essa ego-identidade, para essa mente hipnotizada, para esse sentido de “ser alguém”.
Não é lindo isso?
Você está se confundindo com isso. Uma hora você está alegre, outra hora está triste; uma hora sente-se bem, noutra sente-se mal. Você está se identificando com a experiência “eu sou o corpo”, “eu sou alguém no mundo”. É sobre isso que tratamos em Satsang: o fim de tudo isso, dessa ilusão, dessa mentira que a mente tem produzido. Você esqueceu que tudo isso é somente um sonho, seja o sonho de estar vivendo no mundo ou o sonho de estar vivendo na experiência onírica, que acontece durante a noite quando o corpo dorme.
Como é que você se livra de tudo isso? Simplesmente observando, parando de valorizar o experimentador presente na experiência. Vocês estão muito viciados em “ser alguém”, nessa autoimportância de “estar presente” no fazer, pensar, sentir, agir, realizar as coisas. Como é que nos livramos dessa ilusão? Observando tudo à nossa volta sem nos prendermos a nada, desindentificando-nos da experiência de “ser alguém”. Compreender a si mesmo significa saber que você não é o fazedor, o pensador, o realizador, o controlador, nem é aquele que decide. Tudo já está acontecendo nessa Vontade Divina, é a Vontade de Deus sendo feita. Você só está carregando um peso enorme sobre os ombros, em vez de relaxar e entregar essa ilusão da responsabilidade.
Como você faz isso? Repito: simplesmente sabendo que tudo já está sendo gerenciado, cuidado, feito, realizado, por um poder maior que você. Isso é como uma folha quando cai num riacho e desce na correnteza. Às vezes, ela esbarra em troncos ou pedras, mas continua descendo. Ela tem alguns percalços nessa descida, mas continua descendo… Ela não resiste à correnteza, não tem força contra a correnteza. Você, no ego, quer lutar contra a Vida, quer tentar se segurar em uma das “pedras” para não continuar descendo; quer lutar contra aquilo que a Existência, assim, já está preordenando. Tudo está preordenado pela Graça, por Deus, mas você quer fazer o que a folhinha não faz, segurando-se num tronco, agarrando-se a uma pedra, lutando contra aquilo que já está preordenado. Você precisa relaxar e aceitar que seja feita essa Vontade, a Divina Vontade, e abandonar todo o condicionamento.
É assim que os Sábios vivem no mundo. Sábios são aqueles que estão se rendendo à Verdade do seu Ser, à Verdade de Deus. Isso é devoção, é entrega, e esse é o trabalho do Despertar. A Realidade vem e acontece segundo essa única Vontade que faz todas as coisas, e, assim, a Felicidade, a Paz, a Liberdade e a Verdade estão presentes. É quando não há resistência, não há ego, não há esse sentido de controle, o sentido ilusório do fazedor, do pensador, do realizador. Então, o Amor, a Liberdade, a Felicidade e a Paz vêm segundo essa única Vontade, porque não há “alguém” lutando contra O que é, contra a Realidade, a Verdade. Você não precisa pensar sobre isso, sentir isso, tomar decisões sobre isso; precisa somente observar, desidentificando-se do que aparece, acontece, momento a momento.
Então, quando o pensamento vem a você, apenas observe com clareza e solte-o. Afinal, para quem acontece esse pensamento? Para “mim”. E o que é esse “mim”? É uma ideia, uma crença, um conceito, a ilusão de uma entidade presente pensando. Desabitue-se de “ser alguém”, de assumir esses pensamentos acontecendo aí como sendo “seus” pensamentos, as ações acontecendo como sendo “suas” ações, o que está acontecendo à sua volta como se estivesse acontecendo para você… Tudo só está acontecendo e não tem ninguém especial nisso. O condicionamento é basicamente esse: você é muito importante, muito especial. Aí está a ilusão. Quem sou eu? Qual é a fonte? De onde isso vem? Para quem isso está aparecendo?
Participante: Mestre, então esse emprego, que eu não aguento mais, é uma criação? Se for para aparecer um emprego melhor, vai aparecer naturalmente?
Mestre Gualberto: Melhor ou pior são apenas conceitos que a mente cria sobre o que acontece, sobre aquilo que aparece. Você diz: “Não aguento mais”. Quem é que não aguenta mais? Enquanto houver alguma forma de resistência, vai haver algum tipo de sofrimento. Resistência à vida, como ela se mostra, é conflito e sofrimento. Então, no ego, isso fica insuportável. Para quem é essa dor? Quem sente que não aguenta mais? De repente, essa é uma ótima oportunidade para você perceber o quanto de resistência está presente diante daquilo que a Existência está lhe mostrando. É sua oportunidade para ir além dessa identificação com o sentido de um “eu” presente nessa experiência do trabalho.
Não há nenhum conflito, nenhum sofrimento e nenhuma resistência quando não há ego. A resistência, o conflito e o sofrimento são o ego! O problema nunca é o que está acontecendo do lado de fora, mas como isso é visto, vivenciado, internamente.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 3 de Abril de 2017, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Fique quieto

O meu trabalho com você em Satsang é lhe mostrar que você nunca esteve distante de si mesmo. Você tem que mudar o seu olhar. Você está olhando para fora, olhando para o que está aparente; está olhando para aparições e valorizando-as. Eu estou convidando-o a olhar para Aquilo que olha. Como você não pode olhar para Aquilo que olha, você pode desistir de olhar para fora. Então, Aquilo que vê – onde tudo é visto – se revela como sua Verdadeira Natureza.
Os sábios chamam isso de “ficar quieto”. O pensamento, o sentimento e a sensação vêm e você fica quieto, aí eles vão embora; vem uma história, você fica quieto e ela vai embora; uma outra história surge, você fica quieto e ela vai embora. Na razão em que você fica quieto e olha para Aquilo que olha, seu estado natural aflora e, assim, o seu olhar muda, porque não é mais o “fora” que está sendo visto, é O que é que está sendo visto. Assim, o sentido do “eu” (que é o que dá, ao que é visto, o valor de uma entidade presente na experiência) desaparece.
Todos os problemas que você tem estão baseados na ideia de que “você” está aí. De fato, “você” não está aí. Só tem Ele aí, e Ele não tem problema. Você particulariza uma crença para um particular corpo, ou um particular nome, e, dessa forma, uma história particular surge. Fascinante isso! É fascinante você perceber que não há alguém presente naquilo que acontece. Tudo acontece Nele, por Ele e para Ele! Tudo é um show Dele, tudo é um jogo Dele!
Um nasce, outro morre; um ganha, outro perde; um é positivo, outro é negativo; um é masculino, outro é feminino; um está saudável, o outro está doente… Esse é o jogo, mas é o jogo Dele! Não há nenhum prejuízo, nada para se lamentar. Nada se perde, é destruído, termina… Nada acaba e nada começa. Esse é o jogo! Não tem nada de fato começando; não tem nada de fato terminando; não tem nada de fato como uma vitória permanente ou como uma derrota permanente. Tudo é um jogo, um jogo Dele!
Se você escolhe uma parte, você nega outra. Então, você particulariza um lado, que é aquilo que mais agrada ao padrão de condicionamento da “pessoa” que você acredita ser. Isso é ilusão, que é sofrimento! Eu sei que você quer que ninguém da sua família morra, mas eu tenho uma notícia para lhe dar: eles vão morrer! E você também, o que é pior. Isso porque vocês nasceram… ou parece ter sido assim.
Você quer uma saúde perfeita? Impossível! As pessoas fazem dieta, exercícios, se alimentam corretamente, ficam loucos com essa coisa de comida natural e macrobiótica. Não comem pudim, chocolate… Tudo natural! Nada de muito açúcar, muito sal… Nada! Uma saúde perfeita! Isso não existe! Todos vão morrer! Até você vai!
Desencante-se disso! Desidentifique-se do corpo, porque ele vai morrer; desidentifique-se da história, porque aqueles que fazem parte dessa “sua história” também vão morrer. Mas tudo isso é um jogo Dele! Não tem você nisso! As pessoas vêm a mim querendo um modelo, para saber o que podem e o que não podem; o que devem comer e o que não devem; o que devem fazer ou não fazer; o que devem ser ou não ser…
Lembre-se apenas disso: tudo é um jogo Dele! Só tem Ele! Pare de confiar na ilusão!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 04 de Novembro de 2016, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

domingo, 18 de junho de 2017

Seu problema é a ilusão de que há um mundo separado de Deus

Esse é sempre um momento único para cada um de vocês. Esse é um momento de Realidade, de Verdade, de Presença, de Graça… é um momento de Deus na sua vida, é um momento de Despertar! Nesse Despertar, tudo vem naturalmente. Sem o Despertar, há apenas a ilusão – a ilusão de que não está aqui aquilo que aqui já está.
Ramana dizia que o homem está abrigado em uma sombra, uma bela sombra. Contudo, ele se afasta dessa sombra, dessa suave e fresca sombra, e começa a caminhar debaixo do sol. Até que um dia ele percebe que não vale a pena ficar debaixo do sol quente, sofrendo todo aquele calor. Então, esse homem volta… Ele volta para a sombra e ali novamente se assenta e descansa. A sombra nunca esteve longe dele. Ele apenas se afastou de sua origem, do seu lugar, de sua natureza verdadeira. Esse é todo o jogo! É aqui que o jogo acontece!
Havia uma moça que vivia numa casa de prostituição e, quando ela abria a sua janela pela manhã, sempre via um pregador do outro lado da rua. Todos os dias ele estava lá. Ele ficava em frente ao mercado falando das virtudes de Deus e dos pecados humanos, apontando para aquela casa.
Aquele pregador condenava todos os pecados. Era um homem que se considerava muito justo, muito puro, muito santo. Então, aquela moça começou a ouvir com mais atenção aquelas palavras e passou a sentir um grande pesar dentro de si. Ela começou a lamentar, a dizer em seu coração, com lágrimas nos olhos: “A minha mãe viveu aqui… Eu nasci aqui. Eu queria tanto ter um destino diferente, ser alguém espiritual como aquele pregador, mas eu sou uma pecadora. Como eu queria ter um outro destino! Como eu queria ter a liberdade e a felicidade daquele homem que está falando das virtudes de Deus!”.
Os anos se passaram, ambos envelheceram e morreram. Quando se apresentaram diante de São Pedro, o pregador já chegou batendo no peito e dizendo: “São Pedro, eis-me aqui! Sempre falei das virtudes de Deus! Já estou pronto! Em razão da minha justiça, pureza e santidade, estou pronto para entrar no céu!” São Pedro voltou-se para ele e disse: “Ei!! Espere aí! Seu lugar não é aqui!”. Dito isso, levantou os seus braços e uma porta se abriu… Havia fogo para todos os lados! “É para lá que você tem que ir!” - disse São Pedro. O homem ficou surpreso e gritou: “Mas não é possível!! O que é isso?! Que injustiça é essa?! Eu passei a minha vida inteira proclamando as virtudes divinas!! O que eu vou fazer no inferno?”. “Esse é o ponto!” - exclamou São Pedro, dirigindo-se, em seguida, para aquela senhora: “Minha filha, venha cá”.
O homem, sem entender nada, perguntou: “O que o senhor quer com essa senhora?”, ao que São Pedro respondeu: “Você passou a vida inteira vendo muitos pecadores, vendo-se como um santo diante deles, mas essa moça passou a vida dela, desde que o ouviu pela primeira vez, ainda bem jovem, com o coração voltado para Deus!”. E, assim São Pedro, recebeu aquela senhora no céu.
O ponto é que ninguém é pecador, ninguém é sofredor. Da mesma forma, ninguém é justo, ninguém é santo. Quando você está em Satsang, você tem a oportunidade de olhar para o que você é e descobrir a sua Natureza Real, a Verdade sobre você.
O pensamento lhe diz que você é pecador ou que é justo; que você é saudável ou doente, pobre ou rico, sábio ou tolo, grande ou pequeno… O pensamento lhe diz que você é isso ou aquilo, que é menina ou menino, homem ou mulher, criança ou jovem, mãe, pai, filho, filha… O pensamento lhe diz que você é brasileiro, americano, japonês, branco, negro… O pensamento lhe diz tudo isso!
Descobrir Aquilo que você é, a Verdade sobre você, a Realidade sobre si mesmo é ir além da ilusão de ser “alguém”, de ter um nome, uma forma, de estar em algum lugar, pertencer a algum grupo, país, família, religião… É preciso soltar isso e descobrir-se em sua Verdadeira Natureza, em sua Realidade, como pura Consciência, como pura Presença Divina, como pura Verdade, como pura Liberdade, como pura Felicidade! Satsang lhe mostra Aquilo que você é!
Satsang significa “encontro com a Realidade”, “encontro com a Verdade”, “encontro com o seu Ser”, que está além de nascimento e morte; além de religião, nacionalidade, condição social e física; além do tempo e do espaço. Pura Consciência! Puro Ser! Sua natureza é Amor, é Sabedoria, é Beatitude!
Você vê o outro na forma porque o pensamento diz que o outro tem uma forma. Quando você não se vê mais como uma pessoa, você não valoriza mais pessoas; quando você para de se ver na forma, você não valoriza mais a forma, nenhuma forma, então o seu olhar é o olhar de Deus! Na realidade, Deus não vê outra coisa a não ser Ele mesmo, em toda parte, porque só tem Ele! Essa multiplicidade de formas é aparente para o pensamento, não para a Natureza, não para a Essência dessas aparições, não para Aquilo onde tudo isso aparece.
Todo o condicionamento que você recebeu, ao longo de todos esses anos, foi para valorizar a história desse personagem que você acredita ser, dentro desse contexto, com diversos personagens à sua volta, os quais você, também, acredita existir. Nessas falas, eu estou lhe convidando a olhar a partir da Natureza Essencial de todas as aparições, para que esse padrão de condicionamento – esse formato baseado em crenças mentais, em programações que foram dadas a você – caia, desapareça! Então, você poderá lidar com a vida como ela é!
As aparições não se configuram como realidade agora, porque a realidade agora é Aquilo onde tudo isso está aparecendo. Então, o mundo, o corpo e a mente não são mais reais. A realidade deles é a realidade desta Consciência presente nessas aparições. Então, o corpo e o mundo são reais Naquilo que torna tudo real. Quando tudo é real Nisso que você é, nada está separado de você. Isso é Liberação! Quando Isso está presente, o sofrimento termina, porque a ilusão de ser “alguém”, de ter um mundo separado para esse “alguém”, termina. A noção de céu e inferno, sagrado e profano, pregador e prostituta, desaparece!
Você pode ver o mundo como ele é, sendo ele o que você é: Deus! Só há Deus! É Ele que se vê, vendo o mundo. Seu problema não é a falta de Deus! Esse não é o problema do mundo! Deus não está faltando no mundo, nem está em falta com o mundo. Seu problema é a ilusão de que há um mundo separado de Deus. Seu problema é a ilusão de que você existe como “alguém”, que pode ter problemas em um mundo que está separado de você.
Então, o homem se afasta da sombra e vai para o calor do sol. Caminha, caminha, caminha… até que, não suportando o calor, volta de novo para a sombra. Mas ele estava na sombra! Sempre esteve lá! Nunca saiu da sombra, desse descanso, desse relaxamento, desse frescor, dessa doçura, que é o Divino, que é Deus! Você nunca saiu Dele! Você nunca foi para longe Dele! Você não pode, nunca pôde e jamais poderá se afastar de Si mesmo! Todo esse afastamento é só uma ilusão – a ilusão desse condicionamento que você recebeu, que faz você acreditar que é uma pessoa, com coisas e assuntos particulares para resolver.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 04 de novembro de 2016, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

É fundamental soltar essa identificação com a mente e com o corpo

A única coisa que importa é esse encontro chamado Satsang, que é o encontro com a Verdade, com a Realidade.
Aqui, nos voltamos para esse Silêncio, que é Consciência, que é o Real Conhecimento, que, na Índia, é chamado de Jnana. Não é o conhecimento onde existe “alguém” sendo o conhecedor, “alguém” o possuindo. Não é isso! Jnana é o Puro Conhecimento, no qual não há conhecedor nem coisa conhecida. Esse Conhecimento é Consciência.
A palavra Jnana não faz muito sentido para os ocidentais. O sentido literal da palavra é “conhecimento”, o que, para os ocidentais, significa “alguém” conhecendo alguma coisa. Então, nós temos o conhecedor e aquilo que é conhecido, mas não é nesse sentido que estamos usando a palavra “conhecimento” aqui. Estamos falando de uma Percepção onde não há o “percebedor”, de um Conhecimento onde não há o “conhecedor” e de uma Consciência onde não há “alguém consciente”.
Em seu contato com o mundo, nessa relação, existe “alguém”. Na verdade, esse “alguém” é somente uma imaginação, e esse mundo, uma percepção. Todos os objetos são aparentes, mas você está tratando esse corpo e a mente (que também são objetos) como algo sendo experimentado por “alguém”. Ou seja, você não está tratando o corpo, ou a mente, ou o mundo, apenas como uma experiência de um objeto. Esse é todo o problema! Você está tratando o corpo, a mente e o mundo como sendo algo real para esse “mim”, para esse “eu”. Como sendo a própria vida, a “vida real”.
A sua “vida real” é algo que está sendo visto dessa forma. Você não vê que isso são apenas aparições e acredita que essa seja a sua vida real, a vida real desse “eu”, desse “mim”. Então, você está nessa ilusão: “eu estou no corpo e essa é minha vida”. Tudo o que acontece ao corpo ou ao mundo você considera como sendo algo real, como sendo a sua vida. Com isso, você está se prendendo a essa identificação, a essa ideia de ser alguém vivendo uma história humana, pessoal. Todas as suas histórias são pessoais (na verdade, elas são apenas memórias, lembranças, crenças e pensamentos) e isso lhe dá o sentido ilusório de um “eu” presente. Assim, tudo o que está acontecendo na “sua história”, está acontecendo na “sua vida”, o que representa a ilusão dessa identidade presente, desse “eu” presente dentro do corpo.
Confundimo-nos com a mente e com o corpo, dizendo: “Eu!”. Realização é o fim dessa ilusão – da ilusão “eu sou o corpo”, “eu estou no mundo” e de que toda essa história é a “minha história”. Sua Natureza Verdadeira é Consciência, é Puro Conhecimento! Sua Natureza Real está além do nascimento e da morte! Sua Natureza Real não tem história e não está presa ao tempo! Sua Verdadeira Natureza é Sat-Chit-Ananda! Sua Natureza Verdadeira é Meditação! Meditação é Você no Estado Natural, que é Presença, que é impessoalidade, atemporalidade!
É fundamental soltar essa história, essa identificação com a mente, com o corpo, e se reconhecer. Nesse reconhecimento, só há Conhecimento Puro, e não “alguém” nele. Quando isso está presente, há somente essa Percepção, esse Puro Conhecimento, e isso é Liberdade, Verdade, Felicidade, Amor. Nesse momento, você não está mais confundido com objetos, como o corpo, a mente ou o mundo. Você está consciente dessa Realidade, consciente dessa Percepção.
Tudo o que você vê no mundo é apenas uma ideia sobre ele. Tudo o que você vê, toda sua experiência pessoal, é somente um pensamento sobre isso, com o qual você se confunde, identifica-se e, portanto, sofre.
Eu sei que a sua casa, o seu carro, os seus filhos e a sua família parecem muito reais, mas eles só aparecem quando você se lembra deles. Quando você se lembra, isso surge. Em sono profundo, isso não aparece, e quando não se fala neles, eles desaparecem, pois são somente aparições que o pensamento traz como lembrança. Agora mesmo, eu falei do carro e você lembrou que tem um carro. Antes, você não lembrava que tinha carro, ele não estava aí… São aparições que surgem com o pensamento.
Você vive e permanece, sempre, como Consciência, e Nela não tem nada, não tem ninguém, a não ser que o pensamento traga algo e diga que isso está aí. O seu mundo é pensamento. Até mesmo a dor emocional por ter perdido alguém precisa da lembrança para ser sentida. Sem a lembrança não tem a dor, o sofrimento. Esse é o seu mundo, o mundo que o pensamento faz aparecer para esse “mim”, esse “eu” particular. É sempre esse “eu”, em sua história particular, que sofre.
Se alguém roubar o carro do seu amigo, isso não vai preocupar você, mas, se for o seu carro, isso vai preocupá-lo. Na verdade, até que você saiba que roubaram o seu carro, você não está preocupado. Somente quando você fica sabendo é que você se preocupa. Essa é a interpretação que você tem do mundo. Então, o seu mundo, a sua história e o seu sofrimento são pessoais. Esse sentido de “pessoa” sustenta o sofrimento, o sentido de separação, o sentido de dualidade – “eu e o mundo”. Mesmo o amor que você sente está atrelado a essa imaginação. Esse amor não é real! Tudo o que você conhece, experimenta, sente, está atrelado à história desse “você”… mas esse “você” é a ilusão.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 17 de Abril de 2017, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

A arte de Ser é permanecer como pura Consciência

O que nós investigamos nesses encontros? Aquilo que nós, intimamente, conhecemos sobre nós mesmos. É... soa paradoxal. Nós investigamos, exploramos, aquilo que já sabemos ser em nós mesmos.
Então, qual a dificuldade? A dificuldade é que nós confundimos isso que somos com os pensamentos, sentimentos, sensações e emoções que passam nesse mecanismo, nesse corpo-mente. Assim, nós descartamos, desprezamos, aquilo que intimamente somos. Quando fazemos assim, nos prendemos a essa ilusão de uma entidade limitada, pessoal, presa no tempo e no espaço.
Então, percebam que, basicamente, é isso: nós exploramos, investigamos, aquilo que sabemos ser em nós mesmos, mas o desprezamos por estarmos constantemente – por uma questão de condicionamento – presos a um “eu”, que é a imaginação do pensamento sobre nós mesmos. Pode soar bastante curioso e engraçado também. Como a gente consegue fazer isso? Só a Graça explica.
Consciência é aquilo que está aí, presente, consciente Dela mesma, como puro Ser. Para exploramos essa Consciência, é preciso nos desidentificarmos do pensamento, do sentimento, da emoção, da sensação desse “eu”. É preciso nos desidentificarmos desse “eu”, soltarmos esse “eu”, que é essa identificação com o pensamento, com o sentimento, com a emoção, com a sensação, com essa experiência desse “alguém” que você acredita ser.
Essa Consciência, essa Realidade que somos, está ciente Dela mesma, livre da ilusão “eu sou o corpo”, “eu sou uma pessoa dentro do corpo – uma pessoa limitada, localizada no espaço e no tempo”. Isso é uma ilusão! O que é Isso presente aqui, nesse instante, agora, que pode reconhecer o pensamento, o sentimento, a sensação, a emoção e o corpo? Naturalmente, é essa Consciência. Se Ela pode reconhecer isso, ela é algo separado disso.
Reparem que o pensamento não pode reconhecer a Consciência, mas Ela pode reconhecer o pensamento. O corpo não pode reconhecer a Consciência, mas Ela pode reconhecer a presença do corpo, a sensação no corpo, a emoção no corpo, nesse organismo. Há algo que pode perceber a presença de todo esse processo. Esse algo é a Consciência.
Portanto, essa Consciência está ciente Dela mesma, enquanto o corpo não está ciente dele próprio, o pensamento não está ciente dele próprio… A emoção é um fenômeno, mas não está ciente dela mesma; a sensação também não. No entanto, a Consciência está ciente de todo esse processo. Ela é independente e livre de todo esse processo. A Consciência reconhece a Si própria – Ela está ciente de estar ciente. Reparem o quanto isso é simples e tem uma lógica que você não pode reprovar.
Aqui, a arte de Ser – que representa essa Liberação – é permanecer como pura Consciência. Como eu disse, você tem desprezado essa Consciência e tem se confundido com o pensamento, com a emoção, com a sensação… Você tem dado a isso uma identidade particular, individual, pessoal. Isso é uma fantasia, uma crença! Não existe tal entidade! Só há Consciência! É Ela que está presente e ciente de todo esse processo. Portanto, essa Liberação é assumir Isso, essa Realidade que Você é. Isso é Meditação!
Essa Consciência, essa Presença, é não causada, é não localizada, permanece como puro Ser. Reparem que essa fala, assim como todas as falas em Satsang, é um convite à Meditação. Satsang é Meditação! Enquanto você me escuta, não tem “você”, porque esse “Você” é essa Consciência; não é esse “você” localizado no tempo e no espaço. Tem esse “Você” como Consciência, Consciência Nela própria, com Ela mesma, nesse comungar, nesse compartilhar, nesse vivenciar dessa única Realidade Dela mesma, Nela mesma, que é Meditação.
Então, não tem “você”, só tem “Você”! Essa é a Beleza de Satsang, a Graça de Satsang, a Presença em Satsang. A Presença, em Satsang, é a Graça, é a Beleza da Verdade, da Consciência, que é Meditação.
Esse sempre presente Ser é o que, algumas vezes, é chamado de Despertar, ou Iluminação. Isso é Meditação, é Liberação! A Verdade é linda! Esse momento é o momento da Verdade, algo vivencial, algo real, seu Ser, sem nenhum conhecimento, nenhuma teoria, nenhuma crença sobre isso.
Essa Consciência, essa Presença, essa Verdade, essa Realidade, esse Ser, é esse vasto Espaço onde tudo aparece, onde os objetos, o corpo, a mente, as sensações aparecem, onde os sentimentos e as experiências acontecem.
Você é essa Consciência! Você é esse ilimitado Espaço!
Estamos diante dessa Realidade, que é: EU SOU!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 27 de Janeiro de 2017, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Simples e Inegável

Estamos diante do reconhecimento de algo que nós não podemos negar. Satsang, basicamente, aponta para isso. Agora mesmo, você está tendo a experiência de ouvir essa fala. Isso é uma coisa, em nossa experiência, que nós não podemos negar. Existe algo presente e ciente dessa experiência. Afinal, o que é isso que está ciente e presente quando essa experiência de ouvir está acontecendo? O que é isso que não podemos negar, afinal?
Essa é a Natureza Real do nosso Ser, a Natureza da Consciência. É a Consciência presente e ciente dessa experiência. As experiências podem ser diversas, mas a presença e a ciência dessa experiência é sempre uma só.
Essa Consciência, que está presente e consciente, é sempre uma só. A experiência pode ser a de ouvir uma fala, sentir ou ver alguma coisa, mas sempre há algo presente e ciente, que não muda. O Ser, a Consciência, a Verdade sobre a sua Real Natureza, é aquilo que está presente e ciente, independentemente de qual seja a experiência, o que esteja mudando, o que esteja acontecendo.
É isso que eu chamo de simples e inegável. Essa Presença, essa Consciência, essa Verdade sobre a sua Real Natureza, está sempre aqui e agora. Essa é a realidade de sua Natureza Verdadeira, aquilo que permanece imutável; aquilo onde as experiências acontecem. Por isso é um grande equívoco você se confundir com o corpo e com a mente (com sensações, emoções, sentimentos, pensamentos), porque isso que está sempre mudando não é você. Você é essa Presença, ciente e presente, quando isso está mudando.
Não existe um espaço onde a experiência esteja acontecendo de forma separada dessa Consciência. O espaço dessa experiência é o espaço onde essa Consciência está, e ela está aqui e agora, ciente e presente. O seu único problema é se confundir com o corpo, com os sentidos, com os pensamentos, que é quando você se confunde com a experiência. Você, como Consciência, que é esta presença e ciência do que acontece, se confunde com o que acontece. Esse é o estado egoico, o estado da mente egoica.
Cada coisa é experimentada como Ser, como Consciência, como Presença. Tudo é essa Consciência! É Ela surgindo, nesse instante, como essa experiência! Não há “pessoa” nisso, não há “alguém” nisso. Essa experiência não é de uma pessoa, não é de alguém, é a manifestação desta Consciência. A Liberação é assumir isso, assumir a Verdade de sua Natureza Real, que é Consciência.
Assim como os objetos aparecem dentro do espaço de uma sala, as experiências acontecem nesse espaço que é Consciência. O corpo, a mente, as sensações e os sentimentos são experiências; são objetos nesse espaço. Não há nada que não esteja aparecendo nesse espaço. Não há nada separado desse espaço que é Consciência. Nada é seu inimigo! É apenas a ilusão que cria todo o problema. Não existe nada presente em nossa experiência que não esteja acontecendo nessa Consciência. É só uma crença a de que há “alguém” presente.
Você foi educado para acreditar que é uma “pessoa”; agora tem que desaprender isso. O meu trabalho com você é esse: mostrar-lhe a fraude. Você é uma fraude! Você não é o que pensa ser! Você não é o que sente ser! Você só tem problemas porque você acredita que é uma “pessoa”. A crença em ser uma “pessoa” cria essa limitação, essa confusão – a confusão da dualidade: sujeito e objeto; eu e o outro; eu e o mundo. Precisamos investigar isso, pacientemente, pelo tempo que for necessário, até que o sentido de separação se dissolva nessa clara Consciência, na luz dessa Consciência, na luz dessa Presença, na luz de sua Verdade, dessa sua Real Natureza. Você precisa se desabituar dessa “pessoa” que você acredita ser. Eu falo literalmente! Você precisa se desacostumar de você!
Participante: Quando eu pergunto, tem alguém perguntando?
Mestre Gualberto: Não, só tem a pergunta. É necessário que a pergunta apareça até ficar claro aí que não tem alguém perguntando, porque a questão toda é que, quando a pergunta é feita, existe a ilusão de alguém fazendo-a. Então, é necessário que a pergunta seja feita até que essa ilusão de “alguém” fazendo-a desapareça. Dessa forma, a pergunta deve ser feita até que não haja mais o perguntador.
Participante: E de onde ela vem?
Mestre Gualberto: Toda pergunta nasce da ilusão, da confusão. Quando não há confusão, não há ilusão, e não há pergunta. Mas a pergunta precisa ser feita até que fique claro que a ilusão da confusão não é real. Consequentemente, as perguntas cessam, porque a ilusão do perguntador desaparece.
Enquanto existir qualquer confusão, qualquer falta de clareza, ou enquanto houver a ideia, a crença, de um perguntador, as perguntas serão importantes. Enquanto houver dúvida, é importante que a pergunta apareça, até que fique claro que não há nenhum perguntador. Então, ficará claro que não há nenhuma resposta, e, portanto, não haverá mais nenhuma pergunta. Até que isso, de fato, seja real, repito: a pergunta sempre será importante. Quando o sentido de separação não estiver mais presente, não haverá mais perguntas.
A pergunta, em si, não provoca uma resposta. Esse tipo de pergunta, aqui, provoca a investigação da natureza ilusória do perguntador. Com o fim do perguntador, nós temos o fim da pergunta.
Participante: Mestre, por que isso me parece impossível de compreender?
Mestre Gualberto: Porque, de fato, é impossível mesmo. Você não precisa compreender isso. Isso não é uma lição que você aprende e depois repete por ter aprendido. Isso não pode ser compreendido, porque isso já é sua Real Natureza. Isso está além de alguém que possa compreender; está além da necessidade da compreensão. Isso é a sua Real Natureza!
Aqui se trata exatamente do contrário. Aqui não se trata de compreender sobre o assunto, mas de desaprender tudo que você aprendeu sobre si mesmo. Esse assunto não é algo que vai lhe dar mais uma informação sobre você. Você não adquirirá uma informação sobre si mesmo. Aqui, você vai descobrir a natureza da ilusão, dessa crença que você faz sobre si mesmo. Isso é possível ser descoberto, não compreendido. Não é algo que se aprende, é algo que você desaprende. Você desaprende a ser quem acredita ser e assume Aquilo que de fato Você já é. Isso não pode ser aprendido ou compreendido.
Apenas escute essa fala. Coloque o seu coração em cada palavra, em cada pausa, em cada momento de intervalo entre as palavras. Não tente capturar isso. Não transforme isso num novo conhecimento. Fique com o Silêncio, com a Presença dentro desse ensino, não com o ensinamento, não com o conhecimento teórico, verbal, desse ensino.
Aqui, trata-se de sentir e não de compreender. Trata-se de respirar essa atmosfera de Presença, de Consciência, da Verdade sobre você mesmo.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 17 de Fevereiro de 2017, num encontro aberto online.
Para informações sobre os encontros e instruções de como participar, clique aqui.

Compartilhe com outros corações