domingo, 1 de janeiro de 2017

A chave para a Realização Divina

Não importa o modo como nos aproximamos dessa fala, o objetivo é sempre o mesmo: constatarmos essa Realidade. O Real significado desse pronome que todos nós sempre usamos, o pronome “eu”, qual é o real significado disso? Esse é o primeiro pronome que nós aprendemos quando criança, mas apesar de ser o primeiro que nós aprendemos, nós de fato não aprendemos qual é o real significado dele. Qual é o significado desse pronome “eu”? Quando você se refere a si mesmo, você diz “eu” ou “mim”, “eu mesmo” ou “isso é para mim”. Mas, qual é o significado desse pronome? Qual é o significado desse “eu”? Qual é o significado desse “mim”?
Não importa como estejamos abordando esse assunto nesses encontros. O assunto principal aqui é esse “eu”, esse “mim”. Quando criança, começamos a usar esse “eu”, esse “mim”; depois desse primeiro pronome, os outros aparecem. Nós passamos a vida toda usando, sem compreender o real significado desse “mim”, desse “eu”. Você nunca, ou quase nunca, tem um interesse real em compreender o significado desse “eu”, desse “mim”. Quando por exemplo um pensamento acontece aí, dificilmente você se pergunta: Para quem é esse pensamento? Para quem ele está acontecendo? Quando um sentimento acontece aí, você dificilmente se pergunta: o que representa esse sentimento em “mim”, neste “eu”? O que é esse sentimento para “mim”? O que é esse sentimento para “eu mesmo”? Qual é o significado disso?
Nós nos importamos com os pensamentos ou com os sentimentos, nos identificamos com eles, mas nunca nos perguntamos o que é esse “mim”, o que é esse “eu”? Para quem esses pensamentos ou esses sentimentos ocorrem? E aqui está a chave dessa liberação, dessa realização de Deus, dessa Realização Divina. Percebam “essa coisa” claramente! Então quando o sentimento aparece, você não se interroga; quando o pensamento aparece, você não se interroga, não faz a si mesmo essa pergunta.
Eu quero lhe recomendar a trabalhar isso. O trabalho de Ramana Maharshi era esse. Esse é o seu legado, isso é o que Ele deixou.
Quando os pensamentos vierem a você, simplesmente pergunte a si mesmo: “para quem são esses pensamentos? Quem é esse a quem esses pensamentos estão sendo dirigidos ou estão acontecendo?” Ou você faz isso, ou você formula a pergunta de uma outra forma, com o mesmo resultado: “De onde vêm esses pensamentos? Qual é a origem? De onde estão surgindo esses pensamentos, esses sentimentos?” Então, você tem a oportunidade de seguir um rastro, uma pista. É como uma pista que um detetive segue: uma pista leva a outra, que leva a outra… e ele vai tendo sinais para encontrar a origem do crime, a base desse crime, onde ele termina chegando ao criminoso. Ele começa a ligar as peças, as pistas. Você também seguirá uma pista. A pista é: “Para quem isso ocorre? Para mim! Esse pensamento/sentimento ocorre para mim. E o que é esse “eu” para quem esses pensamentos/sentimentos estão acontecendo?” Então você volta à Fonte, você encontra a origem dos pensamentos, a origem dos sentimentos! A origem só pode ser Aqui, nessa coisa que nós denominamos, colocamos um pronome para definir… “essa coisa chamada eu”.
O seu interesse não é mais no pensamento. Nenhum deles tem importância, todos eles têm a mesma qualidade... pensamentos bons, pensamentos ruins, aparentemente verdadeiros ou falsos, são somente pensamentos. O seu interesse agora está no “lugar” onde isso acontece, está na Fonte! Então, se você observa a partir da Fonte, o pensamento perde a importância, o sentimento perde a importância. Esse é o começo da investigação. Aqui, simultaneamente, você pega todas as pistas, todos os sinais. Onde o crime acontece e quem é o criminoso, quem é o culpado. Então você encontra a Fonte! Você seguiu toda essa linha: Quem sou eu? O que é essa Fonte? De onde isso vem?
A tristeza está aqui. Não importa o que pode ser dito sobre a tristeza, mas “para quem a tristeza está acontecendo? “onde a tristeza está acontecendo?”; não a história da tristeza, a história da tristeza é um volume muito grande de pensamentos. Você tem um sentimento… Você valoriza a história de um sentimento, seja um sentimento agradável, bom, feliz, ou um sentimento ruim, desagradável, infeliz. Há uma quantidade enorme de pensamentos para dar uma história para o sentimento, e eu estou lhe dizendo: abandone a história, não se importe com a história, porque quando você se importa com a história, você se afasta da Fonte! A Fonte é uma só, os sentimentos são diversos, eles são bons, ruins, positivos, negativos, tristes, alegres... A Fonte é uma só, mas os sentimentos são diferentes. A Fonte é uma só, mas os pensamentos sobre esses sentimentos são diferentes, ou os pensamentos sobre qualquer coisa são todos diferentes. Mas Fonte é uma só, então você retorna à Fonte.
Cada pensamento, cada sentimento, cada emoção, cada sensação está “linkada”, tem um link com a Fonte, mas não é a Fonte! Aparece na Fonte! Você aqui está interessado em descobrir ou voltar à Fonte. Descobrir isso é algo espantoso, extraordinário, estupendo, maravilhoso! Então, quando você volta à Fonte descobre que esse “eu” não existe! Quando você encontra o lugar do crime e encontra o criminoso, descobre que ambos desaparecem! Tanto o lugar do crime, quanto o criminoso. Tanto a história do crime que são os pensamentos, quanto o lugar do crime que é a ideia de uma entidade presente aqui e o criminoso que é esse sentido do “eu”, do “mim”. Tudo desaparece, tudo se dissolve nesta constatação. Então tudo termina! Os pensamentos terminam, a prisão ao sentimento termina, porque o prisioneiro terminou. Então a história do sentimento termina, a prisão do sentimento termina, e esse “eu” termina. Então você descobre que você não existe. Nunca existiu! Nunca teve alguém aí! Era só o sentimento, era só o pensamento, era só a sensação. Isso tinha uma valorização na ilusão de uma entidade presente. Isso já não é mais importante. Quando isso já não é mais importante o pensamento perde a importância, o sentimento perde a importância, a emoção ou a sensação... Você constata a sua Real Natureza, que é de absoluta Liberdade!
Eu não sei se vocês já ouviram algo tão claro, de uma forma tão direta! A ilusão do sentido de “alguém” é a ilusão de um espaço onde esse alguém se move, onde a sua história acontece, onde esse alguém tem um nome... Esse alguém é o “eu”, é o mim”. E tudo isso é uma tremenda ilusão, uma grande ilusão! Esse é todo o seu problema, todo o seu sofrimento. Eu fiz aqui uma síntese de toda miséria humana, nessas poucas palavras. Isso tudo que eu acabei de colocar para você é maya, a ilusão, a grade ilusão.
Você se confunde com o sentimento, acredita ser uma entidade que está nesse sentimento. Você acredita estar amando, por exemplo. Você acredita estar odiando, mas, na verdade, se você observar esse sentimento, vai descobrir que ele tem uma história, ele tem um lugar acontecendo, e que tem “alguém nisso”, que é esse “mim”, que é esse “eu”. Então, essas três coisas aparecem juntas: a história, o lugar e a suposta entidade presente nessa experiência. Essas três coisas configuram a ilusão de uma entidade presente nessa experiência, essa experiência de amar ou de odiar, ou gostar ou de não gostar – o que na verdade dá no mesmo, porque quando se fala de amar a partir do “eu”, a partir de um experimentador, isso também é mais uma experiência egoica! O amor não é pessoal. O Amor é Consciência. O Amor é a Presença. O Amor é a Verdade do Ser! E isso não é de uma pessoa para uma pessoa ou de uma pessoa para um objeto. Isso não tem uma história.
Eu sei que isso é desanimador, porque você ama certas coisas e não ama outras. Você ama certas pessoas e não ama outras. Ou seja, o seu amor esta atrelado a pensamentos, que são imagens, imagens de prazer. Se essas mesmas pessoas o maltratarem, logo você vai descobrir que esse amor vai mudar, que esse amor vai ter uma alteração, pode até acabar. As pessoas que você ama são uma projeção dessa ilusão, dessa “pessoa” que você acredita ser, no desejo de se preencher no prazer, nessa relação com mais um objeto animado, chamado “pessoa”. Porque você também tem um amor por coisas inanimadas, mas elas não te dão tanto prazer. Você também ama a sua casa, ama a sua sala, ama o seu sofá, mas você ama um pouco mais o seu cachorro, um pouco mais a sua namorada. Porque esses objetos animados lhe dão um pouco mais de prazer. Mas qualquer objeto animado que lhe dá um pouco mais de prazer, se começar a lhe provocar dor, você vai descobrir que não é amor o que você sente por eles, por elas; é só prazer, satisfação, preenchimento.
Quando seu objeto de prazer – que você chama de “alguém que você ama” – se afasta (ou porque o traiu, ou porque fugiu de você, ou porque morreu), aquele sentimento de amor desaparece e a dor assume... a dor da falta, da perda, da carência, da falta do outro. Isso é desejo, isso é prazer, isso não é amor! Eu sei que deve ser horrível ouvir isso. Que você não ama quem acredita amar, ou que esse “amar alguém” só pode ser algo no ego. O amor não é um verbo. Não pode haver “alguém” no Amor. O Amor não tem “alguém”. Nem aqui, nem aí. Nem do lado de cá, nem do outro lado.
Estão muito sérios! Me parecem preocupados ou decepcionados… afinal o que está havendo? Talvez no caso de vocês seja diferente… (risos)
Se querem descobrir a Realidade do Amor, precisam descobrir a Natureza do Ser, a Natureza da Consciência; precisam voltar à Fonte, precisam ir além do experimentador, que é a ilusão dessa pessoa presente na experiência do amar, ou de qualquer sentimento, ou de qualquer sensação ou de qualquer emoção.
Apenas a Consciência, a Presença, a sua Real Natureza, sabe o que é o Amor! E esse Amor está na ausência do sentido desse “eu” ilusório, desse “eu” buscando algo, ou tentando se livrar de algo, ou tentando substituir algo por outro algo, ou alguém por outro alguém. É necessário descobrir aquilo que você É! Sua Verdadeira Natureza!
A sua pergunta é: Então o amor é o vazio, o nada?
Não! O Amor é a totalidade da Consciência! E a Consciência em sua totalidade inclui tudo! Não é dizer que “a consciência ama tudo”, é dizer que a Consciência é essa Realidade presente em tudo, e isso é Amor! Quando a Consciência se expressa com essa Totalidade, isso é Beleza! Na Realização, que é essa constatação de sua Verdadeira natureza que é Consciência, tudo é Amor, tudo é Alegria, tudo é Ananda. A palavra Ananda é uma palavra indiana, para Felicidade. Quando essa totalidade da Consciência presente se expressa, se expressa como Amor, como Felicidade, como pura Alegria! Então aquilo que podemos chamar de Totalidade, é a ausência de separação, a ausência de distinções. Nesse sentido, aqui estão todas as aparições, tanto o som, quanto o silêncio; tanto o todo, quanto o vazio! Esse momento por exemplo, agora, aqui, em sua Real Natureza, você é Consciência, você é Amor, você é o Todo! Você é o Vazio, você é Tudo e você é Nada!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 24 de Outubro de 2016, num encontro aberto online.
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