segunda-feira, 27 de junho de 2016

A verdade além das palavras, definições e conceitos

Aqui estamos em mais um momento, onde o que menos importa, como sempre temos colocado, são as palavras. Embora essas palavras estejam brotando desse Silêncio, nesse sentido elas têm alguma importância, mas apenas como resultado desse Silêncio. A mente se alimenta de palavras. O ego, cuja base está no conhecido, adora palavras, e o conhecimento é esta plataforma, aquilo que sustenta todo este movimento. A Verdade não é conhecimento, é somente a Verdade. Quando houver definição da Verdade, não estamos mais com a verdade, mas, sim, com conceitos, ideias e crenças sobre isso.
Nesses encontros, como qualquer outro encontro, seja pelo Paltalk ou presencialmente, fazemos uso da fala, mas há algo maior que a fala, Aquilo que torna possível um trabalho real. Intelectualmente, palavras podem entreter, criar admiração e trazer, até, certa satisfação de prazer. Toda experiência sensorial é assim: ver cores é prazer para os olhos; o toque em objetos é prazer, ou dor, para o sentido do tato; ouvir sons pode ser prazeroso ou doloroso, pode ser prazer e dor. Algumas palavras podem trazer certo nível de prazer, de realização e preenchimento interno, mas são apenas palavras. A Verdade não tem nada a ver com palavras.
Você pode passar realmente anos estudando, como você colocou agora que, durante anos, fez Gnose e perguntou se foi tudo inútil, contudo não podemos transformar teoria em prática, nesse campo da Realização. Teoria continua sendo apenas teoria. Em Satsang nós tratamos de uma outra coisa, que é a possibilidade do desaprender, o abandono de todas as crenças, teorias, ideias, práticas e de todos os conceitos. Em Satsang estamos tratando deste “Eu Sou” – o “Eu Sou” não conceitual, Aquilo que, também, não é uma ideia. Estamos falando desta Realidade fora das palavras e dos conceitos.
Por alguns breves instantes, você pode ter um vislumbre Disso, quer você esteja numa prática de meditação ou fora dela. Porém, uma prática de meditação, ou qualquer outro método, não pode lhe trazer Isso de uma forma definitiva. O assentar desse Estado não vem por práticas, por técnicas, e o estudo intelectual sobre Isso é o que está mais longe, mais distante, ainda. Realização é o “fruto maduro” nessa “árvore”, quando a Consciência, que é essa Presença Real, assume o lugar dela. Então, essa Realização é o seu Estado Natural, mas Nela não tem você, é só a Realização.
Todavia, o Estado Natural não é este “você”, que você acredita ser; é este Você, do qual você não sabe nada e jamais saberá alguma coisa, porque, quando esta Realização está, este você, que você acredita ser, não está. Isso é o resultado de um trabalho, não de uma prática, de uma técnica, de um método, de um sistema de estudo. Isso é a entrega desse sentido de separatividade, uma ação totalmente da Graça, desta mesma Presença, dessa mesma Consciência, dessa mesma Realidade – o trabalho é, totalmente, Dela. Nesse sentido, o Guru é fundamental, porque Ele não é uma entidade separada dessa Graça, dessa Presença, dessa Realidade. O Guru é esse fruto maduro, é a Presença da Graça, é a Graça na forma. Isso soa muito estranho para a mente dualista, em especial para a mente do ocidental, daquele nascido no Ocidente.
A figura do padre, do pastor, do rabino, do sacerdote, do líder religioso é sempre uma figura de autoridade, de “alguém” separado, como um tutor, um professor, mas um Guru não é um professor, não é um tutor, não é uma entidade separada. Eu falo do Guru, do único Guru. O Guru é essa Presença, essa Consciência, que pode assumir uma forma humana, mas não é uma entidade separada. A ilusão da separatividade é uma ilusão mental. É a mente que cria a “figura separada” da autoridade, na figura do tutor, do professor, do Guru.
Estamos falando de uma Presença interna, que é, simultaneamente, externa, que interpenetra tudo e todas as coisas. Não há separação entre você, em sua Real Natureza, e o Mestre, o Guru, a Presença, a Consciência, a Graça, a Verdade. O que eu falo para você, hoje, falo a partir dessa vivência aqui, do contato com Bhagavan, Sri Ramana Maharshi. Há algo presente nessa Presença... Há algo real, funcional e que faz acontecer todo esse trabalho.
Só há Você! Você é o Guru! Você é o Mestre! Você é a Consciência! Não estou falando desses pensamentos, sentimentos, e dessas sensações que passam aí, pois isso só passa, mas não é você, em sua Natureza Real. Você é o mesmo Guru que se apresenta do lado de fora, pois quando o discípulo está pronto (que é o Guru interno pronto) o Mestre (que é o Guru externo) aparece, sem nenhuma separação. É pela Graça do Guru que este trabalho acontece. Hoje estou aqui compartilhando com vocês aquilo que esta Graça, a Graça do meu Guru, trouxe a este mecanismo chamado Marcos Gualberto: essa Liberação, a Consciência de que “Eu Sou”. Esse “Eu Sou” é “O que Ele é”, e “O que Ele é” é o que Você é, que é Aquilo que eu sou.
Todo sentido de separação, de separatividade se dissolveu, entrou em colapso. Não há mais conflito e não há mais medo; não há mais a ilusão de alguém na experiência do mundo, e de um mundo separado de alguém. Você nasceu para realizar Isso, essa não separação entre você, Deus e o mundo. Essa não separação é a consciência dessa Consciência, é a Consciência dessa Realidade, é a ciência dessa Presença.
Sua Natureza Real é Amor, é Paz, é Verdade, é Silêncio, é Consciência, é Deus. Isso não é conceitual, não é verbal e não é uma crença. O momento para você é o de abandonar todas as crenças, todos os conceitos e teorias sobre isso. O convite a Satsang presencial é o convite a um trabalho real nessa direção, para se abandonar todos os conceitos, teorias, falas que geralmente se escuta, além de todos os livros e palavras. Chega um momento na sua vida que você percebe que não pode continuar com as crenças, teorias, e com os conceitos. Existem milhares e milhares de técnicas e trabalhos, todos prometendo uma certa harmonização, pacificação da mente, e um certo silêncio e equilíbrio. Não é disso que tratamos em Satsang. Estamos falando do fim do sentido de separação, do despertar da sabedoria, dessa Realização, dessa completude de sua real natureza.
Essa fala nesse encontro, nesse espaço, não serve para isso, pois é somente mais um conjunto de palavras sendo colocadas, como um alerta da não necessidade de palavras. Isso é como um toque de uma trombeta, em que você escuta a trombeta e toma uma determinada ação, não ficando agarrado ao seu toque. O propósito do toque da trombeta é movê-lo para uma determinada ação. Então, o "toque da trombeta", que é essa fala aqui sendo colocada, é para você ir além dela. Isso só é possível em Satsang presencial diante de um Mestre vivo, daquele que não vive mais nesse sentido de separatividade.
Um Mestre apareceu em minha vida no ano de 1986. De 1986 ao ano de 2007 um trabalho aconteceu aqui, período em que houve entradas e saídas nesse Estado de Silêncio, porém isso não foi um assentar, a finalização deste trabalho, nesse organismo, no mecanismo, na "máquina", isto só aconteceu no ano de 2007, naquela noite de junho de 2007. Durante estes anos um trabalho acontecia aqui, aconteceu aqui neste mecanismo, nesta máquina, tudo por sua Graça, em um contato muito direto. Eu não encontro palavras para explicar isso, não há palavras para explicar isso.
Não há como realizar Isto sem esta Graça, sem o poder desta Presença, a Graça de Sri Ramana Maharshi, o sábio de Arunachala, jay, jay, jay Gurudeva, por sua divina e inexplicável compaixão. Somente no olhar de Deus é possível ver Deus. Só pelo olhar de Deus é possível ter o olhar de Deus, aquilo que na Índia eles chamam de Darshan, o olhar do Guru. O olhar de Deus é esse olhar do Guru, da Presença, da Graça, e a Graça em seu olhar. É a compaixão do Guru, esse amor de sua Presença divina que faz florescer o coração do devoto, para o próprio reconhecimento de que não há separação entre ele e o Guru.
Esta noite, neste encontro, temos este momento de Graça, de Silêncio, de Presença, mas as palavras não podem comunicar isso. A realidade é que essa Presença continua viva. Na noite de 14 de abril de 1950, meu Guru deixou a forma. Nisargadatta morreu de câncer; Ramana Maharshi, também, morreu de câncer, e Jesus, na cruz. Contudo essa Presença não é a forma, não está no tempo da morte, mas além do nome e da forma; não é indiana, judia ou brasileira. Essa Presença é essa Consciência. Esse é o real Guru, aquele que está além do corpo, além de uma doença terminal, que só termina com o corpo. É isso...
*Transcrito de uma fala ocorrida em 30 de maio de 2016, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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