terça-feira, 31 de maio de 2016

Você é Deus e só há Ele

Nem presente do lado de dentro nem do lado de fora. O que você tem presente mesmo é essa Realidade, que não está dentro e não está fora. Essa Realidade, nós podemos chamar de Graça, de Consciência, de Presença, de Deus... É algo sempre presente, fora de toda a noção de espaço e de tempo.
A referência do pensamento é a referência das formas. Assim, vocês aprenderam que Deus está dentro, e eu estou aqui questionando isso. Não está dentro, não está fora. Dentro e fora são sempre da perspectiva do pensamento e não da Realidade. A Realidade é essa Presença presente sempre, aqui e agora.
É essa Realidade que faz os pássaros, lá fora, cantarem, faz as flores desabrocharem, faz as ondas baterem contra as rochas, faz o seu coração bater, faz essas nuvens flutuarem nesse espaço azul, que nós chamamos de céu, correrem de uma forma suave ou de uma forma mais veloz...
Essa Presença sempre presente, sempre aqui, sempre presente... aqui. Não está dentro, não está fora.
Sabe por que eu convidei você? Para lhe mostrar que você é essa Presença! Esse tem sido o meu convite a todos que vêm. Alguns estão no momento de receber esse convite e acolhê-lo, e recebê-lo profundamente no coração. E outros não estão no momento. Mas a minha mensagem ao mundo, o meu recado é: Você é Amor, Você é Felicidade, Você é Beleza, Você é Silêncio, Você é Deus!
Tem sido amargo, tem sido duro, tem sido difícil, porque você troca O que É pelo que não é. Você substitui, artificialmente, essa Realidade presente por esse ilusório movimento do pensamento no tempo, que joga você para o passado e para o futuro, que cria essa noção de dentro e fora, que faz você confiar nessa ilusão da pessoa – dessa pessoa que é só uma crença. Isso é uma ilusão.
Você é a Felicidade que Eu sou. Eu sou a Felicidade que Você é. Tempo, espaço... é só uma imaginação. Corpo, mente... só uma ideia. Dentro e fora também.
Não há necessidade de viver nessa ilusão, na ilusão criada, alimentada, fomentada pelo pensamento. Você pode ser livre! E essa Liberdade só pode ser realizada, vista, demonstrada a você como sendo Você para Você mesma, aqui, agora! É por isso que eu estou convidando você a abandonar o ego, a abandonar o sentido de ser alguém que se posiciona numa relação ilusória com o mundo.
Um exemplo disso são os nossos relacionamentos chamados afetivos, amorosos – todos baseados no medo, no desejo de ser alguém para alguém, ou de ter alguém para esse alguém que você acredita ser.
A Verdade não é isso! A Verdade é essa Realidade presente que faz os pássaros cantarem, as flores se abrirem, cada uma com a sua singularidade, com seu perfume, que faz cada nuvem no céu ser única, cada gota de orvalho, cada flor que se transforma num fruto, em uma árvore, e cada um desses frutos sendo únicos. No entanto, uma só Realidade presente, além dessa forma, desse nome, dessas cores, desses sabores, desses aromas...
Em Satsang, eu estou lhe dando uma escolha, que sempre foi negada a você. Toda a escolha que você conhece é a escolha que o pensamento engendra, algo imaginário. Isso significa andar em círculos, o que, de fato, não é uma escolha. Viver no ego não é uma escolha, é um andar em círculos.
Todas as suas conquistas, realizações, toda satisfação, prazer e preenchimento nessas relações – que você acaba transformando em relacionamentos egoicos, onde o ego se divide em dois, em observador e coisa observada, em amado e aquele que ama – sempre terminam num círculo vicioso de dor de sofrimento.
Estou lhe dando uma escolha – a única possível, a única real. Essa escolha significa deixar de escolher, deixar de estar no tempo como uma entidade separada. Significa estar no coração de tudo e ter o coração de tudo dentro de você. Significa abandonar a noção de dentro e fora para ser tudo e nada, para estar aqui e em toda parte.
Satsang é isso: o encontro com O que É, o encontro com a Realidade, o encontro com você mesma, com você mesmo.
Você é Deus! Deus se vendo, Deus se olhando, Deus em namoro consigo mesmo. Deus se encontrando. Só aqui existe o que ama e o que é amado, Deus e o devoto, o Guru e o discípulo. É nesse sentido que o Guru é fundamental, porque é o Guru que lhe mostra isso.
Você olha para uma roseira e observa que algumas flores já não são mais botões, elas desabrocharam. Algumas ainda estão em botão, e outras estão em toda a sua Graça, em toda a sua Glória, em toda a sua expressão de rosa. O Guru é uma rosa que desabrochou. O discípulo é uma rosa em botão. Mas é uma promessa, uma bela, linda, indescritível, extraordinária promessa. Já está tudo aí! Não há separação na roseira! É uma só roseira, a mesma Vida! O toque na roseira é o toque da mesma Graça, da mesma Presença! Uma só Vida, uma só seiva, um só Ser!
O Despertar, a Iluminação, a Realização, o nome que você quiser dar para isso, significa o florescer de sua Natureza Real, inata, O que Você é, agora, aqui. Por isso, vocês estão vindo. Outros virão também.
A música da minha flauta encanta o coração! E, quando você vem, se reconhece, estando na roseira, sendo parte disso, sendo isso, sendo tudo isso!
Você nasceu para ser o que Você é! Nada além disso, nada menos do que isso! E isso significa ser Deus! Só há Ele! A única roseira, a única rosa, todas as rosas! Os espinhos também fazem parte. Tudo faz parte. A rosa não se fere com os espinhos, eles não fazem mal à rosa, nunca atingem as suas pétalas, o seu perfume, a sua dança ao vento quando ele sopra, a sua delicadeza... nada disso, os espinhos ferem.
O Guru chega primeiro, mas, aqui, o primeiro e o último não têm relevância. Uma flor que desabrocha antes não faz dela um ser separado, um ser diferente, um ser especial. O Guru é importante, não porque ele é especial, mas porque, Nele, podemos ver Aquilo que somos, podemos sentir o perfume que nós também temos, podemos ver como é bela a dança que a roseira faz quando o vento sopra, e ver também que os espinhos estão ali, mas que tudo faz parte dessa roseira.
Eu quero isso, esse é meu único interesse: que você abandone a ilusão da escolha, a ilusão de estar no tempo, indo para algum lugar para ser feliz lá, ou para estar em completude. Meu único interesse é que você abandone a ilusão de estar buscando isso fora, de tentar isso dessa forma.
Deus é a única necessidade, é Aquilo que não pode ser substituído, é Aquilo que não está fora, que não está no poder, na riqueza, em relacionamentos, em conquistas pessoais... Absolutamente! Ele está aí, olhando para mim agora, atrás desses olhos!
É isso! E é só isso!
*Transcrito de uma fala ocorrida em abril de 2016, num encontro presencial, no Ramanashram Gualberto em Campos do Jordão/SP. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Realização: O fim do sentido de separatividade

Realização, Iluminação ou Despertar são palavras que são usadas, geralmente, como sinônimos desse Estado livre da mente egoica. Esse é um Estado, simplesmente, livre da mente egoica. Não tem nada a ver com a presença ou a ausência do corpo.
A Realização, o Despertar, a Iluminação, não é, necessariamente, o fim do sonho dessa aparição corpo-mente, mas é o fim da ilusão do sentido de separatividade. O que termina não é o corpo; a única coisa que termina é o sentido de separatividade. O corpo está bem no lugar dele. A mente, no sentido de memória, cognição, intelecto, também está bem no lugar dela. A única coisa que termina é o sentido de separatividade. Esse sentido de separatividade é aquilo que representa toda miséria, todo sofrimento, toda essa ilusão da ignorância. Não há ignorância, assim como não há sofrimento! O sofrimento, assim como a ignorância, está dentro dessa ilusão da separatividade; mais do que isso: é pura fantasia! O corpo e a mente são só aparições.
A realidade Divina, a realidade de Deus, é essa realidade da não-separatividade, da não-dualidade. Dualidade, aqui, implica a ideia, a crença, a imaginação de um "eu" presente na experiência "corpo-mente-mundo". Então, a ilusão de uma identidade chamada "mim", "eu", nesta experiência "corpo-mente-mundo" é a dualidade. Assim, existe o "eu" dentro do corpo, o mundo fora do corpo e o corpo como parte do mundo – essa é a dualidade. E, acima desse "eu" e do mundo, está Deus. Deste modo, essa separatividade, esse sentido de separação, é a ilusão da dualidade. É basicamente isso. É só isso que termina. Nada mais muda! Você não se torna um ser especial, maravilhoso, com poderes miraculosos. Nada disso!
O corpo não é o problema, ele é só uma aparição, assim como à noite você tem a aparição do mundo no sonho e um corpo para viver isso. E esse corpo também não é você, porque logo que você acorda pela manhã descobre que aquilo era só uma imaginação – tanto o seu corpo quanto seu mundo no sonho. E olha que a experiência do sonho, para você, é muito real! Se você está tomando banho no rio, no sonho, a água é bastante fria; se você está andando debaixo de um sol, ele é bastante quente; se tem sede, no sonho, a água do sonho mata a sua sede. Assim, você tem um corpo, tem um mundo e tem uma experiência neste mundo específico de sonho. Essa experiência é a experiência de um sonhador, e esse sonhador é só a ilusão de uma identidade presente no sonho.
Então, a experiência de ser humano também é a mesma coisa. Na mente egoica, você se vê como um ser humano. Você vê pedras, animais, plantas, rios, mares, florestas, desertos, sol, lua, estrelas, etc. Você vê isso tudo como um ser humano, como algo separado de você, e isso está só na imaginação também, está só no movimento mágico da mente. Esse é o sentido de separatividade, e é só isso que termina no Despertar, na Realização. Parece muito pouco, mas eu não sei se dá para medir o volume dessa "coisa", se dá para aferir medidas nisso. O fim da dualidade, que é o fim dessa separatividade, é o fim de todo o mundo, de todo esse "seu mundo".
Participante: E quanto às experiências extraordinárias que nos contam?
Mestre Gualberto: Não são os sábios que contam essas experiências extraordinárias. Não há nenhuma experiência extraordinária no Despertar. O Despertar é o fim de todas as experiências. Enquanto houver um experimentador, haverá experiências, e, quanto mais sutil e espiritual for o experimentador, mais sutis e mais espirituais serão suas experiências.
Participante: E os satoris, Samadhis?
Mestre Gualberto: Satori é uma palavra Zen, e, se você observar, você vai descobrir que, dentro do Zen, satori é o fim da experiência, não é bem uma experiência. Samadhi também é o fim da experiência, não é uma experiência. Satori e Samadhi remetem ao seu Estado Natural. Nesse seu Estado Natural, Deus não é espiritual. Falo dessa Realidade Divina que é você, em sua Natureza Real. Você é Deus, em sua Natureza Real, e isso não é espiritual; isso é bem natural. Não é ordinário, no sentido que empregamos essa palavra, não é algo comum, mas é bem natural.
O estado livre da mente egoica, livre da mente separatista, dessa mente que divide, que compara, que avalia, que julga, que prejulga, que deseja, que teme o seu fim, que tem relances DISSO, "insights" DISSO, podemos chamar de satori ou Samadhi. Mas, se isso também não assenta no organismo, nesse mecanismo corpo-mente, aí passa a ser, também, só mais uma experiência da qual a mente se recordará, se lembrará. Isso não é real nela, e aí o que ela faz? Ela relata isso como uma experiência. Ela só pode contar isso como uma experiência, mas esse não é o Despertar. No Despertar não existe mais o experimentador. Sem o experimentador, não há mais experiência, então não fica "alguém" para contar algo.
Quando a Paz, a Liberdade, a Felicidade, o Amor, o Divino, a Consciência, Deus, ISSO está, não há experimentador. ISSO é o fim desse "você", que você conhece.
Hoje, nós estamos falando diretamente do Ashram, neste espaço aqui em Campos do Jordão. Nós temos cerca de trinta participantes conosco aqui no salão do Ramanashram, e temos vocês aqui nessa sala virtual do Paltalk. Somos mais de dez aqui, então nós estamos em cerca de quarenta pessoas. Isso parece ser assim, mas não é verdade também. Essa é a magia, essa é a mágica desse mundo Divino, desse mundo da Graça, desse mundo de Deus.
As aparições são aparições Naquilo que não aparece nunca, Nisto que não aparece nunca, que não se separa, que não se divide em meninos e meninas, em homens e mulheres, plantas, animais, céu, estrelas, lua, salas virtuais e salas não virtuais.
Esse trabalho não exige de você uma compreensão técnica especializada. Não é como estudar Química, Física ou Medicina. Você não precisa de um conhecimento especializado. Na verdade, o lado inusitado deste trabalho é que aqui se trata de desaprender tudo o que você aprendeu. Aqui, se trata de uma desconstrução de tudo que tem sido construído ao longo de todos esses anos, ao longo de toda história, de toda cultura, de toda civilização, de toda espiritualidade, enfim, de tudo isso. Aqui, o Despertar, que é o florescer da Sabedoria, que é o desabrochar da Felicidade, que é o reconhecimento da Verdade Suprema de Deus, é só o constatar de sua Real Natureza. Não tem nada a ver com especialização, com formação, com capacitação, absolutamente. Você aqui desaprende! Quando você desaprende tudo, o Sábio floresce!
O Sábio está na contramão. Todos estão indo numa direção e o Sábio está voltando. Por um bom tempo, todos vocês foram treinados a caminhar em uma direção. Quando Satsang chega (Satsang significa "encontro com o que É", uma palavra indiana para "encontro com a Verdade") nós recebemos um convite interno para a constatação dessa Realidade que somos, e isso significa voltar. Há todo o nosso condicionamento caminhando para uma direção e agora o convite é voltar; nós temos que fazer o caminho de volta. Tudo isso foi só um afastamento, e agora a gente tem que voltar... voltar para Casa. Nos afastamos de Casa com nossos projetos, nossos sonhos, nossos desejos, nossas buscas, nossas conquistas, nossos acúmulos... A ideia era "ser alguém", e agora estamos voltando para Casa; estamos desaparecendo. Estamos desistindo dessa empreitada, desse empreendimento; estamos percebendo o equívoco de tanto esforço para ser, esquecendo de ser. Todo esforço para "ser" o afasta de Ser. Toda procura da felicidade é o próprio impedimento da constatação da Felicidade que não se procura. A busca e a procura de uma realização o afasta do reconhecimento de que tudo está no lugar e já está pronto. Não há nada para ser realizado, muito menos por "alguém". Então, você termina fazendo um caminho contrário. Você agora está voltando para casa, voltando para sua Natureza Real, que é Consciência, que é Presença, que é Deus, que é Verdade. Se você não gostar de uma dessas palavras, pode riscar uma delas. Não vamos precisar de nenhuma delas mesmo.
Um dia, alguém me disse que gostava muito das minhas falas, mas que não ficava à vontade quando eu usava a palavra "Deus". Aí, eu fui bem generoso com ele: todos os encontros eu só usava a palavra "Deus". No lugar das palavras "Consciência", "Presença", "Ser", eu falava "Deus", "Deus", "Deus", "Deus". Ou você desiste de mim ou desiste de você com seus preconceitos.
Neste trabalho, todos vocês precisam ir além de toda a configuração da mente egoica. Isso tem uma extensão, uma dimensão e uma complexidade que vocês não fazem ideia. Só começam a ter uma leve noção disso em Satsang. Leve, porque é preciso ir devagar, em dosagens homeopáticas. A mente egoica carrega tanto peso, tanto condicionamento... um condicionamento milenar! Você talvez só tenha três decênios. Há alguns aqui na sala, no Ashram, e também aqui na sala virtual, pelo Paltalk, que talvez tenham três decênios, quatro, cinco, seis ou sete. Isso não é nada! Sete decênios não são nada! Oito, não é nada! Estamos falando de milhões de anos. Desde quando você era uma ameba, um ser unicelular, já estava aprendendo, descobrindo o lado externo, e começando a sua viagem para o lado de fora, fisiologicamente e psicologicamente.
Não subestimem as plantas, nem mesmo as pedras. Todas têm mente e consciência. Você não pode esquecer que, quando falamos de consciência, não estamos falando de habilidade de cognição, de julgamento, de comparação. Isto está dentro apenas do intelecto desse, assim chamado, ser humano, e de algumas espécies animais. Quando falamos de consciência, estamos falando de experimentação, do poder de experimentar e de "se separar". Quando isso está muito avançado, como acontece no ser humano, essa consciência se experimenta nessa ilusão de "ser o agente", o autor das ações. É aí que surge o sentido do "eu", de um experimentador na experiência, de uma forma muito "clara", muito "precisa", muito "responsável". Mas isso é para um outro Satsang. Por enquanto, basta apenas ficarmos aqui, nesse momento, tomando consciência de todo esse movimento, sem nos identificarmos com ele, sem darmos a ele essa singularidade de um experimentador, de um observador, de um autor presente dentro disso. Chamamos isso de Meditação.
Meditação é essa liberdade de ser. A experiência fica só como experiência, sem "alguém" dentro dela. O pensamento fica só como pensamento, sem "alguém" responsável por ele. O sentimento fica só como sentimento, sem "alguém" responsável por ele. Assim, também, é com a emoção.
Eu me sinto muito à vontade nessas falas, porque eu não me sinto responsável por sua capacidade de compreendê-las, pois eu também não compreendo nada. Aqui, a coisa mais importante é ouvir.
Se nós pudéssemos enquadrar a Sabedoria dentro do entendimento razoável do nosso intelecto, a Sabedoria não seria o que Ela é; o intelecto não seria o que ele é. Mas, como só se pode ter uma coisa e não outra, não dá para ficar com as duas.
Esse canal aqui, pelo Paltalk, é uma oportunidade que vocês têm para a gente ter um primeiro contato. A coisa para valer acontece no presencial mesmo. Eu sei que é muito confortável estar agora sentado no sofá, na sua casa, ouvindo essa fala, tomando um suco, ou um copo de refrigerante, mas é necessário sair dessa zona de conforto e vir a Satsang, estar em Satsang presencialmente.
Nós estamos falando sempre de uma mesma Presença, de uma mesma Realidade. Essa é uma bela oportunidade, uma oportunidade de estarmos juntos nesse Silêncio.
O "eu" é uma tremenda ilusão, uma grande ilusão, a única ilusão, como foi colocado agora há pouco aqui.
Participante: Mestre, se o "eu" é ilusão, o que, ou quem, busca a autorrealização, a auto-transcendência?
Mestre Gualberto: É uma boa pergunta que você precisa fazer para si mesmo: "quem sou eu?" Se você entrar a fundo na investigação desse elemento que busca essa autorrealização ou transcendência, você vai descobrir que esse elemento não existe. Então, a gente se encontra diante de um paradoxo. Essa é a beleza da Verdade! Essa Consciência presente, sempre presente, não se importa com essa ilusão da separatividade, não reconhece isso como sendo real. Essa ilusão da separatividade, essa suposta entidade separada, não existe. Então, como ela pode buscar essa verdade do fim dela mesma? Logo, não há resposta para a pergunta "quem sou eu?", mas há um fim para essa pergunta: o fim da ilusão de "alguém" para perguntar isso – o fim do perguntador. Aquele que faz a pergunta não é real, por isso não pode encontrar uma resposta, e aquele que faz a pergunta não tem a quem perguntar, então não há resposta para ser encontrada.
Essa autoinvestigação, na verdade, não é autoinvestigação; é só investigação, sem um investigador, sem nada para investigar. Aí ficou mais fácil! (risos)
Na realidade, o mundo, ou a experiência "eu no mundo", é só aparente. Essa é que é a chave! Não estamos lidando com a realidade, porque nós não existimos. A realidade é que está lidando com tudo isso... uma grande brincadeira cósmica... uma grande brincadeira! O Despertar revela isso! Tudo isso é uma grande brincadeira, um grande jogo Divino!
Vamos ficar por aqui. Até o nosso próximo encontro. Namastê!
*Transcrito de uma fala ocorrida em 6 de maio de 2016, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Por que buscamos relacionamentos?

Você sempre se basta como Consciência! Essa necessidade de preenchimento egoico é só uma fantasia, é uma ilusão. Nessas escolas de psicologia, de esoterismo, de terapias dizem que é necessário encontrar a autoestima, encontrar a alma gêmea, encontrar o outro, que isso é uma necessidade. Isso não é uma necessidade! Mas falar dessa necessidade de ter alguém, de ter um companheiro, de ter amigo, de viver em sociedade é uma coisa comum, uma coisa social, educacional, uma coisa de padrão egoico, de padrão do mundo, de afirmações de supostos conhecedores da mente humana, do ego humano.
As relações sempre serão importantes, mas os relacionamentos nunca. Importância zero! Relações são aquelas que você tem com o padeiro, com o motorista de táxi; é o que você tem com o filho quando você não é um jogo na mão dele. Quando ele manipula você, não é relação, é relacionamento.
Então, relação sempre acontecerá. A vida é pura relação, a vida está em relação! Está em relação com o ar, com as árvores, com a água, com o garçom, com o advogado, com o médico, com o padeiro, com o caixa do banco, com o namorado, com a namorada..., mas é só isso.
A afirmação de uma identidade na relação é relacionamento. E essa afirmação é uma negação de sua Real Natureza, de sua Verdadeira Identidade, de sua Natureza Real. Essa é uma afirmação de relações entre imagens e não há vida em relações assim. Entre imagens, as relações são imaginações, algo como um mundo paralelo ao mundo que É... o mundo que É e o mundo paralelo, imaginado pelo pensamento, por esse movimento de imagens – imaginações. Aí está todo o conflito. Aí está toda miséria humana, todo sofrimento humano.
Eu digo todo sofrimento humano porque, na Natureza, esse padrão de comportamento é inteiramente desconhecido. Eu não diria que isso é desconhecido por liberdade da Natureza, mas por inconsciência na Natureza. Com o aparecimento do homem, aparece uma consciência inconsciente, mas ainda sim, uma inconsciência presente nessa única Presença. Então, o conflito não aparece – ou não de forma tão evidente – como acontece entre esses assim chamados seres humanos. Esses assim chamados seres humanos podem realizar sua Verdadeira Natureza. Essa sua Verdadeira Natureza é a Pura Presença. A mesma Presença por detrás de toda Natureza.
A sua relação com a mente e o corpo deve ser a sua relação com pessoas e com o mundo. Uma relação é essa Consciência desidentificada da experiência do viver. Quando Isso está presente não há conflito, não há sofrimento, porque não existe esse elemento psicológico que se firma e se afirma constantemente em imagens.
Participante: Tanto negando ou rejeitando as coisas, como muito eufórico porque é do jeito que você quer. A mente também tem isso: ou está muito feliz ou está reclamando porque não está do jeito que ela quer.
Mestre: Imaginações. Percebam que é sempre uma relação entre imagens. Assim a mente egoica se porta, se coloca, se relaciona com o corpo, com a mente, com as pessoas e com o mundo: dentro dessa imaginação. E isso é sofrimento, isso é conflito.
Eu estou dizendo para você, em Satsang, que essa ideia da necessidade de estar nesse movimento de relacionamento com a vida, com o corpo, com a mente, com pessoas e com o mundo é uma crendice. Tudo que se faz necessário é a relação. A vida é relação porque tudo está num estado de relação com uma outra coisa. Mas, mais importante que o sentido da palavra "relação" ou "relacionamento" é o sentido disso, é a Consciência presente livre de imagens. A Consciência presente livre de imagens é o que eu chamo de relação.
Você transforma o objeto que aparece na relação quando um sujeito aparece. Ou melhor, você cria um objeto na relação quando um sujeito lhe aparece. Aí, isso é transformado em relacionamento e todo o peso do relacionamento aparece implicado nesse momento. E está implícito, nesse movimento, o medo. Essa fala é para tornar claro para você que, se não há relacionamento nesse instante, nesse momento, não há objeto e não há sujeito.
Isso é a morte de uma identidade psicológica, o colapso dessa ilusão de uma identidade nessa experiência. Isso é o fim do "eu", o fim do "mim". Se o "eu" termina, o "outro" termina. Se o "mim" termina, o "meu" termina: meu namorado, meu marido, meu filho, minha mãe, meus avós, minha casa, meu carro... O fim do "mim" é o fim do "meu"; o fim do "eu" é o fim do "outro". Fora isso, qualquer outra coisa, é só um movimento de pensamento criando uma história nesse mundo paralelo, nesse suposto mundo real, que é o mundo da imaginação, o mundo da miséria, o mundo de dukkha, como se diz no budismo – o mundo do sofrimento.
A morte é algo presente somente quando algo termina. No ego, você jamais conhece a morte; o ego representa continuidade. Se ele não continua nesse mecanismo aí, ele continua em outros mecanismos. Não há pensamento na morte. Eu falo dessa morte onde não há imaginação, eu falo dessa morte do movimento do pensamento e da imaginação. Se essa morte está presente, o movimento do pensamento não acontece. E quando ele não acontece, imagens não se movem, e então, não existe imaginação – as ações de imagens. E quando isso não está presente, só fica o que É, e no que É, não há conflito, não há qualquer sofrimento.
Acompanham isso?
Estamos falando da vida sem "você". Eu chamo isso de "deixar o mundo em paz". Se você deixa o mundo em paz, o mundo não te perturba. O único mundo que pode perturbar é o mundo da imaginação, o mundo que o pensamento cria e você, nessa ilusão de ser alguém, sustenta. Sustentar isso, é um esforço muito pesado. O que eu estou dizendo é que não há esforço em viver desidentificado do ego. Mas há muito esforço para sustentar a imaginação de ser alguém num mundo imaginário criado pelo pensamento.
Em outras palavras, Felicidade não requer esforço, infelicidade requer muito trabalho. Para ser feliz, basta a Felicidade; para ser infeliz, basta desejar, procurar, buscar a Felicidade. Aí está o esforço, aí está a imaginação de algo a ser encontrado por alguém que acredita poder encontrar. Enquanto essa crença se mantém, aquilo que está presente nesse instante – e que nunca está ausente – nunca será constatado. Então, aquilo que está agora, aqui, entra no tempo, é jogado num futuro imaginado pelo próprio pensamento. Está tão patentemente claro, é inegável, presente, constatável, aqui e agora..., mas vai para uma dimensão nesse mundo imaginário do pensamento que jamais será presenciado, jamais será demonstrado, jamais será reconhecido.
Ouviram isso?
Você não dá um salto para fora da mente, você não entra no presente momento. Simplesmente, você se desidentifica do pensamento. E o futuro, esse tal futuro inalcançável, inatingível, que nunca será demonstrado, tudo isso termina imediatamente, na totalidade desse instante. É aqui que todos os relacionamentos terminam. Nessa Consciência não há relacionamentos. Isto é sua Natureza real, atemporal, inominável, não conceitual, sua única expressão.
Sua Natureza Real é a expressão do Silêncio que é plenitude. Nada falta, de nada precisa, nada reconhece separado Dela. Essa é a minha canção! Alguns estão ouvindo a minha música! Vocês estão ouvindo?
Ouvir essa sinfonia do Silêncio, descobrir aqui que não há nada lá!
É isso aí!
*Transcrito de uma fala ocorrida em abril de 2016, num encontro presencial, na cidade de Fortaleza/CE. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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