quarta-feira, 15 de julho de 2015

Investigando a natureza da experiência

Esse é mais um encontro onde a natureza da experiência é investigada. Aqui investigamos a natureza da experiência e, ao investigá-la, nós percebemos claramente algumas coisas: a primeira é a dependência dessa experiência de sua Fonte, portanto, a primeira coisa importante é compreender que nenhuma experiência está separada da Fonte.
Nós temos equivocadamente creditado à experiência uma independência que ela não tem, e temos como exemplo disso o próprio pensamento. É interessante notarmos que nós valorizamos o pensamento em detrimento da Fonte, pois, para nós, ele tem muita importância, e uma autonomia, independência e valorização muito grandes. Então, a primeira coisa está neste engano. Em razão disso, você se confunde com o pensamento, porque ainda não está claro que ele não é algo independente. Isso ainda não ficou claro para você.
Não há nenhum pensamento que esteja separado da Consciência, desta Consciência. O pensamento é somente um aparecimento, uma aparição; ele não é independente da Consciência. Então, a segunda coisa aqui é a intermitência, pois o pensamento é algo intermitente, enquanto a Consciência permanece sempre presente. Durante o dia, seus pensamentos estão sempre mudando, mas a Fonte, onde eles aparecem, não muda. Então, os pensamentos são intermitentes, enquanto a Fonte permanece imutável. A Consciência permanece imutável, enquanto os pensamentos permanecem mutáveis e intermitentes.
Portanto, esse é o segundo aspecto claro e importante da experiência, e, aqui, a gente usa o exemplo do pensamento, mas isso pode ser visto, também, em toda e qualquer experiência emocional. Ela não está separada da Fonte, em primeiro lugar, e, em segundo lugar, ela é intermitente, mutável. Um outro aspecto de toda e qualquer experiência, seja um pensamento, uma emoção, uma sensação, é que estamos diante de algo limitado, e o sinal dessa limitação está no fato de poder ser descrito, além de estar centrada em um determinado mecanismo, organismo. A experiência é algo que acontece para alguém, como pensamento, emoção, sentimento; algo muito particular, pessoal, e, portanto, algo muito limitado.
Aqui, investigamos, ainda, o terceiro aspecto muito claro de toda e qualquer experiência. Nosso interesse em Satsang vai além dessa natureza intermitente e limitada, e ilusoriamente autônoma, que é a natureza de toda e qualquer experiência. Nosso interesse em Satsang está na Fonte, que É a Consciência. A Consciência é essa Presença não pessoal, não intermitente, não mutável e não limitada da experiência. Aqui, a sua vida centrada na mente egoica é a vida centrada na natureza da experiência, que é intermitente, mutável e limitada. Aqui está a "pessoa" e você se confunde com isso; você se confunde acreditando "ser alguém", uma "pessoa" vivendo uma vida pessoal, particular, dentro dessa intermitência, mutabilidade e limitação da experiência – aqui está o "eu".
Tudo em sua vida, com base no pensamento, na emoção, no sentimento, na interpretação dada a qualquer sensação, está baseado nisso. Acompanham isso? Essa é só mais uma forma de falar, para você, aquilo que temos falado, e estamos falando, vez após vez, após vez. Palavras diferentes, tratando sempre da mesma coisa, dessa ilusão de "ser alguém", mas de uma forma mais dura, eu diria. De uma forma mais direta eu diria: a ilusão do sentido da "pessoa", presente nesse instante, não é real!
Não há absolutamente "alguém" presente. Essa intermitência,"essa autonomia", essa limitação da experiência estar confundida com isso é somente a ilusão de "alguém", agora, aqui. Não tem "alguém" agora, aqui; não tem você dentro desse corpo, agora, aí. Essa experiência sensorial de ouvir tem exatamente essa qualidade, carrega esses aspectos. Eu aqui enumerei apenas três aspectos, porém, na verdade, há muitos outros aspectos ligados a essa experiência, mas não tem "alguém", agora, aqui, dentro do corpo. Não tem você ouvindo, pois esse ouvir é só uma experiência não separada da Fonte, que é Consciência. A Consciência não sabe nada sobre intermitência, autonomia e limitação; Ela não está interessada, como a mente egoica está, em traduzir, interpretar, tentar fazer ou acreditar poder fazer alguma coisa com isso tudo.
Enquanto você mantém a ilusão desse personagem, que você acredita ser, confundido com essa limitação, que é a limitação da experiência, acreditando ser o experimentador disso, uma "pessoa" nisso, a ilusão se mantém. Então, o sofrimento da pessoa é a ilusão de que a limitação da experiência é a vida de "alguém". Sem a ilusão desta experiência, da identificação com ela, que é supostamente autônoma, intermitente, ilimitada, não há sofrimento, e assim a Vida se revela Naquilo que se apresenta, como Isso que É, como Aquilo que É. Claro isso?
Então, eu lhe recomendo abandonar a ilusão de estar identificado com o corpo e suas experiências. Estar identificado com o corpo e suas experiências é acreditar ser "alguém" presente, e, assim, a vida não é a Vida, é só a "minha vida", e a "minha vida" é ilusão, a ilusão do "eu estou aqui", "eu sou alguém". Desta forma, o que está acontecendo tem sempre que favorecer esse "alguém que eu sou", dar tudo certo para esse "alguém que eu sou", e estar tudo sob o controle deste "alguém que eu sou": "eu não tenho isso, mas preciso ter"... "Eu não ganhei, mas preciso ganhar"... "Eu perdi, mas eu não aceito". E assim nós temos muitos modos de fazer uma aproximação equivocada daquilo que acontece, disto que acontece. Você está viciado nisto, em ser "alguém"; você é uma figura muito importante. Tudo o que aprendeu, até hoje, foi para ajudar você a "ser mais você". Você ouviu muitas falas, leu muitos livros, teve muitos estímulos. Existem milhares e milhares de livros de autoajuda e todos eles estão prontos para "ajudar você" a acreditar em "si mesmo".
Participante: As necessidades físicas e financeiras nos prendem. Há uma identidade pessoal, cheia de responsabilidades e de ocupações. Até posso não me preocupar muito, mas a necessidade de ter dinheiro e cuidar da família, sempre, estão ali. Acho difícil lidar com isso.
Mestre Gualberto: Sendo assim, livre-se de tudo. Livre-se da ideia de que está dentro do corpo, de que é "alguém" presente dentro do corpo. Livre-se da ilusão de ser "alguém". Assim, a ilusão dessas necessidades financeiras e dessa ilusória identidade pessoal, cheia de responsabilidades e ocupações, desaparecem.
Você continua dizendo: "Até posso não me preocupar muito, mas há a necessidade de ter dinheiro e cuidar da família". E eu lhe digo: livre-se da família. Vá além da ilusão de ter alguma coisa, de estar em relação com um mundo do lado de fora, de ser responsável por este mundo; vá além da ilusão de ser dono, proprietário, de alguma coisa chamada família. Livre-se da ilusão de ser "alguém", e aquilo que você, hoje, chama de família continuará aparecendo, mas não mais nessa ilusão de responsabilidade de "alguém" que pode, com seus esforços, ganhar dinheiro e cuidar dela.
Se isso não ficar claro, você continuará dizendo "eu acho difícil lidar com isso" e não é verdade. Não é difícil lidar com isso, simplesmente porque é impossível lidar com isso. O ego jamais pode lidar com algo, ou cuidar de qualquer coisa, porém carrega a ilusão dessa identidade pessoal, cheia de responsabilidades, de preocupações, sendo dona, poderosa, e tendo que ganhar dinheiro e cuidar dos outros, que chama de família. Vá além dessa ilusão de ser "alguém", e a vida cuidará de tudo, como sempre fez, sem a sua autoimportância nisso, sem essa ilusão de ser "alguém" dentro disso.
Você não dá uma única respiração porque pode, ou porque quer, entretanto, mesmo assim, se orgulha de ter o poder de ganhar dinheiro e de cuidar de uma família, composta de uma esposa, de dois, três ou seis filhos. Você não sabe, nem mesmo, se vai despertar pela manhã no dia seguinte, e, mesmo assim, acredita, que é o seu trabalho que lhe dá o dinheiro e o poder de cuidar de uma família. Tudo ilusão. Você não controla, nem mesmo, sua digestão, porém acredita ter o poder controlar o futuro dos seus filhos, de cuidar da saúde da sua família. Você não é dono nem do próprio corpo "que tem", mas acredita ter uma grande família, e uma grande responsabilidade de cuidar dela. Isso é real? Quando fala de necessidades do corpo, ou fala de necessidades físicas, isso é problema seu ou problema da existência? Quem cuida desse corpo, que você diz que "é seu", é a mesma Presença que o faz respirar, ter a digestão, a excreção e tudo o mais.
A única coisa que realmente importa é perder essa ilusão de estar no controle, de ser "alguém" aí. Livre-se da ilusão de ser "alguém", que a vida continua, o corpo continua, a família continua; tudo continua, mas a ilusão de "ter tudo isso" termina. A ilusão de ser "alguém", nisto tudo, termina, porque não há mais "ego", não há mais "eu" ou "mim". Ok?
Sua única obrigação, seu único dever, a única coisa que você, de fato, precisa fazer, é cair fora disso; cair fora de toda essa ilusão. A única coisa que lhe compete fazer, é abandonar o sentido de separação. A única coisa que você está fazendo aqui, seu único dever real, é abandonar a ilusão de ser "alguém". Só há um propósito, que é o de realizar sua Verdadeira Natureza. Ninguém pode realizar Isso em seu lugar, portanto este é o seu único dever: realizar Isso, nesse instante, aqui e agora.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 08 de junho de 2015, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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