segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Todo pensamento é uma mentira

Você não consegue segurar um pensamento, bem como um sentimento, um desejo, uma emoção. O pensamento é uma grande fraude! O que você "pensa do outro” não é Você quem pensa; é o pensamento que pensa. É só o pensamento que pode pensar! Ou você acredita que tem outra coisa fora do pensamento pensando? É tudo pensamento. Eu vejo vocês há mais tempo comigo, em Satsang, e nem a primeira lição pegaram ainda: vocês estão dia após dia produzindo crenças – ou melhor, vocês estão reproduzindo crenças; tocando de novo, de novo e de novo as antigas, velhas, crenças. Aí eu digo para vocês: pensamento é só pensamento, só imaginação! O ego vive disso, e esse é o combustível que faz esse "carro" andar! Não é nem o sentimento, é o pensamento.
O pensamento é a base do tempo, o sentimento não. O sentimento não se repete; o pensamento, sim. O sentimento não tem nome; o pensamento nomeia o sentimento e diz que é o mesmo sentimento, e não é o mesmo. O sentimento é sempre algo novo surgindo; o pensamento é sempre algo velho aparecendo. O sentimento é sentido agora; o pensamento é produzido na ilusão do passado, do futuro, do tempo.
Está aí...! Eu não havia atentado para isso: o sentir acontece agora, o sentimento acontece agora, mas o pensamento acontece na ilusão do passado, do futuro e do presente. O pensamento é imaginado, o sentimento é sentido.
Então, percebam que é muito fácil ver o quanto o pensamento não é confiável, mais do que qualquer sentimento!
Participante: Existe algum sentimento que o pensamento traz, como uma lembrança, por exemplo?
Mestre: O sentimento que o pensamento traz é uma fraude, porque ele não tem nenhuma realidade presente naquele instante. Ele só tem a realidade do tempo da imaginação, que é a memória. Então, o ego produz o sentimento para confirmar a veracidade daquela memória, daquele pensamento. É o sentimento mais estúpido que existe, como o sentimento da saudade, da solidão, da mágoa, do rancor, do ressentimento, da perda. Ninguém está perdendo nada, pois não existe nada de real em um sentimento de rancor – rancor é uma suposta entidade presente, vivenciando uma suposta sensação chamada, agora, de sentimento, e isso não é real. Isso é o pensamento dando confirmação, através de uma história, a um sentimento que ele mesmo produziu. É só o sentimento que o pensamento pode produzir. Esse sentimento é tão ilusório quanto a ilusão do tempo, desse tempo psicológico, da memória, do passado, do que foi e do que aconteceu, do chamado assim ressentimento, mágoa, rancor. Então, é uma espécie de sentimento específico.
Mas o sentimento em si, como uma resposta fisiológica, biológica, a esse instante, é outra coisa! Por exemplo: você vê uma cena e aquilo cria um sentimento; aquilo é muito real, no sentido de estar aparecendo agora, sem uma ingerência de tempo, sem uma conotação de tempo psicológico, de passado, mas é só um sentimento. Aí, o pensamento aparece e se apropria daquele sentimento, dá continuidade àquele sentimento para poder existir como uma entidade separada, fortalecendo "alguém" nesse sentir. Porém, não tem "alguém" nesse sentir, só tem o sentimento. Uma cena emociona-o: é só a emoção. Uma cena jamais vai emocioná-lo, porque você não existe como entidade separada para viver uma emoção, para ser "alguém" numa emoção: só tem a emoção. Esse sentimento presente da emoção é algo real, naquele instante; real no sentido de ser uma aparição naquele instante, mas não é real porque não permanece, vai embora... Tudo vai embora.
O pensamento ama histórias, então cria uma história a respeito de um sentimento, de uma emoção, de uma sensação, e coloca uma entidade presente naquela assim chamada experiência. O pensamento não é real, mas o sentimento ali presente é real, pelo menos naquele instante. Contudo, no momento seguinte, ele, também, já foi embora; assim, ele também não é real, embora ainda seja mais real do que o pensamento.
Então, o sentimento como uma aparição está ok. Mas o pensamento é a coisa mais estúpida que vocês alimentam, porque todo pensamento, sem exceção, não tem verdade nenhuma fora da imaginação! O sentimento não é imaginável, mas o pensamento sim.
Assim, a primeira lição que vocês têm que tomar em Satsang é: todo pensamento é uma mentira; ele está sempre explicando, justificando, concordando, se ajustando, avaliando, julgando um outro pensamento, um outro sistema de crenças, uma outra imaginação. Lidar com o sentimento é o que vocês precisam aprender em Satsang, mas com o pensamento não. O pensamento a gente descarta, como uma casca de banana que você não come e joga no lixo. Você não vai lidar com o pensamento! Eu fico vendo o tempo que vocês ficam ainda lidando com pensamentos. O pensamento você descarta. Quanto ao sentimento, eu até compreendo você dizer “Mestre, sinto isso, sinto aquilo...”, mas você me dizer “eu estou pensando”, “eu acho que”, “eu penso que”, “não, mas eu tenho certeza que”, “eu tenho dúvida”... Como você pode ter dúvida? Como você pode ter certeza, saber o que eu estou falando, tratando com você? Em que nível isto é visto? Só em pensamento, não é?
Mas minha fala não é alcançável em nível de pensamento! Nenhuma é! Em nível de pensamento, são só palavras; pensamentos são somente pensamentos.
Então, a primeira lição é: descarte o pensamento, pois todo ele é uma mentira, e comece a trabalhar essa coisa do sentir. Observe quanto desse sentir tem o pensamento envolvido, é essa produção de uma história “pensamental”, de uma crença, de uma imaginação.
Quando você se encontra comigo, encontra-se com o presente, mas não com o presente do tempo, e sim com o presente fora do tempo. Este não é o presente entre o futuro e o passado, é o presente fora do tempo.
Eu sou Consciência, e não sou diferente do que você É, porém você acredita em coisas que eu não acredito.
Eu não preciso acreditar em nada para ser o que Sou. E você acredita que tem de acreditar em alguma coisa para ser, na verdade, o que você nem é; para viver, na verdade, o que não é real. Não há Verdade nisso.
Aceite todo o prejuízo que o pensamento "contar" para você, pois ele "vai dizer" que você vai perder isso, ou aquilo. É só o pensamento se defendendo, se autoprotegendo; protegendo uma imagem, uma crença, que é a crença de "alguém". É só o pensamento explicando que "alguém" pode sofrer, e esse "alguém" é ele mesmo, pois não tem ninguém fora ele. Então abrace, acolha isso, que aí você fica livre do medo.
Você diz assim, internamente: "ok, eu não me importo". O pensamento "diz" que você vai ser abandonado: ok, eu não me importo; que você não é amado: ok, eu não me importo; que você é bonito: ok, eu não me importo; que você é feio: ok, eu não me importo; que não gostam de você: ok, eu não me importo; que gostam: ok, eu não me importo; que você não merece: ok, eu não me importo; que você merece tudo e não recebe: ok, eu não importo. Tudo história. Tudo pensamento. Tudo isso é uma mentira. Nenhum desses pensamentos é o que Você É.
Você é essa Presença, na qual o pensamento está aparecendo. Você é essa Presença na qual o sentimento e essa sensação estão aparecendo. Então, não se importe com sentimento, nem com sensação, nem com emoção, porque tudo isso, também, não é real. O Real é esse Presente fora do futuro e do passado; o Presente livre da ideia de passado e de futuro. O Real é o que se apresenta. Isto é o Real (silêncio)! O que se apresenta não toca você. O que se apresenta, apresenta-se naquilo que você É, e não pode ferir, beliscar, morder ou espetar você; não pode produzir dor.
*Transcrito de uma fala ocorrida em agosto de 2015, num encontro presencial, na cidade de Recife/PE. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

A felicidade é a natureza da Consciência

Não há nenhum grau de alegria ou realização, em qualquer nível que seja, separado dessa Consciência Divina. A alegria desse copo de cerveja, desse orgasmo, dessa mãe que vê a criança se realizando e, assim, se realiza nela, é sempre uma alegria sagrada, uma alegria divina; é sempre um instante de encontro com o Ser, com a Consciência, com Deus.
E quando é que isso acontece? Quando a mente descansa de sua procura, de sua atividade, de seu movimento, neste espaço chamado Consciência, neste espaço que é Deus; quando a mente, por alguns segundos, por alguns minutos, interrompe todos os desejos, porque o objetivo, o alvo, o propósito está, naquele momento, sendo realizado. Então, o movimento da mente para e a Consciência aflora! Mas logo a mente volta de novo criando novos desejos, dizendo: "preciso de mais preenchimento!" Ela atribui a si mesma a realização disso, e acredita que é nela que essa felicidade está sendo encontrada. Então, ela vai em busca de mais! É simples assim! Ou seja, a busca do prazer, da realização, da felicidade é o que impede a Felicidade e a Realização Real, a Alegria dessa Realização Real.
Esse movimento é o impedimento, enquanto a "aquietação" é a felicidade. Por isso, em toda dor, você vai encontrar o prazer, e vice versa, porque a dor e o prazer estão nesse movimento da mente, enquanto a felicidade está na ausência da mente – que é o que acontece quando a mente silencia no orgasmo, no copo de cerveja, ou na realização de um desejo.
A Felicidade é a natureza da Consciência, é a natureza do Ser, e ela não é temporária. Temporária é a chegada e a saída da mente. Temporário é o movimento da mente, que vem e vai. Então, essa felicidade que vem e vai se apresenta dessa forma só por essa ilusão, que é a ilusão da mente nesse movimento. Em seu Estado Natural, você é Felicidade!
Você não realiza Felicidade, você não experimenta Felicidade, você não desfruta Dela. Você é Felicidade! E como Você é Felicidade, Você está liberto da suposta felicidade em objetos, em sensações, em sentimentos, em emoções. Como você é Felicidade, você não depende de sexo para ser Felicidade; você não depende de cerveja para ser Felicidade; você não depende de prazer sensorial para ser Felicidade. Essa Felicidade reside na Consciência, no Ser, nesta Liberdade do não-movimento da mente.
Por isso é que o Sábio está livre de tudo: porque ele está livre da mente. Estando livre da mente, está livre dessa busca por prazer e preenchimento, que a mente, ilusoriamente, conquista ou realiza nos seus supostos feitos.
A Felicidade é a natureza da Consciência, agora! Agora, Consciência, Felicidade, Presença, Deus, Completude e Amor são sinônimos; palavras diferentes dizendo uma única coisa. Verdade, Realidade, Salvação, Liberação, Nirvana, Felicidade, Bem-Aventurança, Ananda... qualquer palavra. Palavras diferentes, mas palavras nunca dizem nada sobre "a coisa" em si. São só palavras...
*Transcrito de uma fala ocorrida em agosto de 2015, num encontro presencial, na cidade de Fortaleza/CE. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A ação nascida da verdade

A reação que nasce de uma atitude interna, do desejo, é esse movimento da mente na busca de algo que ela projeta como sendo a sua felicidade. A ação natural não nasce de uma premeditação, de uma intenção; não nasce de um pensamento, de um desejo. Há uma energia presente que move, que torna possível essa ação, e essa energia presente é a Clareza, é a Consciência, a Presença, a Verdade. Ela nunca é intencional, voluntariosa, desejosa; ela não procura um resultado, ela acontece... só acontece.
Se a sua pergunta é se você vai ficar inativo, a resposta é não. A ação vai acontecer, mas não será uma ação sua, será uma ação natural dessa Liberdade, dessa Consciência, dessa Clareza, uma ação dessa própria Felicidade. Sendo uma ação assim, não poderá gerar conflito, sofrimento, frustração e perturbação.
Então, a dica aqui é: fique parado, não se mova! Se você ficar parado, não se moverá nessa ação. Não pense! Mova-se e não pense! Esse movimento sem o pensamento é infalível, produz uma ação natural, não premeditada, não planejada por essa ideia de alguém para realizar algo, para obter algo, para conseguir algo. É possível essa ação sem "você". Mova-se sem "você"! Não para dar mil passos, mas para dar o próximo passo. É sempre o próximo passo, o passo seguinte. Com "mil passos" a coisa está muito certinha, contada, calculada; o passo seguinte é só o passo seguinte.
Eu tenho uma pergunta para fazer sobre isso: qual é a coisa mais importante para você fazer, e quando é que você vai fazer? Quer que eu responda? A coisa mais importante é a próxima. E quando? No momento seguinte. Esse é o momento e a coisa mais importante da sua vida, a única coisa que pode preenchê-lo, e por uma só razão: não tem "você"! É infalível porque não tem "você"; é a coisa certa porque não tem "você"; é no momento certo porque não tem "você". Agora acontece tudo, e está acontecendo a coisa mais importante! Mil passos? Eu estou lhe convidando a dar o próximo passo, não mil passos.
Se eu lhe falar: "Vamos dar mil passos!", você vai perguntar: "onde vamos chegar com mil passos?" Mas, se eu disser: "Dê o próximo passo!", você não vai ter essa pergunta para mim. No próximo passo, você não chegará a lugar algum, mas, com mil passos, você chegará em algum lugar. Para o próximo passo, você não precisa pensar, mas, para mil passos, você tem que entender o que está fazendo, saber em que direção está seguindo e para fazer o quê, e também tem que ganhar algo com isso.
Eu amo essa coisa chamada Satsang, porque não fazemos nada aqui. Eu amo essa coisa chamada Satsang, porque a gente não quer nada aqui.
Sobre essa pergunta aí, a resposta é essa: fique quieto e faça a coisa mais importante! E a coisa mais importante é a próxima. Mantenha-se quieto e continue fazendo a coisa mais importante. Quieto, e dê o próximo passo. Quieto, e fale a próxima palavra. O próximo pensamento é o mais importante. Fique quieto! Não em uma sequência de pensamentos, ou em uma história, mas no próximo pensamento que surge, no próximo passo que acontece, na próxima palavra que acontece. Fique quieto! Nada de mil palavras, de mil passos. Não se mova!
O que você acha que eu estou fazendo?
*Transcrito de uma fala ocorrida em agosto de 2015, num encontro presencial, na cidade de Fortaleza/CE. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Ananda, a Alegria do Ser!

Nós estamos falando nesses encontros de algo que significa, para você, sua Real Liberdade, sua Verdadeira Liberdade, que é não sustentar nada, não segurar nada. Se você segura um sentimento, um pensamento, e se encontra uma base na qual você se sustenta, isso mais uma vez lhe escapa.
Isso é como tentar segurar um móvel dentro de um espaço, esquecendo a realidade do próprio espaço, no qual esse móvel aparece. Você se perde quando sustenta um sentimento, um pensamento, uma crença, um ideal, uma certeza, um conjunto de ideias. Você se perde desse espaço, e se situa segurando uma aparição. Quando o espaço está ocupado e você olha para ele, seus olhos se prendem nos objetos presentes neste espaço, e o espaço, em si, é esquecido. Enquanto sua atenção está no objeto que observa nesse espaço, você esquece o próprio espaço; você se perde do espaço, e deixa de reconhecê-lo.
Da mesma forma, acontece quando você se perde de si mesmo, e quando segura um pensamento, uma emoção, uma sensação, uma história, uma lembrança, uma memória, uma provocação. Quando alguém se aproxima de você e o chama de estúpido, se você segura essa ideia, então, de fato, é um estúpido; você se identifica com uma ideia, perde-se de si mesmo, situa-se numa crença e num pensamento. Você é o espaço, mas se perde desse espaço quando se prende a qualquer forma de pensamento, a qualquer crença, conceito, ideologia e imaginação.
Quando nós falamos sobre o sentido do eu, de ser "alguém", estamos falando exatamente disso: de se perder numa emoção, sensação; se perder num pensamento, numa ideia de ser "alguém". Por exemplo, alguém que se perde na ideia de "ser inteligente", que não é a real inteligência, e a crença de "ser inteligente" não é inteligente. Você jamais se ofende com alguém por ele considerá-lo uma pessoa inteligente, mas se ofende quando o considera um estúpido. Você se perde no pensamento, na crença de que é um ser estúpido, uma pessoa estúpida, e fica ofendido, com raiva, aborrecido, mas não quando alguém diz que você é inteligente. Na verdade, você é de fato uma crença e, quando você é uma crença, está dentro de uma limitação. Essa é a limitação do ego, e assim ser inteligente ou ser estúpido é estar em uma crença. Agora mesmo, você é este espaço, este espaço vazio. Neste espaço vazio, os móveis aparecem; os pensamentos, as emoções e os sentimentos aparecem; a ideia "sou inteligente" ou a ideia "sou estúpido" também aparecem.
Quando a Graça o coloca diante desta Presença, este espaço vazio chama-se Consciência! Essa Graça, essa Consciência é exatamente o que estamos colocando: um espaço vazio. A mente e o corpo aparecem neste espaço, bem como as crenças e as descrenças, as opiniões, os julgamentos e tudo mais. A Liberdade de ser é essa Consciência, a Consciência consciente das aparições. Você fica inteiramente consciente.
Quando alguém se aproxima e o chama de estúpido, você está consciente de que não foi você quem recebeu essa nomeação. Se não se prende a essa ideia, você permanece como esse Espaço Vazio, a Real Consciência, a Consciência consciente dessa crença. Entretanto, quando se perde nessa crença, você se situa no tempo e no espaço, como uma entidade separada, alguém que acredita "ser alguma coisa". Há uma grande limitação, que, agora, eu chamo de mediocridade: situar-se na mente, situar-se sendo "alguém", na crença de "ser alguém". Você é inteligente, eu aprecio sua inteligência, e nesse momento você se sente feliz, porque alguém apreciou sua capacidade, sua habilidade, sua destreza, sua capacidade de compreender, de entender, de raciocinar. Quando faz isso, você se situa no tempo, como alguém que acredita ser aquilo que outros dizem "que você é". O ego adora isso: ver confirmadas as suas crenças! Isso, apenas, fortalece em você o sentido de "ser alguém". É o que eu acabei de chamar, agora há pouco, de segurar um pensamento, segurar uma convicção, uma crença, uma ideia.
Algumas vezes eu provoco isso nesses encontros. Eu digo: você é arrogante – e você acredita nisso. Ao acreditar nisso, você abandona esse Espaço que não tem nome, que não pode ser nomeado, classificado, julgado, avaliado. Você abandona esse Espaço e se situa na crença de "ser alguém", e "alguém" arrogante. Porém, o ego não se considera arrogante, mas sábio, inteligente, e isso fere esta autoimagem que você tem de si mesmo, de si mesma.
Percebem isso?
Tudo isso é somente uma crença, e você acaba de se situar numa ideia, que é a ideia de ser arrogante. Então, no ego, nessa crença, nesse hábito, vício, de sustentar ideias sobre si mesmo, você não é real, e sim um joguete de fácil manipulação. Você acredita facilmente em qualquer coisa, mas quem acredita? Essa pessoa, que você acredita ser, é o ego.
Eu estou desafiando você a permanecer jamais tocado por qualquer opinião, julgamento, avaliação, pensamento – os seus pensamentos ou os pensamentos dos outros sobre você. Eu estou dizendo que isso é possível. Não estou dizendo que isso é algo fácil, mas estou dizendo que é possível.
Seu trabalho em Satsang é reconhecer a Verdade sobre si mesmo, e eu estou apontando isto para você! Quando eu aponto para você, eu digo: Você é real. Mas eu não estou falando desse "você" que você acredita ser; eu estou falando do Vazio, do Espaço, deste imensurável Espaço! Estou falando dessa Coisa sem nome, sem forma, que não é arrogante, não é estúpida e não é inteligente. Estou falando Daquilo que permanece como pura Consciência, Presença, Realidade.
Como é que soa isso para vocês?
Não há nada de misterioso nisso... É somente o reconhecimento Daquilo que Você É! Um reconhecimento que não pode ser capturado pelo intelecto, porque o intelecto não entra nisso! Você pode capturar isso, mas não pode prender isso como uma aquisição, também, do intelecto.
Você é o Buda, o Cristo, é a Consciência, é a Verdade! Quando eu aponto para você, eu digo: Você É! Eu não estou afirmando nada. Eu estou dizendo: Você É esse Vazio. Esqueça o termo Buda, Cristo, Deus. Permaneça sem ideias sobre isso, presente aqui, agora, e somente olhe você capturado, mais uma vez, pelo mesmo velho padrão de "ser alguém", que depende da opinião, do julgamento, da avaliação dos outros; da ideia que os outros têm sobre você.
Você pergunta: "sou o espaço onde toda experiência acontece?" Eu estou dizendo exatamente que você é todo o Espaço, não somente o espaço onde toda experiência acontece. Você é todo o Espaço... É somente Espaço. O corpo e a mente são aparições, como as ideias, as crenças, "inteligente", "arrogante" e "estúpido" são aparições, e você permanece aí.
Quando vêm a esses encontros, vocês acham que vão descobrir algo mágico. Porém, se vocês descobrirem algo mágico, será um truque, pois aquilo que chamam de magia é somente mais uma ilusão. Esse Espaço é só o espaço. É interessante falarmos, um pouco, sobre isso. Alguém tem essa coisa chamada despertar, realização de Deus, Iluminação, como algo que vai torná-las pessoas especiais; alguns acreditam nisso. Você não é especial na Realização! Nesta Realização, você "não é"! Quando essa Realização está, você não está! Você não está mais, para ser elogiado ou difamado; não está mais para se ofender, quando lhe chamam de arrogante ou estúpido, nem para se vangloriar ou se sentir especial, quando dizem que você é safo, inteligente, pois isso não faz a menor diferença.
Alguns dizem, já disseram para mim: você é uma fraude. Alguns já disseram para mim: você é o Guruji. Alguns já disseram para mim "eu não acredito em você", e outros já disseram "Você é o meu Mestre". Ok, eu digo para eles. Isso é com eles, não é comigo. EU SOU O QUE SOU e isto continuará assim. Está claro isso, que são somente ideias, crenças? Jamais se ofenda, magoe-se, ou fique triste, com o que pensam sobre você, ou falam de você. Todo e qualquer pensamento é só pensamento, e tem, somente, a realidade que o pensamento tem, nada além disso. Mas, quando você segura isso, isso assume uma realidade para esse "você" que você acredita ser.
Participante: O fato de ser Iluminado, ou Desperto, tem a ver com a alegria interna que jorra do coração, sem necessidade externa ou meios externos para isso?
Mestre: Deixe-me colocar de uma outra forma, dando resposta a sua pergunta, naturalmente. A natureza dessa Consciência, desse Vazio, dessa Presença, é a natureza do Ser, Aquilo que podemos chamar de alegria. Mas, compreenda, alegria de uma qualidade inteiramente diferente da alegria que a mente conhece. A mente conhece a alegria quando ganha um prêmio, um presente, ou passa em um concurso público, numa prova. Porém, esta alegria da conquista, da realização de algo, é uma alegria circunstancial, momentânea; é uma alegria causada. A alegria do Ser, da Consciência, da Presença, de sua Natureza Verdadeira não tem causa.
Na Índia eles chamam de Ananda, que é uma palavra sânscrita para Felicidade – uma alegria sem causa, não dependente, não circunstancial. É uma alegria que não pode ser roubada, tirada de você, porque você é esta alegria. Não é algo que você sente, é algo que você É. A natureza desta Alegria é Ananda, Felicidade, Beatitude.
Quando você está diante de um Mestre vivo, fica claro o que estamos falando: há algo que emana de Sua Presença, do Seu Silêncio; há algo presente em Seus olhos, e por trás da Sua voz; algo que silencia e aquieta você; algo que, também, lhe permite desfrutar dessa mesma alegria de sua Natureza Real, de sua Natureza Verdadeira, Algo que É você. Tudo o que você está para fazer, aqui, nessa vida, é desfrutar desta Alegria, que é a Alegria de sua Natureza Real.
Uma outra palavra para esta Alegria é Amor, que não é algo motivado pela forma, ou ligado a ela; não tem nada a ver, absolutamente nada, com a forma masculina ou feminina, ou com a forma animal. Não é amor às pessoas, aos animais ou às plantas... É algo além da forma... É a fragrância presente em todas as direções, que caminha para todas as direções. Assim, como esta Alegria sem causa, é este Amor sem causa: algo que não tem contrário, não tem oposto, não pode mudar. Você não pode transformar esta Alegria em uma outra coisa.
O Sábio é pura Alegria, é puro Amor, e você não pode entristecê-lo; você não pode fazer isso. Ele não vai amá-lo porque você O ama. Ele vai amá-lo porque Ele não pode deixar de amá-lo. O seu amor é condicional, o do Sábio é incondicional! Sua alegria é condicional, a Dele é incondicional!
É isso. Vamos ficar por aqui. Boa noite!
*Transcrito de uma fala ocorrida em agosto de 2015, num encontro presencial, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Quando você me encontra, você se encontra!

Há um homem caminhando entre as flores do jardim do palácio, e você o confunde com o jardineiro. Mas ele é o rei, e não o jardineiro! Ele é o rei! Não é porque ele está no jardim que você deve confundi-lo com o jardineiro.
No mundo, você não é alguém; é a origem dele! Desse mundo, você não é um habitante, assim como aquele homem não é o jardineiro, mas o rei. O rei parece ser o jardineiro só porque está no jardim do palácio. Você parece ser uma pessoa só porque parece estar no mundo vivendo como alguém. Você parece que nasceu e está vivo no corpo. Caminhando entre as flores do jardim, você também acredita que está vendo o jardineiro, mas ali está o rei!
O que estou dando a vocês é o reconhecimento de quem vocês são! Eu não estou dando isso, de fato, a vocês; estou lhes informando! Informando a vocês que o mundo aparece quando os olhos têm luz para vê-lo, e a luz desse mundo, onde ele aparece, é Você!
Então, não é você no mundo, é o mundo em Você! Então, não é o jardineiro no jardim do palácio, mas é o rei no jardim do seu palácio, parecendo ser um jardineiro.
É o que eu posso lhe dar. Posso apenas lhe mostrar o que já está muito claro, mas você está olhando para outra direção. Eu estou apenas apontando a direção Real, que lhe possibilita ver a Verdade. Você não é o corpo e não é a mente, que são como a aparência do jardineiro, que oculta a presença do rei para olhos desatentos. Um pouco mais de atenção e você vai reconhecer quem está ali, quem está aí. Um pouco mais de atenção e você vai reconhecer que não é você que está no mundo, é o mundo que está em Você! Não é você que está no corpo, é o corpo que está em Você.
Será que isso é um ensino? Eu vou lhe dizer qual é o meu ensino: não há nenhum ensino, não há nada para aprender, não há nada para saber. Esse é o meu ensino! O meu ensino diz: não há nenhum ensino! E vocês ainda acham que vieram aqui aprender alguma coisa? É só a atenção de ver que quem caminha no jardim é o rei, e não o jardineiro. É só a atenção para perceber que você não está nesse mundo, mas esse mundo, esse corpo e todas as aparições surgem em Você.
No Cristianismo, chamam de Salvação; no Zen, chamam de Vazio; no Budismo, chamam de Nirvana. No Cristianismo, eles têm uma aproximação positiva e falam do Reino dos Céus; no Budismo, eles têm uma aproximação negativa e chamam de não-mente, não-eu, vazio.
Isso é um ensino? Não! É só um novo modo de olhar. É o que você está recebendo aqui: um novo modo de olhar. Eu não estou lhe dando olhos para ver, eu sou apenas um dedo que aponta a direção para a qual você se volta para olhar, com seus próprios olhos que já estão aí, para ver que não há jardineiro, que há só o rei caminhando no jardim do seu próprio palácio.
Se há um jardim grande, com um homem que esqueceu o que está fazendo ali, que esqueceu quem ele é, este pode ser facilmente convencido de que é o jardineiro e que possui qualquer nome que digam a ele. Então, ele se convence fácil e rapidamente do nome e de que ele é o jardineiro, porque seu ambiente é o jardim, um grande jardim. Ele começa a se comportar como jardineiro, a trabalhar no jardim e, depois de certo tempo, assume realmente aquilo, assume ser aquela pessoa, com aquele nome, ser um jardineiro. Mas o fato é que aquele jardineiro não é um jardineiro, e aquele nome não é o nome dele. Ele não é ele, mas não sabe disso, ele se esqueceu. O jardim é muito grande, e ele se considera o jardineiro no jardim do palácio do rei. Contudo, na verdade, ele é o rei, apenas caminhando em seu jardim. Ele se esqueceu de quem era, e agora está convencido de que é o jardineiro e que é uma pessoa comum. Ele jamais vai voltar ao trono enquanto estiver esquecido do fato de quem ele é.
Quando você vem a Satsang, não vem para ser livre, para se iluminar, para "realizar Deus", para "realizar a Verdade", mas para descobrir a Verdade que Você é, o Deus que Você é, a Liberdade que Você é. O único trabalho que eu tenho aqui é lhe informar quem Você É, é fazê-lo lembrar de quem Você É.
Você se comporta como um jardineiro no jardim do palácio do rei, enquanto você é o rei apenas passeando no jardim. Você acha que um homem que passeia pelo jardim, apesar de ter se esquecido de que é o rei, se torna, de fato, um jardineiro? Se você se esquece de quem é, deixa de ser quem é?
Você acha que vem a Satsang para encontrar Deus. Todos estão fazendo isso! Há muito tempo, em todos os caminhos da busca, você quer aquilo que, na verdade, a mente projeta como o ideal, como o objetivo, como o alvo da conquista, o alvo da realização, da iluminação, do amor, da paz, da felicidade, o que, na verdade, é um grande esquecimento.
Meu trabalho com você não é lhe dar o que Você é, mas lhe ajudar a lembrar do que Você é! Você se confunde com pensamentos, sensações e sentimentos; despreza o que Você É nesse autoesquecimento acerca de si mesmo. Você se comporta como jardineiro, acorda como jardineiro, dorme como jardineiro, fala como jardineiro...
Eu tenho algo para dizer a você: o vazio é sua Natureza Real; o vazio é o rei! Assuma seu trono! Um rei sem trono não domina, é só uma pessoa comum. Assuma o trono, domine-o! Um Buda fala como um rei, olha como um rei, caminha como um rei, se assenta como um rei, reina como um rei.
um homem simples: andava com uma bengala, uma espécie de tanga, como diríamos aqui no ocidente, e uma pequena vasilha para carregar água enquanto caminhava, dando suas voltas na montanha. Nesse pequeno quadro, dessa pequena parte do mundo, ali estava um rei, com os pés no chão, subindo a montanha. E é assim até hoje. Na Índia, todos sobem a montanha e ninguém usa tênis; todos de pés descalços.
Se você sabe quem Você É, não importa a pequena parte do mundo onde você se encontra, ou que tipo de roupa você está vestindo, ou que tipo de comida está comendo. Você come como um rei e se veste como um rei.
Meu trabalho no Satsang com você é fazê-lo reconhecer quem Você É. Estou aqui para lhe dar Consciência. Você está dormindo! A natureza da mente é tal, que ela está completamente esquecida da Realidade, da Consciência, nesse seu sonho. Eu não vou lhe dar Consciência, eu vou fazê-lo lembrar de sua Natureza Real!
O homem chamado Ramana Maharshi caminhando de pés descalços, dando voltas na montanha, recebendo outros que queriam estar com ele, era um rei que tinha como trabalho mostrar a eles quem eles eram. Meu trabalho é o mesmo! Há relatos de alguns que diziam que mesmo o sorriso da mais linda criança diante de Ramana ficava pálido, tal era a beleza daquele sorriso. O sorriso de um rei!
Nesse mundo de autoesquecimento, o valor todo está na exterioridade, nas aparências. Oculta sob as sombras, está presente a silenciosa luz autofulgente de pura Consciência, de pura Presença, de pura Realeza.
Como é estar aqui? Como é poder se deparar com essa alegria e esse reconhecimento?
Somente quando a ideia de ser alguém vai embora é possível esse reconhecimento. Só então o rei se reconhece como esse vazio, e volta ao trono. E quando ele está de volta ao trono de sua realeza, o autoesquecimento vai embora, o medo vai embora, a ilusão da separação vai embora. A natureza desse vazio – que é o rei de volta ao trono, ao reconhecimento de sua realeza – é alegria pura, felicidade pura!
Então, não se esqueça disso: a Verdade está sempre presente Naquilo que Você É, quando você reconhece isso. Quando você não reconhece, isso é mera teoria. Pare de me ouvir e viva o que estou dizendo!
Todos estão ouvindo alguma voz, alguém dizer algo em algum lugar, mas isso não tem valor algum! Não quero que você me escute, quero que você se assuma como o Vazio, que se assente no trono, o domine e reine!
A felicidade de estar diante de um Mestre vivo é a alegria invisível de poder se reconhecer como Deus, como Consciência, como Verdade, como Vazio! A felicidade que gera em si uma grande realização! Poder reconhecer a Verdade presente nos olhos de um Mestre vivo é chamado, na Índia, de Darshan. Darshan é ter uma visão de Deus! Na Índia, sinceros devotos ficam loucos por isso, apenas por ter uma visão de Deus. Quando o Mestre está muito doente, seu corpo muito debilitado e não pode receber visitas, passam apenas para dar uma olhada por poucos minutos ou segundos; fazem uma fila e passam só para ter o Darshan, para ter um olhar de Deus.
Sabe o que significa isso? Significa poder lembrar que o jardineiro não é um jardineiro, não é alguém que cuida do jardim. É a possibilidade do jardineiro reconhecer que o que disseram para ele não é real. Ele não é fulano de tal, o jardineiro é o rei naquele palácio, e aquele jardim também é dele.
Como é vir aqui? Olhar para mim, se permitir que eu olhe, ter o olhar para você? Você consegue ver o mar e as ondas quebrando nas pedras, debaixo dessa luz do sol? Você percebe que a visão do mar com suas ondas quebrando nas rochas, ou se desmanchando na praia, na areia, é também um momento de Darshan? Por quanto tempo você mantém a lembrança desse silêncio, dessa graça, dessa beleza diante do mar? Quando você está aqui, o que é que lhe falta? Eu sou o mar, olhe para os meus olhos e você vai ver as ondas quebrando contra as rochas. Eu sou sua praia! Nós nos encontramos! Eu deságuo em você e você em mim! O rio que se encontra com o mar e o mar que se encontra com ele mesmo.
Não vê que eu sou esse "Eu Sou" que Você é? Você não fez uma viagem da sua cidade para estar aqui no Rio de Janeiro para ver o mar, mas você fez essa viagem para me ver. Você veio se ver! Você acha que a beleza do mar está fora daquilo que Você é? Você acha que encontra essa beleza viajando para alguma cidade? Você acha que essa é uma alegria que está fora de Você, para ser encontrada no prazer de surfar, ou de navegar, velejar, viajar ou ir para algum lugar? Não! A beleza é a sua Natureza, a única Felicidade Real! E quando você me encontra, você se encontra!
*Transcrito de uma fala ocorrida em agosto de 2015, num encontro presencial, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A verdade não pode ser encontrada, porque ela não está oculta

Todo esse espaço só tem um único preenchimento. É um espaço no qual o preenchimento é a própria Presença. Porém, essa Presença que preenche esse espaço ainda é o espaço. Esse espaço não é um espaço, é a Presença, e é na Presença que esse espaço aparece.
Alguns de vocês, às vezes, me trazem perguntas como essas: "Por que o ego? Por que o sentido de separação? Como isso surgiu?" Isso que incomoda tanto é somente uma ilusão da qual a mente quer se livrar – mas a mente é essa ilusão. A ilusão de ocupar um espaço que, na verdade, a Presença ocupa, e não o ego, o sentido de separação. Para essa pergunta, a resposta é: Investigue a natureza da ilusão e você logo descobrirá que, quando a ilusão é investigada, ela não é encontrada, porque ela não está ali. Vá até as raízes do "eu", do "mim", do "ego", e você vai descobrir que as raízes não estão em nenhum solo, em nenhum terreno.
A própria Consciência, a própria Presença, se volta para Ela mesma nessa investigação da natureza da ilusão, e tudo o que Ela encontra é Ela própria. Não há nenhum ego, não há nenhuma ilusão, não há nenhum sentido de separação.
A verdade não pode ser encontrada, porque ela não está oculta. A ilusão não pode ser desfeita, porque a ilusão não é, nunca foi e nunca será! Assim, o que cumpre a você, nesse momento, é ir até as raízes dessa suposta identidade separada, desse suposto "eu", desse suposto "mim", dessa suposta pessoa que você acredita ser, porque tudo o que permanece é Aquilo que sempre esteve presente: essa Presença, essa Consciência, essa Verdade. Deus é a única Realidade, é a única Presença presente nesse espaço, e esse espaço é essa presente Presença, que é Deus. Você é Isso! Só tem Você!
Você é o princípio e o fim. É o meio também. Você é o alfa e o ômega, a primeira e a última letra do alfabeto grego. Você é antes do princípio e depois do fim. Você é Brahma, e é também Parabrahma. Você é Deus, e é além de Deus. A natureza da Realidade e a Presença presente neste espaço. Nenhuma aparição é possível fora desse espaço de Presença que é Você, que é Consciência. Então, não se importe com aparições, não se embole com aparições, não se confunda com aparições, não agregue valor a essas aparições, e você está livre! Você já está livre! Permaneça em seu estado inalterado de Ser: Consciência, Presença, Deus! Você já é livre! Você é Isso! Essa Liberdade de ser o que Você é, é Amor, é Paz, é Verdade, é Sabedoria, é Graça, é Felicidade. Felicidade é outra palavra para Amor. Outra palavra para Amor é Graça, que é outra palavra para Consciência, que é uma outra palavra para Deus, que é uma outra palavra para Você. Você é Deus! Não lhe informaram, e Eu estou aqui para lhe informar.
A religião lhe ensinou que você é um miserável pecador. Eu digo que Você é a pureza das purezas, e sua Presença santifica até demônios, porque Você é Deus! O perfume desta Presença, que é Você, preenche esse espaço de aparições. Você não precisa fazer nada para ser o que Você é, mas qualquer coisa que você faça vai lhe criar uma ilusão: a ilusão de que você é autor de ações, fazedor de coisas, uma pessoa no controle.
Em seu Ser, em sua Natureza Real, você não perturba essa Paz, porque essa Paz é você. O desejo, o esforço, a vontade, qualquer movimento para trazer paz a Isso que Você é, perturba essa Verdade simples e natural. Então fique quieto e não perturbe essa Paz! Ela já está aí! Meditação é seu estado de Paz, não agitado, não perturbado, não violentado pela vontade, pelo desejo, pela imaginação.
*Transcrito de uma fala ocorrida em julho de 2015, num encontro presencial, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

sábado, 22 de agosto de 2015

A chave para a real libertação

O Guru, o Mestre, destrói absolutamente todas as suas crenças, inclusive, e principalmente, aquelas das quais você não tem nenhuma consciência que estão aí: todos os tabus, preconceitos, paradigmas, conceitos formados; todos os condicionamentos, absolutamente todos!
Você só é livre na sua Natureza Real. Enquanto houver uma sombra de mente, a ilusão está presente, o medo está presente. O meu trabalho, aqui, com você, é lhe mostrar o que significa ser absolutamente livre!
Aquele que é absolutamente livre não pode mais ser capturado pelo mundo, nem por este mundo, nem pelos outros mundos. Na verdade, estes outros mundos são, todos eles, um mundo da mente egoica, que cria um corpo, ou um veículo, para se expressar no "seu" mundo – o mundo de suas realizações, de suas conquistas, de seus desejos. Então, não importa que qualidade tenha esse mundo, porque, por ser fabricado pela mente, ele é uma prisão do próprio ego e algo construído por ele.
No ego, nessa ilusão, você está vinculado ao objeto do desejo: a família é um objeto do desejo; bens materiais são objetos do desejo; a busca da autoafirmação e do autopreenchimento, desta ou daquela forma, é objeto do desejo. Essa vinculação cria necessidades ilusórias para uma suposta identidade. É a ilusão do desejo, do prazer, e de encontrar preenchimento no objeto. Seu "amor" é uma prisão e não precisa ser inteligente para perceber isso, porque, quando esse amor é afastado, a dor está presente. Se a dor está presente naquilo que você chama de "amor", é apenas mais um objeto vinculado ao autopreenchimento; é mais um objeto do desejo.
Todas as relações que vocês têm, sem exceção, são armadilhas da mente; algo criado pela mente para satisfazer e preencher a si própria.
A mente, em sua prisão, vincula-se a uma autossatisfação egoica, se preenchendo nessas, assim chamadas, relações. Há relações com coisas, seja com o carro, a casa de praia, o apartamento; seja com um presente que ganhou, um jarro, um jogo de talheres de prata, ou com joias. Há a relação com espaços geográficos, essa forte necessidade de se preencher estando em lugares especiais, em ambientes especiais, fazendo a diferença no que você sente estando no campo e na cidade; você gosta desta cidade e não gosta daquela outra; ou nesta daqui você se sente bem, na outra sente-se mal.
E há a famosa relação com gente, e com animais, também. Existem aqueles que não gostam de pessoas, não gostam de gente, mas amam os animais; como, por exemplo, aquela madame que cria quinze cachorros, mas não suporta crianças.
Aquela senhora que tem quinze cachorros sabe que nenhum deles vai ofender o ego dela; podem até irritá-la, ao fazer xixi, ou cocô, e ela ter que cuidar disso, mas não irão irritar o seu ego a nível pessoal – isso não vai afrontar a pessoa que ela acredita ser. É assim a relação com animais, ambientes, espaços, lugares: enquanto eles nos oferecem algo, nós queremos. É assim a relação com coisas: enquanto há prazer, você guarda aquilo; quando para de lhe dar prazer você despreza. Todas as relações são assim, e assim são as relações pessoais.
Não há verdade, não há liberdade, não há amor em relações humanas; só há medo, e esse medo se expressa na ambição, na posse, no domínio, no poder etc. Eu sei que é um quadro triste, negativo, mas é assim. Você não pode ter nada além disso, neste mundo construído pela mente, pelo ego; estou falando deste mundo que a mente egoica produz.
Chamei isso de "labirinto da mente": não tem entrada, nem saída; um labirinto sem porta... só um labirinto. A mente é somente um labirinto sem entrada e sem saída.
Talvez você, escutando isso, não veja o quanto isso é prático, mas isso é absolutamente prático. No pensamento, você pode buscar uma resposta, ou pode desistir do pensamento e nunca mais confiar em nada, que se passa aí dentro, produzido pela mente. Aí, nesse momento, você deu um salto em sua sadhana, em seu trabalho do despertar.
Eu tenho esse primeiro passo, como o último passo. Você não tem que dar mais nenhum passo, só esse: nunca mais, absolutamente nunca mais, confiar em construções mentais.
Todo pensamento na sua cabeça é uma mentira, porque o pensador por trás dele está mentindo; todas as certezas e incertezas, avaliações e conclusões, também. É uma mentira toda confiança que se dá nessas relações diversas, com coisas, pessoas e lugares; com sentimentos, emoções e pensamentos. Ou seja, todas as relações ligadas e atreladas a essa ilusão básica: a mente é uma falácia; tudo nela é uma mentira.
O que há de positivo nisso, em toda essa abordagem, que nos parece, tão negativa da vida? O que há de positivo nisso é que o agricultor, antes de semear a semente, tem que limpar, afofar e adubar a terra, além de tirar as pedras, deixando-a preparada para que a vida possa florescer, que a semente possa germinar ali.
O que há de positivo é que a gente tem que limpar o "terreno", e é só o que a gente faz em Satsang: limpar o terreno, tirar o lixo e escombros, pois está ruindo, caindo, desabando tudo, e não podemos fazer nada. A gente vai tirando o que já desabou, caiu, vai limpando e fica olhando para aquilo que está caindo, desmontando, porque, ainda, não caiu tudo. Parece que a cada Satsang você tem uma surpresa com você mesmo, vendo o quanto ainda tem preconceitos e crenças instaladas no sistema, na "máquina"; os "programas" não podem rodar com facilidade, está cheio de vírus, e em cada Satsang você percebe o que está emperrado, o quanto ainda tem coisa emperrada aí. Parece que você tem que se dar tempo para ver isso.
*Transcrito de uma fala ocorrida em junho de 2015, num encontro presencial, na cidade de Fortaleza/CE. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Viciados no conflito, viciados em ser alguém!

Você, como o "alguém" que acredita ser, gosta muito de sofrer. Como o "alguém" que acredita ser, você busca sofrimento, porque isso confirma que você é alguém. A alegria não é interessante. Reparem que o que mais vende, o que mais é popular, o que mais atrai, é o conflito, é o drama, é a dor, é o sofrimento.
Isso é fácil de ser observado. Isso dá importância a uma nação! Como os políticos governam? Dando importância aos seus governados, e para dar importância aos seus governados oprimem. Então, a nação se sente importante quando está sob opressão; ela se sente viva.
Tudo que o oprime lhe dá um sentido de vida muito especial. Você não consegue ficar numa relação com o outro sem conflito – seja uma relação amorosa ou familiar. Você não consegue ficar bem sem conflitar. O "não-conflitar" vai incomodá-lo tanto, que você vai ter que criar alguma coisa para conflitar dentro dessa relação, para se sentir vivo, para que o outro continue considerando-o como o amor da vida dele, ou dela, nessa relação. E ele, ou ela, também gosta disso. Há uma troca. Isso é facilmente observado nas relações amorosas: você ama quem mais o maltrata, você ama quem o possui, quem tem ciúme de você, quem o domina, quem lhe faz muitas cobranças. Você ama isso! No ego, nesse sentido de ser alguém, é assim que funciona.
O sofrimento lhe dá autoimportância, o faz visível, o faz vivo. O silêncio, não; o não-conflito, não; a paz, não. Você vai apagando... Você para de brilhar para o outro quando não conflita, quando não exige, quando não cobra, quando não domina. Você vai apagando... Sabe qual é a reação do outro lado? "Você não me ama mais!" "Você deixou de me amar!" "Você está diferente!" "Você está frio!" Porque ego se alimenta de ego, e nada alimenta mais o ego, nada é mais "proteico", é mais "vitaminado" do que uma "sopa de legumes de conflito", de cobranças, de exigências, de domínio! Ego adora isso! Isso lhe dá vida!
Vai ficando cada vez mais difícil continuar cheios de amigos, cercado de relacionamentos, porque essas pessoas estão com você por lhes dar o que eles querem. Você tem opinião para dar – que é o que produz conflito na relação – você tem exigências, ideias, discordâncias... E quando é em um nível mais íntimo, como uma relação conjugal, isso vai chegando a um ponto inacreditável, como o de agressões físicas! Tem coisa que o ego goste mais do que ser agredido fisicamente? São padrões de ego, padrões de fortalecimento de autoidentidade... Tem ego que adora apanhar, fisicamente mesmo! Homem que gosta de apanhar da mulher e vice-versa. Esse subjugar, esse ferir, isso se vê em tudo. Nas relações sexuais, por exemplo: uso de chicotes, amarras etc... Isso dá vida ao ego, dá autoimportância. Sem ego, você fica invisível para o outro, e aí não é mais interessante. O ego precisa de pancada, cobrança, exigências, para se sentir vivo.
Participante: Mestre, nessa ausência de conflito, o outro o vê desaparecendo, e você também se vê desaparecendo. E isso é mais insuportável.
Mestre: Pois é, fica insuportável estarem em silêncio, estarem sem conflito. Vocês precisam perder esse vício. Vocês estão viciados no conflito, viciados em ser alguém.
*Transcrito de uma fala ocorrida em julho de 2015, num encontro presencial, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

É preciso uma entrega, um foco, uma energia total nisso!

Esse contato com um Mestre vivo vai lhe dar Liberdade, Paz, Amor Real, Felicidade Real, mas Ele não pode fazer isso – embora somente Ele possa fazer isso – enquanto o poder estiver presente, o poder dessa suposta entidade presente aí.
Então, não se engane. Ele vai, primeiro, ter que despir você desse poder, disso que lhe investe de autoridade para ser "alguém". Tudo o que está investindo você da autoridade de ser "alguém", ele vai ter que despi-lo. Você não decidiu vir, mas você pode ainda se manter, por um tempo, naquela tão comum e habitual resistência ao movimento da vida. E a vida nesse movimento, neste instante, para você é o movimento da entrega: a entrega do poder. Na sua vida, há toda uma ornamentação que investe você de poder e lhe dá essa credencial de ser "alguém" no mundo. O trabalho de um Mestre é tirar isso, porque isso é o peso de ser uma pessoa. Aqui, você precisa perder o medo, soltar o medo, porque, se você não soltá-lo, ele, que é a estrutura na qual o ego e o sentido de "alguém" se apoiam, não vai ruir, nem desabar.
Despertar, realizar Deus nessa vida é para alguns poucos. O Bhagavad Gita diz algo semelhante a isso: "De um milhão que me procuram, mil me encontram, e, desses mil, um se realiza em mim." Você não está aqui numa corrida, disputando com outros; você está aqui para ir além desse "alguém" que você acredita ser. Se você quiser algo mais light e dietético, vá assistir a vídeos de outros acordados, ler livros desses mestres, e ver um mestre a cada seis meses..., mas nesse trabalho real o medo tem que cair.
Nesse trabalho real, como o meu Guru me mostrou, é preciso uma entrega total, um foco total, uma energia total direcionada a isso, todos os seus recursos nisso. Você está aqui apenas para isto: Realizar Deus. Todo o seu tempo, toda a sua saúde, todo o seu dinheiro, toda a sua emoção e toda a energia, antes dispensada para um intelecto, preocupado com busca de informações, troca de opiniões, e julgamentos, tudo isso deverá voltar-se para essa realização. Isso terá um preço; o que eu tenho para lhe dar não tem preço, mas o que você tem para me dar vai ter um preço, custar-lhe algo, ou melhor, vai lhe custar tudo!
Essa estrutura de ser "alguém" está montada no poder, naquilo que lhe confere poder. Então, tudo na sua vida que lhe confere poder, o poder de ser "alguém", diante de um Mestre vivo tem que cair. Por isso, o que eu tenho para lhe entregar não tem preço, mas o que você tem que me entregar tem que ter um preço. Se não estiver disposto a fazer isso, essa estrutura de poder se mantém, o ego se mantém, a ilusão se mantém e não há Deus, não há Realização.
Por isso que Buda, Jesus, Ramana e todos os outros falaram, apontaram para esse desistir do poder de ser "alguém", assentado no dinheiro, na saúde, enfim, em qualquer outra coisa. Onde a estrutura de ser "alguém" estiver assentada, essa estrutura vai ter que ser explodida pela dinamite da Graça. Por isso, o tema de todas as minhas falas, pelo menos das falas mais diretas, dentro de encontros presenciais, todas giram em torno da entrega, da rendição, do se aquietar, do deixar nas mãos de Deus, do entregar à Graça, do sair do controle, do sair do volante, do sair dessa suposta liberdade de comando e ver claramente o quanto você é dependente dessa Presença Divina para cuidar de tudo.
Na prática, a teoria sempre é outra. É fácil se deleitar ouvindo uma fala, mas uma fala não resolve, ler alguns livros não resolve, ver alguns vídeos não resolve...
E, então? O que vocês vão fazer agora?
*Transcrito de uma fala ocorrida em julho de 2015, num encontro presencial, na cidade de São Paulo/SP. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Investigando a natureza da experiência

Esse é mais um encontro onde a natureza da experiência é investigada. Aqui investigamos a natureza da experiência e, ao investigá-la, nós percebemos claramente algumas coisas: a primeira é a dependência dessa experiência de sua Fonte, portanto, a primeira coisa importante é compreender que nenhuma experiência está separada da Fonte.
Nós temos equivocadamente creditado à experiência uma independência que ela não tem, e temos como exemplo disso o próprio pensamento. É interessante notarmos que nós valorizamos o pensamento em detrimento da Fonte, pois, para nós, ele tem muita importância, e uma autonomia, independência e valorização muito grandes. Então, a primeira coisa está neste engano. Em razão disso, você se confunde com o pensamento, porque ainda não está claro que ele não é algo independente. Isso ainda não ficou claro para você.
Não há nenhum pensamento que esteja separado da Consciência, desta Consciência. O pensamento é somente um aparecimento, uma aparição; ele não é independente da Consciência. Então, a segunda coisa aqui é a intermitência, pois o pensamento é algo intermitente, enquanto a Consciência permanece sempre presente. Durante o dia, seus pensamentos estão sempre mudando, mas a Fonte, onde eles aparecem, não muda. Então, os pensamentos são intermitentes, enquanto a Fonte permanece imutável. A Consciência permanece imutável, enquanto os pensamentos permanecem mutáveis e intermitentes.
Portanto, esse é o segundo aspecto claro e importante da experiência, e, aqui, a gente usa o exemplo do pensamento, mas isso pode ser visto, também, em toda e qualquer experiência emocional. Ela não está separada da Fonte, em primeiro lugar, e, em segundo lugar, ela é intermitente, mutável. Um outro aspecto de toda e qualquer experiência, seja um pensamento, uma emoção, uma sensação, é que estamos diante de algo limitado, e o sinal dessa limitação está no fato de poder ser descrito, além de estar centrada em um determinado mecanismo, organismo. A experiência é algo que acontece para alguém, como pensamento, emoção, sentimento; algo muito particular, pessoal, e, portanto, algo muito limitado.
Aqui, investigamos, ainda, o terceiro aspecto muito claro de toda e qualquer experiência. Nosso interesse em Satsang vai além dessa natureza intermitente e limitada, e ilusoriamente autônoma, que é a natureza de toda e qualquer experiência. Nosso interesse em Satsang está na Fonte, que É a Consciência. A Consciência é essa Presença não pessoal, não intermitente, não mutável e não limitada da experiência. Aqui, a sua vida centrada na mente egoica é a vida centrada na natureza da experiência, que é intermitente, mutável e limitada. Aqui está a "pessoa" e você se confunde com isso; você se confunde acreditando "ser alguém", uma "pessoa" vivendo uma vida pessoal, particular, dentro dessa intermitência, mutabilidade e limitação da experiência – aqui está o "eu".
Tudo em sua vida, com base no pensamento, na emoção, no sentimento, na interpretação dada a qualquer sensação, está baseado nisso. Acompanham isso? Essa é só mais uma forma de falar, para você, aquilo que temos falado, e estamos falando, vez após vez, após vez. Palavras diferentes, tratando sempre da mesma coisa, dessa ilusão de "ser alguém", mas de uma forma mais dura, eu diria. De uma forma mais direta eu diria: a ilusão do sentido da "pessoa", presente nesse instante, não é real!
Não há absolutamente "alguém" presente. Essa intermitência,"essa autonomia", essa limitação da experiência estar confundida com isso é somente a ilusão de "alguém", agora, aqui. Não tem "alguém" agora, aqui; não tem você dentro desse corpo, agora, aí. Essa experiência sensorial de ouvir tem exatamente essa qualidade, carrega esses aspectos. Eu aqui enumerei apenas três aspectos, porém, na verdade, há muitos outros aspectos ligados a essa experiência, mas não tem "alguém", agora, aqui, dentro do corpo. Não tem você ouvindo, pois esse ouvir é só uma experiência não separada da Fonte, que é Consciência. A Consciência não sabe nada sobre intermitência, autonomia e limitação; Ela não está interessada, como a mente egoica está, em traduzir, interpretar, tentar fazer ou acreditar poder fazer alguma coisa com isso tudo.
Enquanto você mantém a ilusão desse personagem, que você acredita ser, confundido com essa limitação, que é a limitação da experiência, acreditando ser o experimentador disso, uma "pessoa" nisso, a ilusão se mantém. Então, o sofrimento da pessoa é a ilusão de que a limitação da experiência é a vida de "alguém". Sem a ilusão desta experiência, da identificação com ela, que é supostamente autônoma, intermitente, ilimitada, não há sofrimento, e assim a Vida se revela Naquilo que se apresenta, como Isso que É, como Aquilo que É. Claro isso?
Então, eu lhe recomendo abandonar a ilusão de estar identificado com o corpo e suas experiências. Estar identificado com o corpo e suas experiências é acreditar ser "alguém" presente, e, assim, a vida não é a Vida, é só a "minha vida", e a "minha vida" é ilusão, a ilusão do "eu estou aqui", "eu sou alguém". Desta forma, o que está acontecendo tem sempre que favorecer esse "alguém que eu sou", dar tudo certo para esse "alguém que eu sou", e estar tudo sob o controle deste "alguém que eu sou": "eu não tenho isso, mas preciso ter"... "Eu não ganhei, mas preciso ganhar"... "Eu perdi, mas eu não aceito". E assim nós temos muitos modos de fazer uma aproximação equivocada daquilo que acontece, disto que acontece. Você está viciado nisto, em ser "alguém"; você é uma figura muito importante. Tudo o que aprendeu, até hoje, foi para ajudar você a "ser mais você". Você ouviu muitas falas, leu muitos livros, teve muitos estímulos. Existem milhares e milhares de livros de autoajuda e todos eles estão prontos para "ajudar você" a acreditar em "si mesmo".
Participante: As necessidades físicas e financeiras nos prendem. Há uma identidade pessoal, cheia de responsabilidades e de ocupações. Até posso não me preocupar muito, mas a necessidade de ter dinheiro e cuidar da família, sempre, estão ali. Acho difícil lidar com isso.
Mestre Gualberto: Sendo assim, livre-se de tudo. Livre-se da ideia de que está dentro do corpo, de que é "alguém" presente dentro do corpo. Livre-se da ilusão de ser "alguém". Assim, a ilusão dessas necessidades financeiras e dessa ilusória identidade pessoal, cheia de responsabilidades e ocupações, desaparecem.
Você continua dizendo: "Até posso não me preocupar muito, mas há a necessidade de ter dinheiro e cuidar da família". E eu lhe digo: livre-se da família. Vá além da ilusão de ter alguma coisa, de estar em relação com um mundo do lado de fora, de ser responsável por este mundo; vá além da ilusão de ser dono, proprietário, de alguma coisa chamada família. Livre-se da ilusão de ser "alguém", e aquilo que você, hoje, chama de família continuará aparecendo, mas não mais nessa ilusão de responsabilidade de "alguém" que pode, com seus esforços, ganhar dinheiro e cuidar dela.
Se isso não ficar claro, você continuará dizendo "eu acho difícil lidar com isso" e não é verdade. Não é difícil lidar com isso, simplesmente porque é impossível lidar com isso. O ego jamais pode lidar com algo, ou cuidar de qualquer coisa, porém carrega a ilusão dessa identidade pessoal, cheia de responsabilidades, de preocupações, sendo dona, poderosa, e tendo que ganhar dinheiro e cuidar dos outros, que chama de família. Vá além dessa ilusão de ser "alguém", e a vida cuidará de tudo, como sempre fez, sem a sua autoimportância nisso, sem essa ilusão de ser "alguém" dentro disso.
Você não dá uma única respiração porque pode, ou porque quer, entretanto, mesmo assim, se orgulha de ter o poder de ganhar dinheiro e de cuidar de uma família, composta de uma esposa, de dois, três ou seis filhos. Você não sabe, nem mesmo, se vai despertar pela manhã no dia seguinte, e, mesmo assim, acredita, que é o seu trabalho que lhe dá o dinheiro e o poder de cuidar de uma família. Tudo ilusão. Você não controla, nem mesmo, sua digestão, porém acredita ter o poder controlar o futuro dos seus filhos, de cuidar da saúde da sua família. Você não é dono nem do próprio corpo "que tem", mas acredita ter uma grande família, e uma grande responsabilidade de cuidar dela. Isso é real? Quando fala de necessidades do corpo, ou fala de necessidades físicas, isso é problema seu ou problema da existência? Quem cuida desse corpo, que você diz que "é seu", é a mesma Presença que o faz respirar, ter a digestão, a excreção e tudo o mais.
A única coisa que realmente importa é perder essa ilusão de estar no controle, de ser "alguém" aí. Livre-se da ilusão de ser "alguém", que a vida continua, o corpo continua, a família continua; tudo continua, mas a ilusão de "ter tudo isso" termina. A ilusão de ser "alguém", nisto tudo, termina, porque não há mais "ego", não há mais "eu" ou "mim". Ok?
Sua única obrigação, seu único dever, a única coisa que você, de fato, precisa fazer, é cair fora disso; cair fora de toda essa ilusão. A única coisa que lhe compete fazer, é abandonar o sentido de separação. A única coisa que você está fazendo aqui, seu único dever real, é abandonar a ilusão de ser "alguém". Só há um propósito, que é o de realizar sua Verdadeira Natureza. Ninguém pode realizar Isso em seu lugar, portanto este é o seu único dever: realizar Isso, nesse instante, aqui e agora.
*Transcrito de uma fala ocorrida em 08 de junho de 2015, num encontro aberto online. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

A origem de todos os problemas

Vocês escrevem para mim: "o que fazer com o desejo, com o medo, com a preocupação, com a ansiedade?" O problema não é o que fazer com isso, o problema é: quem está aí tentando fazer alguma coisa? Esse é o problema. Quem está aí, tentando fazer algo? Você não percebe que está fugindo de um perigo por uma porta que é a entrada do mesmo espaço onde o perigo está presente. Você acredita que pode escapar por esta porta, mas ela é a porta de entrada do perigo do qual você quer escapar. Você não está indo para fora e sim entrando ainda mais na situação. O problema todo é que você está procurando, no pensamento, uma solução para o problema criado no próprio pensamento. E quem é que está fazendo isso? Tudo o que você não quer, você confirma como uma verdade para si mesmo quando nega, quando rejeita, quando tenta escapar disso.
Eu vejo frases como essas: "eu não suporto esse ego"; "eu odeio esse ego"; "a mente está jogando sujo comigo". O ego não é seu inimigo. O ego é a ilusão de que você tem um inimigo. "A mente está aprontando comigo..." Não é verdade. É tão curioso esse truque, porque você culpa a mente, o ego, de alguma coisa. Você não percebe que isso é o próprio ego se separando. Você não tem um inimigo. Não há nada acontecendo na sua vida sendo provocado pelo ego. Tudo, absolutamente tudo, é Deus fazendo, para acordar você desse sonho de resistência ao que É, ao desafio, ou à expressão da Vida como Ela é. Ela é assim. Se não há essa separação, não há conflito.
Você se depara apenas com um desafio, com uma expressão da Consciência, para você despertar dentro desta Consciência, nesta Consciência, para esta Consciência... Despertar desse incidente, desse evento, desse acontecimento, que ainda é a Consciência... Despertar para a Consciência como a única coisa. Para cada um, para cada organismo, cada mecanismo, esses "desafios" se apresentam de uma forma: para um é o desafio da saúde, para outro é o desafio do dinheiro, para outros é o desafio do relacionamento, etc. E está tudo no lugar... tudo no lugar. Mas, se você continuar ouvindo o que a mente diz, em sua imaginação, aí dentro da sua cabeça, ou através da boca do outro, que é a mesma mente falando, continuará na ilusão de "ser alguém", sempre com problemas.
Pare de ouvir o que a mente diz aí dentro da sua cabeça, que, assim, você para de ouvir o que quer que a mente esteja dizendo através da boca do outro. Você tem que começar aí em você; tem que parar de acreditar aí no que a imaginação diz; tem que ser livre aí; parar de sonhar aí, e, somente então, poderá dizer para alguém: "você está sonhando, isso é só um sonho. Eu já passei por esse sonho também, e vi que isso era um sonho. Você está nele, mas é só um sonho..."
Isso é um trabalho para cada um de vocês... Um trabalho da Graça, da Consciência, da Presença, do Mestre dentro de você, do seu Guru, mas você tem que ouvi-lo. Você acha que vai conseguir me ouvir sem ouvir o seu mestre interno? Você acha que seu mestre interno está dizendo algo diferente do que eu estou dizendo? Você acha que pode, sem ouvir aí dentro, me ouvir aqui?
E agora?
Se você continuar a acreditar na pessoa que você acredita ser, vai continuar a acreditar em pessoas à sua volta, e se comprometer com elas. Pessoas do lado de fora são tão ilusórias quanto a pessoa aí do lado de dentro. É nesse sentido que esse relacionamento que nós estamos mantendo uns com os outros é uma fraude. Ego não apóia ego, não o ajuda, não torna outro ego sábio, não dá felicidade para outro ego, e vocês "estão" no ego, sendo pessoas, esperando isso dos relacionamentos. Querem até salvar o outro! Vocês querem até salvar o mundo!
Há três dias que o corpo aqui está resfriado, e você vê que a voz está diferente. Agora, o que isso tem a ver com o que Eu Sou? Isso mudou o que aqui? Se o corpo fica febril, com tosse, ou com coriza, ou um mal-estar típico dele, isso é ele, não Sou Eu. Porque a mente diz coisas aí, ela não é sua inimiga, como o corpo não é meu inimigo. O corpo é só uma limitação quando está com uma debilidade. Quando a mente diz coisas aí e produz, em sua fantasia, estados de todos os tipos, ela é sua inimiga, ou está apenas fazendo o trabalho dela? Percebem o que estou dizendo? Quando o corpo está doente, debilitado, qual o problema? O que há de errado com o corpo? O corpo vai morrer mesmo... É a natureza dele, é a natureza da mente. Isso não faz do corpo o seu inimigo; não faz da mente a sua inimiga. Agora, se você se identifica com a mente e se separa, acreditando poder mudar o que ela produz na sua imaginação, aí você tem um inimigo imaginário. E quem tem um inimigo imaginário? Quem? O próprio sentido de "alguém" presente é a ilusão de alguém querendo mudar alguma coisa que não tem conserto. A cada dez minutos, ou quinze, ou cinco, ou três, passa um avião sobre este espaço. Qual é o problema? Eu poderia tornar isso um problema: "isso vai me impedir de ouvir a fala acontecendo"; "vai me impedir de falar e vai quebrar minha linha de pensamento". Eu tenho que ter uma linha de pensamento? Eu tenho que estar aqui ouvindo, criando uma resistência ao fato de que a cada cinco ou dez, quinze minutos, passa um avião para interromper o que é tão importante para eu ouvir aqui? É assim que surgem os inimigos que vocês têm. Todos imaginários... Todos! O ego é esse inimigo imaginário, e cria todos os outros inimigos. Se faz frio, está frio, se faz calor, está calor, se o pneu fura, vou chegar atrasado. Você está lidando com a vida como ela se mostra. Para que colocar um inimigo dentro disso?
Eu posso viver sem conflito? Essa é a pergunta. É possível a vida sem conflito, sem sofrimento? No fundo, vocês estão viciados nisso. Já ouvi até alguém dizer: "ah, deve ser muito sem graça viver a sua vida, deve ser muito estranho viver assim, deve ser monótono viver como você vive". Já ouvi isso. É... deve ser.
O problema com vocês é que vocês querem mudar o que É. Eu não quero, eu estou feliz. Para mim, tudo é Deus... Tudo é Deus e nada é Deus... Nada é Deus, mas tudo é Deus (risadas).
Eu não me identifico com o que acontece. É só um jogo. O que está acontecendo agora, daqui a pouco muda, é outro modelo, outro formato, outra configuração. E daí? Eu estou colocando para você o que você precisa assumir aí, para descobrir o que é viver com sabedoria, com amor, com liberdade, com felicidade. Você faz as circunstâncias serem tão importantes que sucumbe. Quando as situações, as circunstâncias, são alegres, você está alegre; quando elas são tristes, você está triste. O problema não é estar triste ou alegre, o problema é você acreditar que está, aí, podendo mudar o mundo.
*Transcrito de uma fala ocorrida em fevereiro de 2015, num encontro presencial, na cidade de São Paulo/SP. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Um Grande Jogo Divino

A gente acredita que o mundo é uma coisa evidente. A gente não tem esta ideia de que o mundo é uma coisa evidente?

Eu quero dizer a vocês que ele não é evidente. Só é evidente Aquilo no qual o mundo aparece. Você não pode provar a existência do mundo para mim, nem para você mesmo, separado Daquilo que é Você.

É você quem fala acerca da evidência do mundo, não é o mundo que reclama evidência. O que quero dizer é que o que vemos e o que experimentamos não é real, separado Daquilo que é Você. O que estou dizendo é que não existe nenhuma experiência, nenhum mundo separado Daquilo que é Você.

Isto é importante. E por quê? Porque isto desmantela completamente a ideia que temos de que estamos vivos e podemos morrer; que o mundo existe. Nada disso é evidente. Não é uma experiência real. Nascer e morrer não são experiências reais, porque o mundo não é real.

Qualquer experiência que você viva no mundo está dentro desta ideia de que o mundo existe como algo separado de você. Porém, isso não é real, não é algo evidente. É a Presença, que é Você, que dá essa aparente evidência ao mundo e a qualquer experiência que você tenha – inclusive nascer e morrer. A experiência em si não é real.

Você não nasce e não morre exatamente por isso: porque você não existe, como forma, no mundo, e o mundo não existe, também como forma, separado Daquilo que Você É. O que estou dizendo é que só existe essa Presença, na qual tudo parece aparecer e também desaparecer.

Então, não há evidência nenhuma aí, separada Daquilo que é Você. Isso é muito simples. O que estou dizendo é que essa Presença, que é Você, dá realidade a qualquer aparente experiência que você tenha. Estou afirmando que você não pode me provar sua existência apontando para o seu corpo e dizendo "eu estou aqui", pois eu te pergunto: aqui onde? Essa sua localização no espaço e no mundo não é uma evidência para mim. Só é uma evidência para mim Aquilo que Eu Sou, e no Qual você aparece como forma. Talvez você tenha que ouvir isso de novo: o que estou dizendo é que sua altura, largura, seu peso, a cor da sua pele, e qualquer percepção sensorial que você tenha do mundo, só tem uma evidência, que é a evidência da sua Presença.

As percepções e evidências isoladas, bem como as experiências separadas, não existem. O que estou dizendo é que o mundo não reclama evidência de existência; que nenhuma sensação e percepção sensorial reclama evidência de existência – somente essa Consciência, que percebe tudo isso acontecendo. E isto tudo está acontecendo nesta Consciência, não fora Dela. Então, não há mundo fora Dela. Os sentidos – tato, audição, olfato, paladar, visão – nada está acontecendo separado Disso que É Você, que não é uma experiência, nem uma sensação; que não é uma aparição; que não nasce e não morre. Isso põe fim completamente a essa ideia "eu e o mundo".

Não há "eu" e não há "mundo". O som que você escuta, as cores que você vê, as formas, tudo isso que aparece e desaparece, antes de, aparentemente, ser assim, Isso que Você É já É – Isso que não aparece nunca. Por exemplo: nós estamos aqui, mas essa é uma aparição nessa Consciência. Antes dessa aparição aparente, isso já estava presente nessa Consciência. Tudo já está presente na Consciência, até que Ela o manifeste.

Então, não há futuro, como não há passado, para a Consciência, que é seu Estado Natural, atemporal. Estamos aqui, num grupo, e alguém novo chega..., mas isso é só uma aparição. Para a Consciência não separada, para Ela, na qual não há qualquer experiência, não tem nada novo acontecendo; isso não é uma novidade, não é o futuro se desdobrando.

Agora mesmo, estou falando essas coisas aqui, vendo isso com você, mas, na sua Real Natureza, não há nada novo. A mente, que se move na ideia de presente, passado e futuro, tempo e espaço, fica abismada com Isso, tentando entender e ajustar Isso a uma experiência; entretanto, não há como fazê-lo, pois Isso não é uma experiência. O Ser, Consciência, Presença, não é uma experiência.

Presente, passado e futuro não existem. O mundo não existe. O nascer e o morrer não existem. Formas, peso, altura, largura, profundidade... Nada disso é a Real Experiência. Podemos até dizer que o Ser é essa Real Experiência, ou poderíamos, também, dizer que o Ser não conhece nenhuma experiência. Estamos dizendo a mesma coisa, utilizando palavras diferentes. Isso é o fim da dualidade, isso é o fim da ideia "eu sou o corpo, eu estou no mundo".

Agora mesmo, o corpo sente alguma dor ou algum desconforto, mas isso é um corpo; nada disso é uma experiência para a Consciência. É somente uma aparição, porque a Consciência jamais é tocada por qualquer acontecimento – qualquer acontecimento aparente. É um grande jogo Divino. Não tem nada acontecendo, e, ao mesmo tempo, tudo está acontecendo neste presente momento.

O fundamento de tudo, de toda aparição e desaparição, de tudo o que acontece e não acontece, e, ao mesmo tempo, a liberdade de tudo isso, é essa Presença real que é Você, em sua Natureza Essencial, além do corpo e do mundo; e além do "eu", que é só uma ideia que aparece. Nessa noção de "corpo e mundo" tem sempre a ideia de um "eu" dentro do corpo, experimentando o mundo e vivendo sua vida, mas isso não é real.

Ser é a Vida sem opostos. Os opostos "vida" e "morte' são só ideias, conceitos. Paz, silêncio, liberdade, felicidade e beatitude são a Natureza Essencial, não qualidades desta Presença, desta Consciência; são a própria natureza dessa Consciência, dessa Presença. Realização é ser o que Você É – beatitude, paz, felicidade, liberdade. Realização é a verificação do simples, do Natural Estado de Ser que é Você – sua Real Natureza. Não se trata de qualidades suas, mas sim de sua Natureza. Tudo aquilo que vem e vai, aparece e desaparece, e tudo o que pode ser adquirido e será perdido um dia são qualidades, não a Natureza. Qualidades se adquirem, Natureza não se adquire.

O corpo apareceu... vai desaparecer. As virtudes podem ser adquiridas, entretanto aparecem e desaparecem. Aquilo que não é você em sua Real Natureza pode até aparecer como uma qualidade, mas, como não é você, é somente uma qualidade, uma virtude, algo que você ganhou, conquistou, adquiriu; é parte da experiência do mundo, algo sem evidência real.

Real é a sua Natureza, e é Ela que dá a liberdade para que as qualidades apareçam, porém está livre dessas qualidades. Ela dá liberdade para que o mundo e o corpo apareçam, e, até mesmo, para que essa ideia do "eu" apareça. Mas isso não dá evidência nenhuma a nada disso, pois essas aparições são somente aparições. É essa Presença, Consciência, Verdade, que É Você – Aquilo ou Isso que conhece tudo o que vem e vai. Este é o Real evidente.

Não há nada separado Disso. Então, não pode ser conhecido, mas pode conhecer tudo. Repare: Isso não pode ser conhecido, mas pode conhecer tudo, porque tudo só aparece e desaparece Nisso. Assim sendo, tudo o que você experimenta – qualquer objeto, qualquer sensação – nada disso tem qualquer realidade separada dessa Presença, dessa Consciência, na qual a coisa está acontecendo ou aparecendo.

Não há nenhuma certeza de nada, e nem evidência de coisa alguma – nomes, cores, formas e assim por diante. Somente a Consciência é real, essa Presença não experimentada, não conhecida e não explicada, sem qualquer qualidade. Somente essa Consciência é real: O que conhece, sem jamais ser conhecido; O que aí está, sem jamais desaparecer.

É isso aí.

*Transcrito de uma fala ocorrida em dezembro de 2012, num encontro presencial, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Não dê importância aos pensamentos

Existe algo a ser observado aqui. Às vezes, nós nos sentimos incomodados com alguns pensamentos que passam, mas precisamos notar o seguinte: pensamentos apenas passam, circulam. Você não consegue deter um pensamento. Experimente isso! É interessante também colocarmos assim, porque geralmente um pensamento nos perturba e queremos nos ver livres dele, mas, na verdade, também não conseguimos deter um pensamento. Experimente deter, prender um pensamento. É como tentar se livrar dele. O pensamento dentro de cada um de nós tem uma autonomia, uma franquia, uma liberdade. Ele tem uma liberdade de ação, uma liberdade para acontecer. A maneira direta de lidarmos com os pensamentos é não nos importarmos com eles. O que dá energia a determinado tipo de pensamento que nos aflige é essa atenção que damos a ele. Eu não disse atenção no sentido de observar a sua presença, mas uma atenção relacionada a essa coisa de nos ligarmos àquilo que está ali acontecendo, a esse pensamento. Isso dá energia a ele.
A depressão, a ansiedade, o medo, o ressentimento, a mágoa – qualquer um desses sentimentos ou forma de emoção ligada a determinado pensamento – são alimentados quando esses pensamentos são alimentados. Então, a primeira coisa aqui é compreender isso: não dê importância aos pensamentos. Permita que eles sejam apenas o que eles são: pensamentos circulando. Eles têm a franquia, têm a liberdade, a garantia de uma determinada linha de ação, de um procedimento, de uma forma de acontecer. Então, você simplesmente relaxa. E quando eu digo "relaxa", estou dizendo que você é tão profundo, tão amplo, que tem uma dimensão tão extraordinária – algo que nem pode ser dimensionado – que todos os pensamentos, emoções, sentimentos, e o que quer que surja, aparecem aí, NISTO que é Você. E isso não pode perturbá-Lo, porque Você é essa amplitude, essa "dimensão não dimensionada".
O que eu estou colocando aqui é o que nós temos de mais objetivo, prático e real nessa coisa de lidar com os pensamentos, porque tudo isso aparece NAQUILO que Você É. Você é Isso! Você é esse espaço! É como se você olhasse para o céu, o visse cheio de estrelas, e o seu olhar ficasse preso a elas, mas sem perceber que as estrelas estão aparecendo em um fundo, nesse espaço infinito. Seu olhar fica preso às estrelas e perde esse espaço infinito, no qual as estrelas estão. É assim que acontece conosco nessa coisa de lidar com os pensamentos, porque nós nos confundimos com eles, e o nosso olhar fica direto nessas estrelas. Você é esse espaço no qual os pensamentos acontecem. Se a sua atenção, seu foco, sua visão está nas estrelas, você perde o espaço. Descansar em seu Estado Natural é se reconhecer como esse "espaço", no qual os pensamentos, os sentimentos e as emoções, como as estrelas, podem acontecer. Você é essa Presença, essa Consciência Ilimitada, você é esse estado de Ser, no qual tudo aparece. Tudo mesmo.
*Transcrito de uma fala ocorrida em março de 2012, num encontro presencial, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Estou dando a chave para você viver sem ego!

Diante de pensamentos, não se importe com eles -são só pensamentos. A coisa mais difícil não é se livrar do sentido de virtude, mas sim livrar-se do sentido de culpa. Você fica muito mais vivo na culpa do que na virtude. O ego ama muito mais ser culpado do que ser o herói. A culpa demora muito mais tempo para ser desfrutada pelo ego. Ser herói é uma coisa rápida, pois logo todos esquecem. Porém, ao ser culpado você vai poder trabalhar muito por isso, além de ter muito ganho em cima disso.
Participante 01: Quando a gente vê a mente como uma coisa só, fica mais fácil perceber que os pensamentos não são seus. Não são produção "minha."
Mestre Gualberto: Não tem "minha" mente ou a "sua" mente. Só tem a mente. É só a mente. Não é a "sua" mente. Não foi você, pois você é uma fantasia; é essa "pessoa" que se sentiu culpada ou se sentiu mal por isso. Não tem uma pessoa sentindo-se mal por isso; é uma fantasia de "alguém" sentindo-se mal por isso.
Participante 02: Mestre, também não tem "alguém" para sentir vergonha do que pensa, não é?
Mestre Gualberto: absolutamente! Não dá para ter vergonha. Você tem que ser alguém importante demais para ter vergonha disso. Você tem que ser "alguém" muito importante e trabalhar forte por isso, para ter essa vergonha. Ao ser sem ego, você não tem ganho nenhum. Ser ego dá muito ganho; dá o ganho da vergonha, da culpa.
Participante 02: Mestre, esse pensamento vem de onde?
Mestre Gualberto: Esse pensamento vem da mente. De onde vem essa mente? Da Consciência. De qualquer forma, ainda não é problema de alguém particular.
Participante 01: Os pensamentos de culpa, de arrogância, de inveja, libido estão todos passando. Só surge o arrogante, o libidinoso e o culpado quando você se apossa de um desses pensamentos.
Participante 03: Os pensamentos estão passando, mas parece que eles são adequados a cada um, a cada mecanismo.
Mestre Gualberto: Sim, por um tempo, porque há um condicionamento de cada mecanismo para sempre acolher, como essa suposta identidade, esses pensamentos. Se esse vício começa a cair, já não são mais acolhidos, começa a haver uma configuração nova na máquina, e isso para de se repetir. Esse processo para de se repetir, e é por isso que cai, desaparece. Esses pensamentos são viciosos e estão aparecendo para um viciado, mas, se o viciado já não está mais presente, eles vão perder a força, desaparecer, procurar outro corpo. Vai haver um exorcismo aí, porque você, como Consciência, estará exorcizando essa suposta entidade separada. Sem essa entidade separada, os pensamentos são convidados não gratos, porque eles terminam não sendo aceitos, hospedados, e vão desistir de você.
Você não mata o ego. O ego é uma ilusão. Se você para de alimentar a ideia de um ego presente, os pensamentos desaparecem. Você não pode matar o ego, mas pode sustentar a vida de um ego, sustentando pensamentos – pensamentos como esses ou como aqueles.
Estou dando a chave para você viver sem ego. Agora, você tem que usar essa chave. Quanto mais você a usa, mais fácil fica para ela entrar na fechadura; ela amacia. Cada vez fica mais fácil abrir a porta, mas tem que trabalhar isso. Esse trabalho não é seu, porque você não está aí. É um trabalho da Consciência, da Graça, de Deus... um trabalho do Mestre. É um trabalho que acontece naturalmente.
Participante 02: Mestre, quando o Senhor diz que não é um trabalho nosso, eu percebo claramente que não é nosso. Mas a gente constata as coisas acontecendo. Seria a mente constatando isso? Se isso acontece pela mente, ainda, é a mente se analisando?
Mestre Gualberto: Onde o constatar acontece? Será que a mente pode constatar "ela mesma"? Constatar é uma coisa, analisar é outra. Você constata e deixa solto. Se você analisa, você captura, está aí, é o ego – e já foi capturado. O constatar é um trabalho da Consciência. Não é você, é a Consciência. Não é você ego, é você como Consciência.
Então, o trabalho, realmente, é só seu, mas não é do ego, não é da pessoa. Constatar é um trabalho da Graça. Todo o meu trabalho com você em Satsang é exercitar essa chama chamada Consciência. A gente passa dois dias aqui exercitando isso. Amanhã a gente faz um retiro, exercitando Consciência. Exercitar Consciência é só exercitar esse poder de perceber, e isso basta.
Você apenas percebe, não salta sobre esse pensamento, não veste a carapuça. Pronto! O trabalho é esse. Esses pensamentos "vindo" é o que na Índia eles chamam de vasana, que são as tendências latentes da mente. Elas podem ser acolhidas ou podem, apenas, ser presenciadas. Se forem somente presenciadas, elas vão terminar cansando de aparecer e vão desaparecer, porque elas não terão uma casa para se hospedar.
Chega um tempo em que a vasana não bate mais na porta. Enquanto ela estiver batendo na porta, OK!... paciência, paciência e paciência. Chega um momento em que ela não bate mais. Assim é quando você começa a descobrir que sumiu esse ou aquele padrão, mas nem sabe para onde foi. E por que não sabe? Porque você não estava lá... Ele nunca foi seu mesmo. Trabalho de quem? Da Graça, da Consciência ou do Mestre – dá no mesmo. Por isso quando se diz que é o Mestre quem lhe dá a Iluminação, é Ele mesmo. É a Consciência.
Então, vamos lá. Constatar é um trabalho da Consciência. Apoderar-se daquilo que está aparecendo é trabalho seu. Esse "seu trabalho" é o trabalho de ser "alguém", e é aí que fica essa coisa: "me senti mal, me senti bem". Porque passou um segundo, a "coisa" já capturou você... Aí, pronto, começa a análise...
Participante 02: Só que isso é muito rápido. Quando você vê, você já está capturado.
Mestre Gualberto: Muito rápido. Ver um pensamento e não se identificar... Ver uma sensação e não se identificar... Ver uma história e não se identificar... Isso não é trabalho seu, e sim trabalho da Graça. Aqui, você fica dizendo assim: "é muito claro diante do Mestre, é muito claro Isso!". E você pergunta: "por que lá fora não é claro?" – Porque você está muito viciado em "ser alguém" lá fora. E aqui, o poder dessa Presença é tão grande, que isso desmonta e você diz que aqui é fácil e lá não. Aqui, basta Eu olhar para os seus olhos e desmonta, porque há muita Presença aqui.
Sabe aquele fogo que vem queimando tudo? É isso. Você aqui está sob um fogareiro. Eu estou trazendo você para o fogo. Sua mente se distrai, e eu trago você para o fogo. Então, não tem espaço para o ego, porque você não me encontra no ego, você me encontra como Consciência. Você está lidando com a Consciência na forma. E isso é muito atrativo.
*Transcrito de uma fala ocorrida em dezembro de 2014, num encontro presencial, na cidade do São Paulo/SP. Para informações sobre os nossos encontros, clique aqui.

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